Nessa publicação falei um pouquinho sobre o motivo de desejar regressar a Nárnia. Então estou aqui para compartilhar o que consegui perceber sobre o simbolismo dos planetas que o Lewis adicionou, intencionalmente, em cada história de Nárnia. Para esse esforço eu obtive ajuda de dois livros: The Medieval Mind of C. S. Lewis (Jason M. Baxter) e Planet Narnia (
No livro “The Medieval Mind of C. S. Lewis (Jason M. Baxter)”, o autor faz um panaroma percorrendo por intelectuais que influenciaram a Idade Média e que Lewis conhecia profundamente. Um deles é Macrobius, um filósofo platônico que escrevia em latim, cujo trabalho descreveu a ideia da criação do mundo ser uma sinfonia. Por sua vez, essa ideia tem como base o livro “Sonho de Cipião”, do político Marco Túlio Cicero.
Neste sonho há um momento em que Cipião olha para baixo e vê o cosmos se movendo sob seus pés (isso se repete em A Divina Comédia), e então, ele começa a ouvir uma música magnífica, e questiona: “O que é esse som, tão alto e ainda assim tão doce, que enche meus ouvidos?” Seu guia responde: Esse é o som produzido pelo ímpeto e momento das próprias esferas. É composto de intervalos que, embora desiguais, são determinados sistematicamente por proporções fixas. A mistura de notas altas e baixas produz um fluxo uniforme de várias harmonias…”
“Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cânticos.” Salmo 125, 2.
Dei uma pequena pincelada nesse contexto da música porque um dos signos que Vênus rege é o signo de Touro, este por sua vez tem esse símbolo de estar associado a região do pescoço, garganta, laringe, tireoide, língua, cordas vocais. Acho que consigo imaginar o porquê a criação de Nárnia seja tão musical! Pois cantar e, o som ainda ser tão belo, tem tudo a ver com o planeta Vênus. Vejamos alguns trechos do capítulo que antecede a Criação de Nárnia:
“No escuro, finalmente, alguma coisa começava a acontecer. Uma voz cantava. Muito longe. Nem mesmo era possível precisar a direção de onde vinha. Parecia vir de todas as direções, e Digory chegou a pensar que vinha do fundo da terra. Certas notas pareciam a voz da própria terra. O canto não tinha palavras. Nem chegava a ser um canto. De qualquer forma, era o mais belo som que ele já ouvira. Tão bonito que chegava a ser quase insuportável. O cavalo também parecia estar gostando muito, pois relinchou como faria um cavalo de carga se, depois de anos e anos de duro trabalho, se encontrasse livre na mesma campina onde correra quando jovem e, de repente, visse um velho amigo cruzando a relva trazendo-lhe um torrão de açúcar”
É interessante que o canto é o primeiro sinal de algo no escuro, assim como Vênus que se mostra tão brilhante quando a noite começa a cair. Toda a melodia é descrita como bela, uma beleza tão avassaladora que causava uma certa insuportabilidade. Tal descrição lembra-me dos anjos ao aparecerem para as pessoas e sempre diziam: “Não temas”. Às vezes a beleza pode nos causar esse tipo de espanto ou temor, não necessariamente algo admirável como estamos acostumados a pensar. O cavalo, o cocheiro e as crianças são os únicos maravilhados pelo canto. Enquanto Jadis e Tio André a consideram insuportável.
“– Louvado seja! – disse o cocheiro. – Se eu soubesse que existiam coisas assim, teria sido um homem muito melhor.”
“O céu do oriente passou de branco para rosa, e de rosa para dourado. A Voz subiu, subiu, até que todo o ar vibrou com ela. E quando atingiu o mais potente e glorioso som que já havia produzido, o sol nasceu.”
“A terra tinha muitas cores – cores novas, quentes e brilhantes, que faziam a gente exaltar… Até que se visse o próprio Cantor. Então, todo o resto seria esquecido.”
O canto foi o que mais me marcou, mas há outros trechos da Crônica que podemos perceber algo venusiano. Por exemplo, quando Polly e Digory decidem explorar um túnel que dava entrada para as casas da vizinhança, mas eles estavam mais curiosos a respeito de uma casa abandonada. Eles conseguem acessar a casa abandonada e se surpreendem por encontrarem um sótão bem arrumado e mobiliado como uma sala de estar, até que Poly se dá conta de uma bandeja de madeira contendo um determinado número de anéis.
“Os anéis estavam colocados em pares – um amarelo e um verde juntos, um pequeno espaço, depois outro anel amarelo com um anel verde. Não eram maiores do que os anéis comuns, e era impossível deixar de olhar para eles, pois eram muito brilhantes e bonitos”.
Acredito que essa descrição sobre os anéis pode ser utilizada para descrever Vênus. Não sei se você costuma contemplar o céu noturno, mas Vênus é extremamente brilhante até mesmo em um céu afligido pelas luzes artificiais do ambiente urbano. Então imagina como não deveria ser para o homem medieval, que vivia em uma época que ainda não existia a eletricidade, observar este planeta?! Com certeza ele deveria vê-lo brilhando tão intensamente! Essa experiência se tornou incomum para muitas pessoas, somente quem vive longe das luzes artificiais tem a oportunidade de contemplar um céu salpicado de estrelas.
Observei também que há um capítulo chamado de “A primeira piada”, pois Vênus também simboliza o riso porque ele é prazeroso. E o capítulo mais comovente dessa história é quando Digory dá a sua mãe o fruto que ele colheu em Nárnia e que é capaz de curá-la. Este fruto é uma maçã, e mais uma vez podemos notar algo venusiano porque a maçã é uma espécie de planta associada ao planeta Vênus, assim como as demais espécies da família botânica Rosaceae.
Gravei um áudio sobre esse livro, eu acabei falando mais sobre outros aspectos. Então tá aqui o vídeo para quem quiser ouvir.
Obrigada pela visita. ♡