A Raposa disse

“- Que quer dizer “cativar”?
– É algo quase sempre esquecido – disse a raposa.”

O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry.

O ato de interagir com os meus semelhantes não é muito fácil, muitas vezes. Há momentos que não sei muito bem como agir, o que dizer… Às vezes nada falo, pois eu acredito que não é necessário dizer nada. Porém, quem me escuta deseja ouvir algo de mim e eu simplesmente não sei. Assim, algumas relações vão se perdendo ou quase nunca são aprofundadas. O que é uma pena, porque o meu coração parece desejar sempre um encontro de almas… Li uma vez que um dos critérios para se ter bons amigos é a convivência. Então como os seres humanos convivem? Com o diálogo. É neste ponto que falho, pois o tato social não é algo que eu faça com excelência. Não sou o tipo de pessoa que percebe com facilidade quando alguém está triste, por exemplo, e se a pessoa me falar que está tudo bem, eu irei acreditar. Eu realmente necessito que o sim seja sim, e que o não seja não. Do contrário, estarei pensando que está tudo bem.

Tenho pensado tanto nos últimos meses sobre este aspecto e eu ainda não cheguei a uma conclusão. Talvez estas situações aconteçam deste modo devido a este pequeno detalhe da minha personalidade. Em princípio, eu me sinto mal quando acontece. Mas o passar do tempo vai mudando o meu interior como o tempo vai mudando as cores do céu. O cinza vai surgir, entretanto, eu sei que haverá o pôr-do-sol mais incrível, o mais dourado que irá clarear meus olhos e cabelos. E quando toda esta luz me tocar, vou segurá-la como puder, vou gravar na memória como quem fotografa um momento. Lá na frente, serão estas delicadas observações que me permitirão seguir em frente e não desistir, de não permitir que o meu coração se feche. Eu realmente não quero me fechar e guardar um sentimento ruim sobre mim mesma. Eu quero ser boa a quem quiser estar por perto. Por isso, eu preciso ser um pouco boa comigo mesma também. No fim, eu apenas penso que tudo bem não ser excelente em todos os âmbitos da vida… Acho que posso oferecer outras coisas belas ao mundo, afinal, não posso deixar num cantinnho esquecido os talentos que Deus me deu.

Apesar do meu texto não ser semelhante ao encontro da Raposa com o Pequeno Príncipe, mas há algo em comum com o livro de modo geral: as rosas às vezes nos espetam, mas não devemos condenar todas estas flores.

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Honestidade esmagada

Esta reflexão surgiu quando estava pensando sobre a Taylor Swift ter alterado uma frase de sua música na regravação do Speak Now. Estava conversando com algumas amigas, que também gostam muito dela e desse álbum em específico, então falamos sobre como a Taylor se importa bastante com a opinião da mídia e de seu público mais engajado.

Quando ela lançou o clipe de Anti-Hero, muitas pessoas comentaram que ela estava sendo “gordofóbica” porque na cena ela estava se pesando e a balançava apontava para a palavra “fat”. E agora ela mudou uma frase de uma música porque supostamente é um conteúdo “misógino”.

Honestamente, se tratando de um álbum que é sobre assuntos que lhe davam ansiedade, que lhe deixavam acordada na madrugada, pensando sobre seus medos, inseguranças etc, é normal que ela represente a insegurança sobre a sua aparência física. Qual mulher nunca sentiu isso na vida? Quanto a Better Than Revenge, é uma música sobre raiva e vingança, sobre como ela se sentiu por uma garota ter roubado o seu namorado.

Ela foi tão honesta, tão sincera em suas representações porque ela colocou o seu coração da maneira mais crua possível. Mas por causa de um determinado público, que ao meu ver, está sempre sinalizando virtude e se você não seguir conforme as regras do clube, será hostilizado pelo mesmo, esta sinceridade do coração da artista está sendo minado aos poucos. Até que ponto se retratar é uma ação louvável ou apenas se trata de ter a sua honestidade esmagada? Será que agir de determinado modo é o que você é de verdade, ou apenas você está tentando se encaixar em um determinado mundo? Tentando ser aceito(a)?

Enquanto pensava sobre tudo o que gostaria de elencar aqui, que não é exatamente o que ocorre com o trabalho da artista em questão, mas sobre um ponto crucial do ser. Há um livro que gosto bastante, e apesar de não ser uma leitura recente, algo me marcou muito ao ponto de tê-lo muito vívido em minha mente: que a razão de existir é ousar ser. Foi algo que li em Demian, do Herman Hesse. Acredito que esta ousadia vai se perdendo aos poucos quando abrimos mão daquela sinceridade e vamos perdendo a nossa autenticidade.

Em meu interior já opiniei que a Taylor não deveria se importar exageradamente com o que os outros vão pensar dela e de seu trabalho, mas sendo bem honesta, eu não posso fazer isso porque eu também sei como é tentar agradar e nunca conseguir. Eu sei como é se sentir excluída por algum motivo, por ter ousado ser… Eu compreendo essa preocupação dela porque é a mesma preocupação que ronda a minha mente. Houve um tempo na minha vida que eu tentei ser quem eu não era, ou tentei não falar sobre as coisas que eu gosto porque eu queria ser aceita. É um sentimento tipicamente da puberdade, mas eu percebi que ele me acompanha ainda na fase adulta e não é fácil amadurecer porque muitas vezes dói, porque muitas vezes se trata de enfrentar dragões e às vezes estes dragões moram dentro de nós.

Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode. – Demian, Hermann Hesse

Tudo isso me fez perceber que estar rodeada de pessoas que estão o tempo todo desejando parecer bons, acabam se tornando os mais cruéis porque eles não conseguem perdoar nenhum deslize, não conseguem exercer a imaginação e supor que talvez você “deslizou” por algum outro motivo que somente Deus conhece. Qualquer detalhe sobre você será motivo para te pôr para baixo e esta crueldade vem acompanhada com o motivo de tornar o mundo melhor ou qualquer outro motivo que estes consideram elevado ou essencial, eles dizem.

Mas tudo isso não deve se tornar motivo para minar uma alma, e sim para elencar a sublimidade de que ela existe para a bondade, para ser bondosa, semelhante ao nosso Criador. Boécio diz que todos nós buscamos o bem, porém algumas vezes o que pensamos ser o bem é só uma ilusão e precisamos usar a razão, iluminada pela fé, para que a verdade salte aos nossos olhos.

Ainda usando trechos do livro Demian, há uma passagem que diz que a ave sai do ovo e este ovo é o mundo e quem quiser nascer precisará destruir o mundo. Bem, o pássaro é ainda muito frágil quando quebra a casca do ovo, ele não alça vôo de imediato. Nascemos tão frágeis para um mundo que foi feito para louvar a Deus em cada coisinha, embora este mundo nos pareça hostil tantas vezes… Acho que não importa muito quantos anos temos, acho que seremos sempre como uma ave frágil porque sempre haverá situações na vida que irá nos exigir quebrar a casca do ovo, mesmo que um punhado de dedos nos apotem que somos um patinho feio.

 

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The Bestiary of Christ

Pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. – Colossenses 1:16-17

Devemos nos iniciar nas letras profanas, antes de se empenhar no estudo das coisas sagradas. Primeiro devemos aprender a ver o reflexo do sol nas águas cristalinas e, depois, com a visão fortalecida, olhar diretamente para a luz pura. – Cartas aos jovens sobre a utilidade da literatura pagã, São Basílio.

O Bestiário de Cristo é um livro que nos apresenta um maravilhoso compêndio de simbolismo animal. Bem, acredito que esta frase de São Basílio pode ser usada também para ilustrar a importância de aprendermos os símbolos, principalmente para compreendermos melhor certos mistérios da fé. Os símbolos também são um modo de ensinar, afinal eles também possuem o papel de resplandecer uma mensagem. Enfim, creio que seja um bom modo de iniciar neste mundo tão rico e maravilhoso.

Esta edição foi uma encomenda que fiz com a Old Books, uma empresa com o objetivo de imprimir livros raros a partir de um pdf, caso algum leitor sinta interesse em conhecer este trabalho.

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A fascinante lista de listas

O problema da ordem é um problema fundamental na vida do homem. No universo, cada coisa está no seu lugar; tudo se encaixa na ordem imutável das leis cósmicas.” – Jacques Leclercq.

As listas são um grande fascíno para mim. Elas me dão a sensação de pôr ordem no emaranhado de objetos que permeiam a minha imaginação. Além da ordem, agrada-me pesquisar se alguém que admiro também criou alguma lista… Bem, como este blog é repleto de leituras, acho que seria perfeito compartilhar minhas listas favoritas destas pessoas que utilizaram critérios e possuem autoridade. Também irei compartilhar a minha listinha, embora eu não seja nenhuma autoridade, mas quem sabe vale pela simples curiosidade em conhecer algo que recomendo…

Os itens marcados com um “✓” são os que eu já li e marcados com um “♡” são os que moram em meu coração!

Para começar, a lista dos 50 livros recomendados pelo Hayao Miyazaki:

  • ✓♡ O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry (1943)
  • Il Romanzo di Cipollino – Gianni Rodari (1956)
  • The Rose and the Ring – William Makepeace Thackeray (1854)
  • The Little Bookroom – Eleanor Farjeon (1955)
  • ✓ Os Três Mosqueteiros – Alexandre Dumas (1844)
  • ✓♡ O Jardim Secreto – Frances Eliza Hodgson Burnett (1909)
  • O Tesouro dos Nibelungos – G. Schalk (1953)
  • ✓ Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll (1865)
  • As Aventuras de Sherlock Holmes – Arthur Ignatius Conan Doyle (1891)
  • A Norwegian Farm – Marie Hamsun (1933)
  • Konek-Gorbunok – Pyotr Pavlovich Yershov (1834)
  • Souvenirs entomologiques – Jean-Henri Casimir Fabre (1879-1907)
  • Toui Mukashi no Fushigina Hanashi-Nihon Reiiki – Tsutomu Minakami (1995)
  • Ivan, o Tolo – Liev Tolstói (1885)
  • Eagle of the Ninth – Rosemary Sutcliff (1954)
  • ✓♡ O Ursinho Pooh – A. A. Milne (1926)
  • Les Princes du Vent – Michel-Aime Baudouy (1956)
  • When Marnie Was There – Joan G Robinson (1967)
    O Longo Inverno – Laura Ingalls Wilder (1940)
  • ✓♡ O Vento nos Salgueiros – Kenneth Grahame (1908)
  • The Ship That Flew – Hilda Lewis (1939)
  • Flambards – Kathleen Wendy Peyton (1967)
  • O Jardim da Meia-Noite – Ann Philippa Pearce (1958)
  • As Aventuras de Tom Sawyer – Mark Twain (1876)
  • Chumon no Ooi Ryouriten – Kenji Miyazawa (1924)
  • ✓♡ Heidi – Johanna Spyri (1888)
  • ✓ 20.000 Léguas Submarinas – Jules Verne (1870)
  • Os Pequeninos Borrowers – Mary Norton (1952)
  • Devatero pohádeky – Karel Capek (1931)
  • Swallows and Amazons – Arthur Ransome (1930)
  • The Flying Classroom – Erich Kästner (1933)
  • Robinson Crusoe – Daniel Defoe (1719)
  • A Ilha do Tesouro – Robert Louis Stevenson (1883)
  • The Twelve Months – Samuil Marshak (1943)
  • ✓ O Menino do Dedo Verde – Maurice Druon (1957)
  • The man who planted the welsh onions – Kim Soun (1953)
  • Strange Stories from a Chinese Studio – Pu Songling (1740)
  • The Voyages of Doctor Dolittle – Hugh John Lofting (1922)
  • Jornada ao Oeste – Wu Cheng’en (1500)
  • O Pequeno Lorde – Frances Eliza Hodgson Burnett (1886)
  • From the Mixed-Up Files of Mrs. Basil E. Frankweiler – Elaine Lobl Konigsburg (1968)
  • Alla vi barn i Bullerbyn – Astrid Lindgren (1947)
  • ✓♡ O Hobbit – J. R. R. Tolkien (1937)
  • O Feiticeiro de Terramar – Ursula K. Le Guin (1968)
  • O Cavalinho Branco – Elizabeth Goudge (1946)
  • Bylo nas pet – Karel Polacek (1969)
  • City Neighbor: The Story of Jane Addams – Clara Ingram Judson (1951)
  • The Radium Woman – Eleanor Doorly (1939)
  • O Incidente de Otterbury – Cecil Day-Lewis (1948)
  • Hans Brinker ou Os Patins de Prata – Mary Mapes Dodge (1865)

Agora a listinha que fiz:

  • Fábulas – La Fontaine (1668)
  • Beleza Negra – Anna Sewell (1877)
  • O Hobbit e O Senhor dos Anéis – J. R. R. Tolkien (1937; 1954)
  • As Crônicas de Nárnia – C. S. Lewis (1950 – 1956)
  • Contos de Fadas – Hans Christian Andersen (1835)
  • The Last Unicorn – Peter S. Beagle (1968)
  • Virtude Selvagem – M. K. Rawlings (1938)
  • A Princesa Prometida – William Goldman (1973)
  • Em Busca de Watership Down – Richard Adams (1972)
  • Bambi – Felix Salten (1923)
  • A Teia de Charlotte – E. B. White (1952)
  • Mulherzinhas – Louisa May Alcott (1868)
  • Ivanhoé – Walter Scott (1819)
  • Contos – Oscar Wilde (1888 – 1891)
  • A Princesa e o Goblin – George McDonald (1872)
  • Livros Coloridos das Fadas – Andrew Lang (1889 – 1910)
  • O Quebra-Nozes – E.T.A. Hoffman (1816)

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Olá, querido inverno.

O solstício de inverno chegou! Creio que o nosso amigo sol é muito humilde, porque mesmo sendo majestoso e cheio de calor, ele sabe que não é a razão da vida e é nesta época do ano que ele começa o seu declínio, como se estivesse se ajoelhando para a verdadeira luz do mundo, Cristo. Como se utilizasse das mesmas palavras de São João Batista: Importa que ele cresça e que eu diminua.

Sei que estou um tanto atrasada, mas não pude deixar um pequeno registro por aqui. Tenho feito muitas coisas que alegram o meu coração: estudar, passear pela natureza, pintar e desenhar. Porém ando sem criatividade para fazer postagens no Bosque e eu tenho uma forte intuição dentro de mim que isto é consequência de passar muito tempo postando em rede social. Na verdade, não sei ao certo se é falta de criatividade… Eu percebi que penso muito nas minhas idéias e penso ainda mais se irei pô-las em prática… Então eu penso tanto que acabo não fazendo nada! Eu quero me esforçar para mudar isso.

Bem, não quero transformar esta publicação em uma condenação às redes, mas eu tenho tentado passar menos tempo possível nelas e neste curto período já percebi que melhorei em algumas coisas que gosto, por exemplo, na área dos estudos. Acredito que a minha mente começou a ficar menos dispersa, então ajudou muito em tudo o que gostaria de pôr em prática. O que me lembra desta querida aula sobre a vida intelectual & a mulher que assisti recentemente e há como eu concordar mais de tudo o que foi dito e apontado?!

Também estou aguardando ansiosamente pelo lançamento da regravação do Speak Now (Taylor Swift)! Sinto um carinho enorme por ele, porque eu o ouvia incansavelmente quando estava no ensino médio. Eu era meio rockeira na época, mas eu abri uma exceção para a Taylor haha.

Graças a Deus a vida vai calma, na medida do possível. Creio que esta é a primeira vez que não planejo uma postagem. Simplesmente peguei o meu notebook e comecei a escrever isso daqui. Não faço a menor idéia se alguém frequenta o Bosque, se me lê, se sabe quem eu sou… Mas de qualquer maneira, gosto de estar aqui e de fazer o que eu faço.

Então vou deixar aqui uma resolução para este inverno: não pensar tanto, praticar mais!

 

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Odisseia – Homero

“Musa, reconta-me os feitos do herói astucioso que muito peregrinou, dês que esfez as muralhas sagradas de Troia”

A Odisseia conta a história de Odisseu tentando voltar para sua pátria após a guerra de Troia. Embora Odisseu não seja perfeito, ele é o herói de sua própria história. Ele possui muitas virtudes, é corajoso, sábio, assertivo… Mas é por causa de seu orgulho, o que enfurece Poseidon, que a sua tão estimada volta é repleta de dificuldades.

Para melhor compreender o texto, é preciso ter em conta os dois tipos de narrativa que ocorrem: a primeira se passa na Ilha de Ítaca, enquanto a segunda conta todas as aventuras do herói. No começo, há a invocação da Musa para narrar as aventuras. Em outro momento é o próprio Odisseu que está contando o que lhe aconteceu para outros personagens que surgem no decorrer da história. Outras vezes os acontecimentos estão sendo descritos no tempo presente e, por fim, é narrado pelos mortos lá no Hades.

Outro fator importante que o leitor precisa saber é que o poema não é contado de maneira cronológica e os principais pontos são o retorno do herói a Ítaca, a derrota de seus inimigos e a fidelidade de Penélope. Então sabendo disto, não haverá tanta dificuldade em compreender o texto.

Adicionando uma opinião minha sobre do que se trata este poema épico: eu diria que a Odisseia também é, lá no íntimo, sobre os deuses se aproveitando dos infortúnios (ou os provocando) humanos para alcançarem o seu maior objetivo: sacrifícios, mortes, derramamento de sangue etc. A própria Atena comenta que está muito ávida pela justiça (ou vingança) que Odisseu fará quando chegar em casa.

Existem muitos assuntos que são apresentados na Odisseia que podem ser pensados. Sobre o livre arbítrio, os deuses manipulando as ações humanas (igualmente em Troia); os costumes daquele tempo, como os estrangeiros eram sempre muito bem tratados; a glória e a honra, que até mesmo a vingança é vista como algo virtuoso para os gregos.

Voltando para o centro da história, é notório que o coração de Odisseu é movido pelo “nostos”. Na literatura grega, este termo é utilizado para caracterizar um regresso épico de algum herói através do mar. Esta palavra também é usada para designar o processo que um herói vive após a batalha para se tornar marido e pai. O Odisseu quer resgatar isto para a sua vida quando ele ainda não havia partido para Troia.

O principal conflito encontrado é este “nostos” e as forças independentes: Poseidon, Éolo, a ninfa Calipso etc, que dificultam este regresso. Não há extamente um impedimento, pois o Odisseu foi um dos poucos heróis que não cometaram ultrajes contra os troianos, então esta sua virtude, a da misericórdia, lhe proporcionou ter uma fagulha de esperança para voltar para casa e sua família. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão miseri­córdia!” (São Mateus, 5:7). Odisseu também se preocupava em salvar a vida de seus companheiros, porém estes pereceram por culpa das próprias ações insensatas.

Nesta leitura também observei alguns símbolos que são mencionados. Acredito que o mais notório é o da águia. Para os gregos, esta ave representa Zeus, elas são enviadas para simbolizar o combate. Isto acontece no começo do livro quando duas águias se matam; em outro momento Penélope sonha com uma águia matando um ganso; e no final, surge uma águia voando com uma andorinha. Estes símbolos diziam que Zeus estava do lado de Odisseu. O mar simbolizando a dinâmica da vida, pois este pode ser calmo e tempestuoso em diferentes momentos. O cachorro Argos simbolizando a fidelidade de toda a família e a maioria dos servos para com Odisseu.

Minhas cenas favoritas são as seguintes: Penélope costurando de dia e desfazendo a manta de noite para ganhar tempo e não ser obrigada a se casar com algum dos pretendentes. Telêmaco não considerando ser capaz de tomar a liderança, mas ainda assim buscando coragem para sê-lo. Este momento me lembrou muito de Moisés! Gosto muito também quando Odisseu é reconhecido pelo seu cachorro, que já estava bem velhinho e maltratado. Amo muito o encontro do herói com a sua mulher e ela lhe testando para ter certeza se ele era mesmo o Odisseu. Eles formam um casal muito lindo! Por fim, a descida dos pretendentes ao Hades e estes narrando como foi o encontro do herói com o seu pai. Muito emocionante este reencontro!

Acredito que estas são as minhas principais considerações da leitura. Lembrando que eu tenho uma lista de desejo na Amazon, caso algum leitor do blog queira me enviar algum livro para ser falado futuramente por aqui e também se quiser adquirir este livro em uma edição diferente, mas com a mesma tradução e me ajudar a ganhar alguma comissão. Muito obrigada e até breve, se Deus quiser!

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B de Benedito – Alfabeto dos Santos

No início desse ano comecei um novo alfabeto tendo como tema os santos. O primeiro foi de animais (ainda tenho que postar por aqui hihi). A letra A foi para o Anjo da Guarda, acredito ser um dos mais importantes na nossa jornada rumo ao Céu!

A letra B foi agraciada com um santo que teve o privilégio de conhecer o Menino Jesus, ainda em terra, algo dado somente às almas puras. Ele se chama São Benedito.

São Benedito nasceu na Sicília, era filho de Cristovão Manasceri e de Diana Larcan, eles eram escravos vindos da Etiópia. O casal não queria ter filhos para não gerarem mais escravos, então o seu dono sabendo disso lhes disse que se tivessem um filho, daria a liberdade a criança. Benedito nasceu e recebeu a promessa da liberdade. A criança foi educada na fé cristã por seus pais e rezava o Rosário todos os dias, que foi ensinado por sua mãe.

Quando adulto, sofreu uma grande humilhação, por causa de sua cor, e a suportou pacientemente. O líder dos eremitas franciscanos testemanhou esta nobreza de seu caráter e o convidou para fazer parte da ordem dos franciscanos. Benedito aceitou, se desfez de todos os bens materiais e seguiu sendo um eremita franciscano. Um tempo depois, o Papa Pio IV decidiu que os eremitas deveriam se reunir em comunidade, então São Benedito passou a viver em um convento.

Lá dentro recebeu a função de cozinheiro e com o passar do tempo, as pessoas notaram suas virtudes e grande sabedoria. Então ele acabou se tornando um líder, embora a princípio relutasse receber este cargo. Sua fama de sábio era tão forte que até os teólogos o procuravam e ele ensinava a todos, embora fosse analfabeto.

Sua vida é repleta de milagres, dentre eles estão a ressurreição de dois meninos; a cura de cegos e surdos; multiplicação de peixe e pão; este último é o motivo dele ser o padroeiro dos cozinheiros e o protetor de todos aqueles que trabalham na cozinha.

São Benedito faleceu aos 65 anos de idade após padecer de uma doença. Morreu em paz e dizendo “Jesus! Jesus! Minha mãe, doce Maria! Meu Pai São Francisco!”

Ele é representado com o Menino Jesus no colo porque muitas testemunhas o viram em profunda oração com o Menino Jesus em seus braços. São Benedito, rogai por nós!

Ilíada – Homero

“Pois, muito embora refreie os impulsos da cólera um dia, continuamente revolve no peito o rancor incontido”

A Ilíada é um poema épico, atribuído a Homero. É considerada a primeira obra literária do ocidente e que até hoje nenhuma outra conseguiu superá-la. Foi uma história conhecida através da tradição oral, só muito tempo depois foi passada para a forma de poema. Segundo Frederico Lourenço, foi no século VII a.C. que a Ilíada surgiu em poema através de Homero.

O debate acadêmico sobre a origem da Ilíada gira em torno da autoria, mas muitos estudiosos concordam que no início ela foi uma tradição oral e muito tempo após se tornou escrita. Crê que no século VI a.C., uma família da aristocracia ateniense providenciou uma edição oficial da obra em livro. Alguns séculos depois, Aristóteles fez uma nova edição, e esta foi lida por seu aluno mais famoso: Alexandre.

A Ilíada narra uma pequena parte da guerra de Troia, dando ênfase a cólera de Aquiles. “Canta-me a Cólera…”, é a primeira frase do Canto I do texto. Portanto, não temos no texto a história de Páris, a disputa das deusas para saber quem é a mais bela etc. Recomendo os livros do Menelaos Stephanides para ter uma compreensão maior de todo o enredo. A professora Elizabeth Vandiver fez um enredo básico como guia de estudo e acho que vale a pena copiar e colar aqui para quem se interessar:

  1. A mulher mais bonita do mundo, Helena, filha do grande deus Zeus e esposa do grego Menelau, foi raptada pelo príncipe troiano Páris.
  2. Sob o comando do irmão mais velho de Menelau, Agamenon, os gregos reuniram um exército para ir a Tróia e lutar pelo retorno de Helena.
  3. A guerra contra Tróia durou dez anos. A luta foi bastante equilibrada, com cada lado tendo seu guerreiro principal (Aquiles para os gregos, Heitor para os troianos).
  4. Aquiles era filho de uma mãe deusa, Tétis, e de um pai humano, Peleu. O casamento deles foi arranjado por Zeus, e Tétis não estava totalmente disposta.
  5. O maior guerreiro troiano, Heitor, foi morto pelo maior guerreiro grego, Aquiles, que foi morto por Paris.
  6. Finalmente, os gregos recorreram à malandragem. Usando o famoso ardil do Cavalo de Tróia, inventado por Ulisses, eles se infiltraram na cidade murada de Tróia e a saquearam à noite.
  7. Os gregos cometeram muitos ultrajes contra os troianos durante o Saque de Tróia. O mais importante deles foi o assassinato do rei Príamo no altar de sua casa, o assassinato do filho bebê de Heitor, Astyanax, jogando-o das muralhas da cidade e o estupro da filha de Príamo, Cassandra, no templo da deusa virgem Atena.
  8. Esses ultrajes enfureceram os deuses, levando a muitas dificuldades para os gregos sobreviventes em seu caminho para casa. Mais importante ainda, Agamenon foi morto por sua esposa e seu amante quando chegou em casa, e Odisseu passou dez anos vagando a caminho de Tróia.

A Ilíada narra o último ano da guerra e termina até a morte do herói Heitor. O ciclo épico de Homero é narrado em outros textos, mas estes foram perdidos, infelizmente, principalmente na época dos bárbaros que quando saqueavam as cidades, destruíam tudo o que viam pela frente, inclusive as bibliotecas. Então só temos o conhecimento da Ilíada e da Odisseia. Os livros completos são: 1- Cíprias; 2- Ilíada; 3- Etiópida; 4- Pequena Ilíada; 5- Iliu Persis; 6- Nostoi; 7- Odisseia; 8- Telegonia.

Para mim, esta leitura trouxe-me vários pensamentos e reflexões. Como se trata de um texto de milhares de anos atrás, tive que levar a minha mente também para esta época para conseguir compreender. Afinal, é um tremendo erro pôr o pensamento da atualidade para um tempo de tantos anos atrás. Fazer isto tiraria a verdade e seria até desonesto. Muitas coisas despertaram o meu interesse, o comportamento dos deuses, a moral da época e o coração do homem. Eu tentarei elaborar o meu raciocínio por aqui.

O mundo antigo era muito mais brutal se comparado com o nosso. Não existia este conceito da guerra ser algo horripilante e de que os homens se recusariam e a evitaram a todo custo, seria um absurdo pensar desta maneira. Na Grécia, era esperado que todos os homens livres lutassem. O seu sistema militar era extremamente disciplinar e o treinamento ocorria constantemente. Temos acesso de que o próprio Sócrates se orgulhava de seu serviço militar, opondo-se aos persas na batalha. A escravidão também era algo corriqueiro e os escravos eram obtidos nas batalhas, guerras. O oponente que perdia, era capturado como escravo. Os homens, mulheres e crianças eram escravizados e as mulheres jovens eram forçadas a serem concubinas.

Outra diferença que é bastante notória, são os deuses. Eles não se assemelham em nada com o Deus onipresente e onisciente, que se importa com os assuntos humanos, que é misericordioso etc. Os deuses do Olimpo se diferem dos homens apenas por serem imortais. Eles se interessam pelos homens, desde que estes sejam poderosos, reis, grandes guerreiros. Quando se trata de um simples camponês não dão tanta importância, mas estes sempre oferecem sacrifícios para “aplacar a ira dos deuses”. Na Ilíada, os deuses às vezes participam da guerra, disfarçados, para ajudarem os seus favoritos. Mas eles não fazem isso por sentirem alguma compaixão ou qualquer outro tipo de sentimento. Eles agem pelo caos, o caos pelo caos.

Bem, neste momento a leitura se tornou também como uma visão espiritual. Os deuses nada mais são os anjos que decidiram não servir mais a Deus, e sim a Satanás. Os heróis, pelo menos alguns, são os gigantes. “Naquele tempo viviam gigantes na terra, como também daí por diante, quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e elas geravam filhos. Estes são os heróis, tão afamados dos tempos antigos“. (Gênesis 6, 4). E é muito incrível que os deuses se assemelham bastante aos demônios: o caos pelo caos; imortais; podem se fazer passar por qualquer coisa ou pessoa; influenciam os homens etc. Mas este assunto é muito vasto e merece uma outra publicação…

É possível extrair também conceitos morais do texto, como a virtude, a honra e a glória. A Ilíada para a cultura helênica era como a Bíblia para os cristãos. Segundo Werner Jaeger, o conceito de “areté” é o tema essencial da história da formação grega. O significado mais próximo para esta palavra é “virtude”, mas não no conceito moral que temos, e sim como expressão “do mais alto ideal cavaleiresco unido a uma conduta cortês e distinta e ao heroísmo guerreiro”. Como mencionei no começo, a Ilíada é sobre a cólera de Aquiles. Por que ele está furioso? Porque Agamémnone roubou a sua concubina e isso era uma verdadeira humilhação e desonra. A virtude para os gregos está ligada a nobreza e a força física. Jaeger também diz que a honra está intimamente ligado a “areté” e o homem só recebe honra na mesma proporção que a sociedade a que pertence reconhece o seu valor. Se um homem nobre tivesse a sua honra negada ou ultrajada, seria a maior tragédia que poderia lhe ocorrer. Esta honra atinge o seu ápice com a morte física do guerreiro.

Esse conceito de honra era algo muito importante. Assim é possível compreender a fúria de Aquiles, o seu conflito com Agamémnone e porquê não aceitou, a princípio, os incontáveis presentes deste para reparar o ultraje feito, e também a sua indignação contra os gregos que o fez sair da batalha junto com os mirmidões. A “aretê” era tão essencial que a ofensa também se voltava contra quem ofendeu porque quem feria a virtude de alguém, também tinha a sua própria ofendida.

O coração do homem também é algo que chama a atenção. O que mais me marcou foi o Canto VI, o qual ocorre o encontro de Heitor com Andrômaca. Até desenhei um coração no livro de tanto que tocou o meu coração este momento. Quando o herói vê o seu filho, ele sorrir. Esta simples ação é algo que me faz pensar que apesar da guerra ou época, algumas coisas são intrínsecas ao ser humano, como ver o seu filhinho e simplesmente sorrir. O medo de Andrómaca de que o seu marido morra também é algo tão humano e a resposta de Heitor nos lembra de como era o pensamento daquela época em que os troianos se assemelham aos gregos, pois ele também anseia pela glória imortal.

A Ilíada também deu-me vontade de rir em muitos momentos. Acredito que vale a pena sim se aventurar nestas obras da antiguidade, pois há tanto o que ser dito e pensar! Espero que tenham gostado desta pequena explanação e sintam vontade de lê-la, caso ainda não tenham feito. E quem já leu, que sinta vontade de reler porque releituras são sempre maravilhosas! Ah, e agora se você ainda não possui o livro físico e deseja adquirir, faz isto com o meu link? A tradução é a mesma desta edição de bolso da foto, que é do Carlos Alberto Nunes. Lista do Bosque do Robin.

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A Consolação da Filosofia – Boécio

“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” - O Evangelho Segundo São Mateus, 11,28.

Boécio foi um filósofo, poeta, teólogo e estadista romano do século VI. Ele é considerado o mediador entre os períodos da antiguidade tardia e o começo da Idade Média latina, conhecida como “escolástica”. O seu trabalho “A Consolação da Filosofia” influenciou toda esta época que estava para surgir, e os seus intelectuais, filósofos, teólogos e santos! Este livro foi um deleite do começo ao fim. Embora o contexto no qual ele foi criado seja uma situação trágica, pois o Boécio estava preso, injustamente, acusado pelo crime de traição sob o rei ostrogótico Teodorico, o Grande. Ele passou um ano na prisão aguardando a sua sentença de morte.

Além de Boécio estar insirido nesta época de transição, o contexto histórico também é sobre o conhecimento do mundo grego estar desaparecendo rapidamente, levando os estudiosos ao esquecimento de filósofos gregos antigos como Platão e Aristóteles. Ele é especialmente lembrado pela Consolação da Filosofia, mas também desempenhou um importante papel de ressurgir o interesse pelos filósofos da antiguidade, graças a ele Categorias, de Aristóteles, foi traduzido para o latim e também alguns outros trabalhos de Platão.

O livro é caracterizado por um diálogo entre a Filosofia e o Boécio. Este a personificou em uma mulher com vestes de fios delicados, que a mesma fez. Seu porte inspira respeito, os olhos são flamejantes e revelam clarividência. Seu rosto resplandece, com feições de cores vívidas e que emanam uma “força inexaurível”. No início do livro, a Filosofia é apresentada como esquecida e maltratada porque os intelectuais romanos esqueceram dos gregos e os interpretaram erroneamente. Até o próprio Boécio havia se esquecido deles.

Após o autor ter se lamentado, invocando as Musas, pois estas sempre aparecem para evocar algum sentimento, como a cólera, que ocorre no Canto I da Ilíada, aqui uma elegia foi convocada. A cara Filosofia lhe aparece e não gostou nem um pouco das Musas com seus cantos de sereias. Ela então lhe fala: “Quem permitiu a estas impuras amantes do teatro aproximarem-se deste doente”? Confesso que este trecho tirou de mim boas risadas. Essencialmente o Boécio padece porque lhe falta razão e isto vai ficando cada vez mais claro ao longo do texto. Acredito que pode-se resumir esta obra da seguinte forma: a vitória da razão sobre a insesatez, que foi gerada devido a tristeza.

“(…) vou então tentar por um tempo dissipar por atividades sutis e mesuradas as trevas de tuas impressões enganosas, para que possas reconhecer o brilho da verdadeira luz.”

Segundo o Prof. José Monir Nasser, a Filosofia cura o doente como uma espécie de terapia. A sua primeira ação é tirá-lo do estado emocional e levá-lo à razão. Mas para isto, a Filosofia irá utilizar alguns métodos. O primeiro é fazê-lo (1) desabafar como se sente em seu interior; (2) lembrar que é além de um animal racional e mortal; (3) e que o fim último da alma humana é Deus.

“De fato, é devido ao esquecimento que estás perdido, que te lamentas de ter sido exilado e privado de teus bens. É porque desconheces qual é a finalidade do universo que tu imaginas serem felizes e poderosos os que te acusaram. É porque esqueceste as leis que regem o universo que julgas que a Fortuna segue seu curso arbitrário e que ela é deixada de livre soberana.”

Em seguida, a Filosofia percebe que o principal motivo da tristeza do Boécio é o fato dele ter perdido tudo o que ele possuía e toma este acontecimento como uma reviravolta da Fortuna, mais uma vez ela lhe diz que se ele se lembrasse da sua natureza, não estaria em desespero. Ela irá interpretar a Fortuna para argumentar sobre o fato deste mundo ser regido por Deus e que as coisas não são ao acaso. Fala-lhe que há época em que a terra se veste de flores e frutos, e depois de chuvas e geadas. É a insatisfação do homem a causa de tanta melancolia e não das circunstências em si mesmas e embora a tempestade por mais violenta que seja, não é capaz de abater aquele que possui âncoras bem firmes.

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu” - Eclesiastes, 3.

Ela lhe diz sobre como a nossa natureza é buscar a nossa origem, o princípio de tudo, como o pássaro que sempre busca a liberdade no bosque e como esta analogia se assemelha a busca pela felicidade, o que no fim significa a busca por Deus, a felicidade em si mesmo. Mas quando buscamos algo que está fora de Deus, nunca estamos satisfeitos, completamente felizes. O oposto dessa natureza sempre é hostil e destrutivo. Assim, creio que o pecado é hostil e destruidor ao gênero humano, pois a nossa natureza é a divina, porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Então Deus é o bem, e é o bem que governa e garante a estabilidade do universo.

“A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.” - Gênesis, 1.

Boécio então lhe fala que sua maior angústia é ainda que o mal possa existir e até continuar impune e que a virtude não receba nenhuma recompensa, mesmo o universo sendo regido pelo bem supremo. Então é neste livro (IV) que a Filosofia inicia a sua explicação sobre como o poder está sempre ao lado dos bons, enquanto os maus são impotentes, daí começa a surgir os conceitos de vontade e capacidade humana. Quando alguém deseja algo e não consegue realizar este algo, é a capacidade que lhe falta. E quando acontece o oposto, é a falta de vontade. Portanto a ação não pode alcançar a plenitude por causa da falta de um dos dois. A vontade e a capacidade unidas buscam o bem, tanto os bons e os maus fazem isto e a obtenção do bem torna alguém bom, logo, se um mau obtém o bem, deixa de ser mau. “Por conseguinte, dado que tanto uns quanto outros buscam o bem, enquanto uns obtêm e outros não, podemos duvidar do poder dos bons e da fraqueza dos maus?

Os maus demonstram a sua fraqueza pela intemperança, pela sua incapacidade de resistir ao vício. Quando eles desviam do bem com plena consciência, além de tornarem-se fracos, deixam simplesmente de ser, “pois aqueles que renunciam àquilo a que tendem todas as coisas cessam ao mesmo tempo de ser” porque para ser, é necessário conservar a boa ordenação da alma e preservar a própria natureza, então aquele que renuncia a sua natureza, renuncia também “a ser aquilo de que sua natureza depende“. Argumenta também que o justo mesmo sofrendo infortúnios, o seu sofrimento é atenuado porque ele participa do Bem. E os maus se beneficiam quando são punidos, pois uma parte do bem, a justiça, lhes é acrescentada.

No Livro V, os temas abordados são o livre arbítrio, a presciência de Deus e a Providência. Nestes temas, há influência de Aristóteles, especificamente da obra Física. A Filosofia diz que este filósofo nos fornece a definição que chega mais perto da verdade. A definição trata-se de que quando ocorre algo além do previsto em uma ação realizada com um determinado fim, chama-se isto de “acaso”. Este é definido como um acontecimento inesperado, resultado de variadas circunstâncias. O que provoca estas circunstâncias variadas é a ordem que procede todo o encadeamento inevitável, o que tem fonte a Providência, pois ela dispõe todas as coisas em seus lugares e tempo.

O livre arbítrio existe e não contradiz a presciência de Deus, e se fosse o contrário, nenhum ser dotado de razão poderia existir. Todo ser racional possui a faculdade do juízo, o que lhe permite escolher o que lhe é desejável e evitar aquilo que não lhe é desejável. É a faculdade que lhe permite distinguir cada coisa. Quanto mais uma pessoa escolhe o bem, mais livre ela se torna. E quando ela escolhe mais se ligar à carne e ainda ser levada completamente pelos vícios, maior é o seu estado de servidão. Neste livro também é abordado sobre a variedade de tipos de conhecimentos, e isto ocorre devido as diferentes variedades de substâncias. A Filosofia explica que isto acontece porque o homem é percebido conforme um modo diverso: os sentidos, a imaginação, e a razão ou a inteligência. Assim cada coisa é percebida através de sua natureza, por exemplo, as coisas materiais só podem ser conhecidas através dos sentidos.

Enfim, são temas muito complexos explicados por todo o livro e tentei trazer aqui um resumo do que a Filosofia ensina ao Boécio e o modo que utilizou para tirá-lo do seu estado depressivo. Até mesmo o próprio autor enfatiza que o homem não pode saber tudo sobre Deus. Espero que ninguém se sinta incapaz de ler esta obra, eu consegui com a ajuda de alguns materiais que pesquisei pela internet, também pela aula do Prof. José Monir Nasser e da Prof.ª Sílvia Maria de Contaldo, são encontrados no Youtube.

O livro é um ótimo exemplo de que fé e razão não são contraditórias, pois o Boécio faz toda uma peregrinação para explicar a existência de Deus usando somente raciocínios filosóficos. Nada do que ele escreveu contradiz a doutrina, inclusive ele foi beatificado pelo Papa Leão XIII em 25 de dezembro de 1883 e a sua festa é no dia 23 de outubro. São Severino Boécio, rogai por nós!

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Resolvi começar a escrever mais sobre minhas leituras no Bosque, e desta vez estou tendo a audácia de pedir livros! (rindo de nervoso). Aqui está a lista: Lista do Bosque do Robin. O link também está no topo do blog. Eu gostaria de compartilhar mais o que venho aprendendo sobre assuntos do meu interesse e quem sabe trocar idéia com quem me lê. Também criei um link de associado da Amazon, então se você gostou desse texto, deseja obter o livro e quiser me ajudar, compra através deste link, por favor? Que Deus lhe abençoe!

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Caçadora de cores

Um vez li em um livro que as cores da natureza obedecem ao seu espírito. Se o coração do homem estiver acometido pela calamidade, o fogo de sua lareira se apresentará revestido de melancolia, apesar de possuir uma cor calorosa. É a alma deste homem que estaria dando uma qualidade para o fogo, e não o fogo seria por si mesmo uma determinada qualidade.

Porém não quero adentrar nestas questões, apenas gostaria de tornar os dias especiais mesmo que eles estejam insiridos em tristezas e acredito que a natureza pode proporcionar esta alegria que parece flutar neste ar tenebroso. Então por que não brincar um pouco fingindo ser uma caçadora de cores? Pode ser que eu esteja capturando todas as cores para reuni-las em uma varinha de ponta estrelada e guardar no coração um pouco de alegria? Pode ser que eu tenha feito isso.

Gostaria de agradecer ao meu marido por sempre me acompanhar nestas empreitadas que resolvo fazer e por ter me ajudado a encontrar muitas e muitas cores! Estive em dúvida se alguma era azul ou roxa… A vida tem muitas nuances!

A Z U L

Esta é a cor mais difícil de encontrar! Realmente é o pigmento mais raro da natureza. Infelizmente eu não encontrei uma flor silvestre do gênero Commelina. Ela é uma planta herbácea e apesar de ter fotos dela, resolvi deixar aqui somente o que registrei no dia 19 de março.

R O S A

Um pigmento tranquilo de encontrar, mesmo que você não tenha nenhuma rosa, hortência etc plantadas no jardim, sempre tem uma flor silvestre com esta cor! Escolhi um cosmos, o lápis de cor que usei parece ter saído dessa flor!


R O X O

Bom, aqui as coisas começam a melhorar. Encontrei algumas plantas com este tom. Alguns detalhes mais claros, outros mais escuros, mas encontrei.

V E R D E

Simplesmente a cor mais comum!! Qualquer lugar para onde olhasse havia todo tipo de tom de verde. Eu escolhi o meu favorito: samambaia.

A M A R E L O

Creio que esta cor vem logo após o roxo. Encontrei várias flores silvestres com esta cor, algumas possuíam só uns detalhes, enquanto outros eram completamente amarelas.

L A R A N J A

Foi um pouquinho difícil de encontrar essa cor. Lembrei que já tinha visto um fungo nesta tonalidade e fui lá atrás dele para registrar. O fungo em questão é uma “orelha-de-pau”. Mas resolvi colocar sua foto na cor marrom por causa do tronco. Aqui temos uma flor do gênero Verbena.

V E R M E L H O

Não foi tão difícil encontrar esta cor. Havia este tom misturado com outras cores, especialmente o amarelo, laranja e marrom. Acredito que estes três juntos se repetem muito.

M A R R O M

Esta cor recebe o segundo lugar do pódio. Tem o marrom da terra, dos troncos, de pedras, de sabiá, de ninho, de penas… É tão fácil de achar quanto o verde.

Fotografei mais uma porção de cores e para não deixar a postagem muito longa, juntei todas elas em uma só. Tão lindinho ficou! Tenho outras idéias para caçar outras qualidades pela natureza e espero trazer aqui em breve.

Bem, espero que tenha um dia tão contente quanto esse post que se tornou mais colorido que o arco-íris haha.

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