B de Benedito – Alfabeto dos Santos

No início desse ano comecei um novo alfabeto tendo como tema os santos. O primeiro foi de animais (ainda tenho que postar por aqui hihi). A letra A foi para o Anjo da Guarda, acredito ser um dos mais importantes na nossa jornada rumo ao Céu!

A letra B foi agraciada com um santo que teve o privilégio de conhecer o Menino Jesus, ainda em terra, algo dado somente às almas puras. Ele se chama São Benedito.

São Benedito nasceu na Sicília, era filho de Cristovão Manasceri e de Diana Larcan, eles eram escravos vindos da Etiópia. O casal não queria ter filhos para não gerarem mais escravos, então o seu dono sabendo disso lhes disse que se tivessem um filho, daria a liberdade a criança. Benedito nasceu e recebeu a promessa da liberdade. A criança foi educada na fé cristã por seus pais e rezava o Rosário todos os dias, que foi ensinado por sua mãe.

Quando adulto, sofreu uma grande humilhação, por causa de sua cor, e a suportou pacientemente. O líder dos eremitas franciscanos testemanhou esta nobreza de seu caráter e o convidou para fazer parte da ordem dos franciscanos. Benedito aceitou, se desfez de todos os bens materiais e seguiu sendo um eremita franciscano. Um tempo depois, o Papa Pio IV decidiu que os eremitas deveriam se reunir em comunidade, então São Benedito passou a viver em um convento.

Lá dentro recebeu a função de cozinheiro e com o passar do tempo, as pessoas notaram suas virtudes e grande sabedoria. Então ele acabou se tornando um líder, embora a princípio relutasse receber este cargo. Sua fama de sábio era tão forte que até os teólogos o procuravam e ele ensinava a todos, embora fosse analfabeto.

Sua vida é repleta de milagres, dentre eles estão a ressurreição de dois meninos; a cura de cegos e surdos; multiplicação de peixe e pão; este último é o motivo dele ser o padroeiro dos cozinheiros e o protetor de todos aqueles que trabalham na cozinha.

São Benedito faleceu aos 65 anos de idade após padecer de uma doença. Morreu em paz e dizendo “Jesus! Jesus! Minha mãe, doce Maria! Meu Pai São Francisco!”

Ele é representado com o Menino Jesus no colo porque muitas testemunhas o viram em profunda oração com o Menino Jesus em seus braços. São Benedito, rogai por nós!

Ilíada – Homero

“Pois, muito embora refreie os impulsos da cólera um dia, continuamente revolve no peito o rancor incontido”

A Ilíada é um poema épico, atribuído a Homero. É considerada a primeira obra literária do ocidente e que até hoje nenhuma outra conseguiu superá-la. Foi uma história conhecida através da tradição oral, só muito tempo depois foi passada para a forma de poema. Segundo Frederico Lourenço, foi no século VII a.C. que a Ilíada surgiu em poema através de Homero.

O debate acadêmico sobre a origem da Ilíada gira em torno da autoria, mas muitos estudiosos concordam que no início ela foi uma tradição oral e muito tempo após se tornou escrita. Crê que no século VI a.C., uma família da aristocracia ateniense providenciou uma edição oficial da obra em livro. Alguns séculos depois, Aristóteles fez uma nova edição, e esta foi lida por seu aluno mais famoso: Alexandre.

A Ilíada narra uma pequena parte da guerra de Troia, dando ênfase a cólera de Aquiles. “Canta-me a Cólera…”, é a primeira frase do Canto I do texto. Portanto, não temos no texto a história de Páris, a disputa das deusas para saber quem é a mais bela etc. Recomendo os livros do Menelaos Stephanides para ter uma compreensão maior de todo o enredo. A professora Elizabeth Vandiver fez um enredo básico como guia de estudo e acho que vale a pena copiar e colar aqui para quem se interessar:

  1. A mulher mais bonita do mundo, Helena, filha do grande deus Zeus e esposa do grego Menelau, foi raptada pelo príncipe troiano Páris.
  2. Sob o comando do irmão mais velho de Menelau, Agamenon, os gregos reuniram um exército para ir a Tróia e lutar pelo retorno de Helena.
  3. A guerra contra Tróia durou dez anos. A luta foi bastante equilibrada, com cada lado tendo seu guerreiro principal (Aquiles para os gregos, Heitor para os troianos).
  4. Aquiles era filho de uma mãe deusa, Tétis, e de um pai humano, Peleu. O casamento deles foi arranjado por Zeus, e Tétis não estava totalmente disposta.
  5. O maior guerreiro troiano, Heitor, foi morto pelo maior guerreiro grego, Aquiles, que foi morto por Paris.
  6. Finalmente, os gregos recorreram à malandragem. Usando o famoso ardil do Cavalo de Tróia, inventado por Ulisses, eles se infiltraram na cidade murada de Tróia e a saquearam à noite.
  7. Os gregos cometeram muitos ultrajes contra os troianos durante o Saque de Tróia. O mais importante deles foi o assassinato do rei Príamo no altar de sua casa, o assassinato do filho bebê de Heitor, Astyanax, jogando-o das muralhas da cidade e o estupro da filha de Príamo, Cassandra, no templo da deusa virgem Atena.
  8. Esses ultrajes enfureceram os deuses, levando a muitas dificuldades para os gregos sobreviventes em seu caminho para casa. Mais importante ainda, Agamenon foi morto por sua esposa e seu amante quando chegou em casa, e Odisseu passou dez anos vagando a caminho de Tróia.

A Ilíada narra o último ano da guerra e termina até a morte do herói Heitor. O ciclo épico de Homero é narrado em outros textos, mas estes foram perdidos, infelizmente, principalmente na época dos bárbaros que quando saqueavam as cidades, destruíam tudo o que viam pela frente, inclusive as bibliotecas. Então só temos o conhecimento da Ilíada e da Odisseia. Os livros completos são: 1- Cíprias; 2- Ilíada; 3- Etiópida; 4- Pequena Ilíada; 5- Iliu Persis; 6- Nostoi; 7- Odisseia; 8- Telegonia.

Para mim, esta leitura trouxe-me vários pensamentos e reflexões. Como se trata de um texto de milhares de anos atrás, tive que levar a minha mente também para esta época para conseguir compreender. Afinal, é um tremendo erro pôr o pensamento da atualidade para um tempo de tantos anos atrás. Fazer isto tiraria a verdade e seria até desonesto. Muitas coisas despertaram o meu interesse, o comportamento dos deuses, a moral da época e o coração do homem. Eu tentarei elaborar o meu raciocínio por aqui.

O mundo antigo era muito mais brutal se comparado com o nosso. Não existia este conceito da guerra ser algo horripilante e de que os homens se recusariam e a evitaram a todo custo, seria um absurdo pensar desta maneira. Na Grécia, era esperado que todos os homens livres lutassem. O seu sistema militar era extremamente disciplinar e o treinamento ocorria constantemente. Temos acesso de que o próprio Sócrates se orgulhava de seu serviço militar, opondo-se aos persas na batalha. A escravidão também era algo corriqueiro e os escravos eram obtidos nas batalhas, guerras. O oponente que perdia, era capturado como escravo. Os homens, mulheres e crianças eram escravizados e as mulheres jovens eram forçadas a serem concubinas.

Outra diferença que é bastante notória, são os deuses. Eles não se assemelham em nada com o Deus onipresente e onisciente, que se importa com os assuntos humanos, que é misericordioso etc. Os deuses do Olimpo se diferem dos homens apenas por serem imortais. Eles se interessam pelos homens, desde que estes sejam poderosos, reis, grandes guerreiros. Quando se trata de um simples camponês não dão tanta importância, mas estes sempre oferecem sacrifícios para “aplacar a ira dos deuses”. Na Ilíada, os deuses às vezes participam da guerra, disfarçados, para ajudarem os seus favoritos. Mas eles não fazem isso por sentirem alguma compaixão ou qualquer outro tipo de sentimento. Eles agem pelo caos, o caos pelo caos.

Bem, neste momento a leitura se tornou também como uma visão espiritual. Os deuses nada mais são os anjos que decidiram não servir mais a Deus, e sim a Satanás. Os heróis, pelo menos alguns, são os gigantes. “Naquele tempo viviam gigantes na terra, como também daí por diante, quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e elas geravam filhos. Estes são os heróis, tão afamados dos tempos antigos“. (Gênesis 6, 4). E é muito incrível que os deuses se assemelham bastante aos demônios: o caos pelo caos; imortais; podem se fazer passar por qualquer coisa ou pessoa; influenciam os homens etc. Mas este assunto é muito vasto e merece uma outra publicação…

É possível extrair também conceitos morais do texto, como a virtude, a honra e a glória. A Ilíada para a cultura helênica era como a Bíblia para os cristãos. Segundo Werner Jaeger, o conceito de “areté” é o tema essencial da história da formação grega. O significado mais próximo para esta palavra é “virtude”, mas não no conceito moral que temos, e sim como expressão “do mais alto ideal cavaleiresco unido a uma conduta cortês e distinta e ao heroísmo guerreiro”. Como mencionei no começo, a Ilíada é sobre a cólera de Aquiles. Por que ele está furioso? Porque Agamémnone roubou a sua concubina e isso era uma verdadeira humilhação e desonra. A virtude para os gregos está ligada a nobreza e a força física. Jaeger também diz que a honra está intimamente ligado a “areté” e o homem só recebe honra na mesma proporção que a sociedade a que pertence reconhece o seu valor. Se um homem nobre tivesse a sua honra negada ou ultrajada, seria a maior tragédia que poderia lhe ocorrer. Esta honra atinge o seu ápice com a morte física do guerreiro.

Esse conceito de honra era algo muito importante. Assim é possível compreender a fúria de Aquiles, o seu conflito com Agamémnone e porquê não aceitou, a princípio, os incontáveis presentes deste para reparar o ultraje feito, e também a sua indignação contra os gregos que o fez sair da batalha junto com os mirmidões. A “aretê” era tão essencial que a ofensa também se voltava contra quem ofendeu porque quem feria a virtude de alguém, também tinha a sua própria ofendida.

O coração do homem também é algo que chama a atenção. O que mais me marcou foi o Canto VI, o qual ocorre o encontro de Heitor com Andrômaca. Até desenhei um coração no livro de tanto que tocou o meu coração este momento. Quando o herói vê o seu filho, ele sorrir. Esta simples ação é algo que me faz pensar que apesar da guerra ou época, algumas coisas são intrínsecas ao ser humano, como ver o seu filhinho e simplesmente sorrir. O medo de Andrómaca de que o seu marido morra também é algo tão humano e a resposta de Heitor nos lembra de como era o pensamento daquela época em que os troianos se assemelham aos gregos, pois ele também anseia pela glória imortal.

A Ilíada também deu-me vontade de rir em muitos momentos. Acredito que vale a pena sim se aventurar nestas obras da antiguidade, pois há tanto o que ser dito e pensar! Espero que tenham gostado desta pequena explanação e sintam vontade de lê-la, caso ainda não tenham feito. E quem já leu, que sinta vontade de reler porque releituras são sempre maravilhosas! Ah, e agora se você ainda não possui o livro físico e deseja adquirir, faz isto com o meu link? A tradução é a mesma desta edição de bolso da foto, que é do Carlos Alberto Nunes. Lista do Bosque do Robin.

Obrigada pela visita ♡

A Consolação da Filosofia – Boécio

“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” - O Evangelho Segundo São Mateus, 11,28.

Boécio foi um filósofo, poeta, teólogo e estadista romano do século VI. Ele é considerado o mediador entre os períodos da antiguidade tardia e o começo da Idade Média latina, conhecida como “escolástica”. O seu trabalho “A Consolação da Filosofia” influenciou toda esta época que estava para surgir, e os seus intelectuais, filósofos, teólogos e santos! Este livro foi um deleite do começo ao fim. Embora o contexto no qual ele foi criado seja uma situação trágica, pois o Boécio estava preso, injustamente, acusado pelo crime de traição sob o rei ostrogótico Teodorico, o Grande. Ele passou um ano na prisão aguardando a sua sentença de morte.

Além de Boécio estar insirido nesta época de transição, o contexto histórico também é sobre o conhecimento do mundo grego estar desaparecendo rapidamente, levando os estudiosos ao esquecimento de filósofos gregos antigos como Platão e Aristóteles. Ele é especialmente lembrado pela Consolação da Filosofia, mas também desempenhou um importante papel de ressurgir o interesse pelos filósofos da antiguidade, graças a ele Categorias, de Aristóteles, foi traduzido para o latim e também alguns outros trabalhos de Platão.

O livro é caracterizado por um diálogo entre a Filosofia e o Boécio. Este a personificou em uma mulher com vestes de fios delicados, que a mesma fez. Seu porte inspira respeito, os olhos são flamejantes e revelam clarividência. Seu rosto resplandece, com feições de cores vívidas e que emanam uma “força inexaurível”. No início do livro, a Filosofia é apresentada como esquecida e maltratada porque os intelectuais romanos esqueceram dos gregos e os interpretaram erroneamente. Até o próprio Boécio havia se esquecido deles.

Após o autor ter se lamentado, invocando as Musas, pois estas sempre aparecem para evocar algum sentimento, como a cólera, que ocorre no Canto I da Ilíada, aqui uma elegia foi convocada. A cara Filosofia lhe aparece e não gostou nem um pouco das Musas com seus cantos de sereias. Ela então lhe fala: “Quem permitiu a estas impuras amantes do teatro aproximarem-se deste doente”? Confesso que este trecho tirou de mim boas risadas. Essencialmente o Boécio padece porque lhe falta razão e isto vai ficando cada vez mais claro ao longo do texto. Acredito que pode-se resumir esta obra da seguinte forma: a vitória da razão sobre a insesatez, que foi gerada devido a tristeza.

“(…) vou então tentar por um tempo dissipar por atividades sutis e mesuradas as trevas de tuas impressões enganosas, para que possas reconhecer o brilho da verdadeira luz.”

Segundo o Prof. José Monir Nasser, a Filosofia cura o doente como uma espécie de terapia. A sua primeira ação é tirá-lo do estado emocional e levá-lo à razão. Mas para isto, a Filosofia irá utilizar alguns métodos. O primeiro é fazê-lo (1) desabafar como se sente em seu interior; (2) lembrar que é além de um animal racional e mortal; (3) e que o fim último da alma humana é Deus.

“De fato, é devido ao esquecimento que estás perdido, que te lamentas de ter sido exilado e privado de teus bens. É porque desconheces qual é a finalidade do universo que tu imaginas serem felizes e poderosos os que te acusaram. É porque esqueceste as leis que regem o universo que julgas que a Fortuna segue seu curso arbitrário e que ela é deixada de livre soberana.”

Em seguida, a Filosofia percebe que o principal motivo da tristeza do Boécio é o fato dele ter perdido tudo o que ele possuía e toma este acontecimento como uma reviravolta da Fortuna, mais uma vez ela lhe diz que se ele se lembrasse da sua natureza, não estaria em desespero. Ela irá interpretar a Fortuna para argumentar sobre o fato deste mundo ser regido por Deus e que as coisas não são ao acaso. Fala-lhe que há época em que a terra se veste de flores e frutos, e depois de chuvas e geadas. É a insatisfação do homem a causa de tanta melancolia e não das circunstências em si mesmas e embora a tempestade por mais violenta que seja, não é capaz de abater aquele que possui âncoras bem firmes.

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu” - Eclesiastes, 3.

Ela lhe diz sobre como a nossa natureza é buscar a nossa origem, o princípio de tudo, como o pássaro que sempre busca a liberdade no bosque e como esta analogia se assemelha a busca pela felicidade, o que no fim significa a busca por Deus, a felicidade em si mesmo. Mas quando buscamos algo que está fora de Deus, nunca estamos satisfeitos, completamente felizes. O oposto dessa natureza sempre é hostil e destrutivo. Assim, creio que o pecado é hostil e destruidor ao gênero humano, pois a nossa natureza é a divina, porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Então Deus é o bem, e é o bem que governa e garante a estabilidade do universo.

“A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.” - Gênesis, 1.

Boécio então lhe fala que sua maior angústia é ainda que o mal possa existir e até continuar impune e que a virtude não receba nenhuma recompensa, mesmo o universo sendo regido pelo bem supremo. Então é neste livro (IV) que a Filosofia inicia a sua explicação sobre como o poder está sempre ao lado dos bons, enquanto os maus são impotentes, daí começa a surgir os conceitos de vontade e capacidade humana. Quando alguém deseja algo e não consegue realizar este algo, é a capacidade que lhe falta. E quando acontece o oposto, é a falta de vontade. Portanto a ação não pode alcançar a plenitude por causa da falta de um dos dois. A vontade e a capacidade unidas buscam o bem, tanto os bons e os maus fazem isto e a obtenção do bem torna alguém bom, logo, se um mau obtém o bem, deixa de ser mau. “Por conseguinte, dado que tanto uns quanto outros buscam o bem, enquanto uns obtêm e outros não, podemos duvidar do poder dos bons e da fraqueza dos maus?

Os maus demonstram a sua fraqueza pela intemperança, pela sua incapacidade de resistir ao vício. Quando eles desviam do bem com plena consciência, além de tornarem-se fracos, deixam simplesmente de ser, “pois aqueles que renunciam àquilo a que tendem todas as coisas cessam ao mesmo tempo de ser” porque para ser, é necessário conservar a boa ordenação da alma e preservar a própria natureza, então aquele que renuncia a sua natureza, renuncia também “a ser aquilo de que sua natureza depende“. Argumenta também que o justo mesmo sofrendo infortúnios, o seu sofrimento é atenuado porque ele participa do Bem. E os maus se beneficiam quando são punidos, pois uma parte do bem, a justiça, lhes é acrescentada.

No Livro V, os temas abordados são o livre arbítrio, a presciência de Deus e a Providência. Nestes temas, há influência de Aristóteles, especificamente da obra Física. A Filosofia diz que este filósofo nos fornece a definição que chega mais perto da verdade. A definição trata-se de que quando ocorre algo além do previsto em uma ação realizada com um determinado fim, chama-se isto de “acaso”. Este é definido como um acontecimento inesperado, resultado de variadas circunstâncias. O que provoca estas circunstâncias variadas é a ordem que procede todo o encadeamento inevitável, o que tem fonte a Providência, pois ela dispõe todas as coisas em seus lugares e tempo.

O livre arbítrio existe e não contradiz a presciência de Deus, e se fosse o contrário, nenhum ser dotado de razão poderia existir. Todo ser racional possui a faculdade do juízo, o que lhe permite escolher o que lhe é desejável e evitar aquilo que não lhe é desejável. É a faculdade que lhe permite distinguir cada coisa. Quanto mais uma pessoa escolhe o bem, mais livre ela se torna. E quando ela escolhe mais se ligar à carne e ainda ser levada completamente pelos vícios, maior é o seu estado de servidão. Neste livro também é abordado sobre a variedade de tipos de conhecimentos, e isto ocorre devido as diferentes variedades de substâncias. A Filosofia explica que isto acontece porque o homem é percebido conforme um modo diverso: os sentidos, a imaginação, e a razão ou a inteligência. Assim cada coisa é percebida através de sua natureza, por exemplo, as coisas materiais só podem ser conhecidas através dos sentidos.

Enfim, são temas muito complexos explicados por todo o livro e tentei trazer aqui um resumo do que a Filosofia ensina ao Boécio e o modo que utilizou para tirá-lo do seu estado depressivo. Até mesmo o próprio autor enfatiza que o homem não pode saber tudo sobre Deus. Espero que ninguém se sinta incapaz de ler esta obra, eu consegui com a ajuda de alguns materiais que pesquisei pela internet, também pela aula do Prof. José Monir Nasser e da Prof.ª Sílvia Maria de Contaldo, são encontrados no Youtube.

O livro é um ótimo exemplo de que fé e razão não são contraditórias, pois o Boécio faz toda uma peregrinação para explicar a existência de Deus usando somente raciocínios filosóficos. Nada do que ele escreveu contradiz a doutrina, inclusive ele foi beatificado pelo Papa Leão XIII em 25 de dezembro de 1883 e a sua festa é no dia 23 de outubro. São Severino Boécio, rogai por nós!

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Resolvi começar a escrever mais sobre minhas leituras no Bosque, e desta vez estou tendo a audácia de pedir livros! (rindo de nervoso). Aqui está a lista: Lista do Bosque do Robin. O link também está no topo do blog. Eu gostaria de compartilhar mais o que venho aprendendo sobre assuntos do meu interesse e quem sabe trocar idéia com quem me lê. Também criei um link de associado da Amazon, então se você gostou desse texto, deseja obter o livro e quiser me ajudar, compra através deste link, por favor? Que Deus lhe abençoe!

Obrigada pela visita. ♡

Caçadora de cores

Um vez li em um livro que as cores da natureza obedecem ao seu espírito. Se o coração do homem estiver acometido pela calamidade, o fogo de sua lareira se apresentará revestido de melancolia, apesar de possuir uma cor calorosa. É a alma deste homem que estaria dando uma qualidade para o fogo, e não o fogo seria por si mesmo uma determinada qualidade.

Porém não quero adentrar nestas questões, apenas gostaria de tornar os dias especiais mesmo que eles estejam insiridos em tristezas e acredito que a natureza pode proporcionar esta alegria que parece flutar neste ar tenebroso. Então por que não brincar um pouco fingindo ser uma caçadora de cores? Pode ser que eu esteja capturando todas as cores para reuni-las em uma varinha de ponta estrelada e guardar no coração um pouco de alegria? Pode ser que eu tenha feito isso.

Gostaria de agradecer ao meu marido por sempre me acompanhar nestas empreitadas que resolvo fazer e por ter me ajudado a encontrar muitas e muitas cores! Estive em dúvida se alguma era azul ou roxa… A vida tem muitas nuances!

A Z U L

Esta é a cor mais difícil de encontrar! Realmente é o pigmento mais raro da natureza. Infelizmente eu não encontrei uma flor silvestre do gênero Commelina. Ela é uma planta herbácea e apesar de ter fotos dela, resolvi deixar aqui somente o que registrei no dia 19 de março.

R O S A

Um pigmento tranquilo de encontrar, mesmo que você não tenha nenhuma rosa, hortência etc plantadas no jardim, sempre tem uma flor silvestre com esta cor! Escolhi um cosmos, o lápis de cor que usei parece ter saído dessa flor!


R O X O

Bom, aqui as coisas começam a melhorar. Encontrei algumas plantas com este tom. Alguns detalhes mais claros, outros mais escuros, mas encontrei.

V E R D E

Simplesmente a cor mais comum!! Qualquer lugar para onde olhasse havia todo tipo de tom de verde. Eu escolhi o meu favorito: samambaia.

A M A R E L O

Creio que esta cor vem logo após o roxo. Encontrei várias flores silvestres com esta cor, algumas possuíam só uns detalhes, enquanto outros eram completamente amarelas.

L A R A N J A

Foi um pouquinho difícil de encontrar essa cor. Lembrei que já tinha visto um fungo nesta tonalidade e fui lá atrás dele para registrar. O fungo em questão é uma “orelha-de-pau”. Mas resolvi colocar sua foto na cor marrom por causa do tronco. Aqui temos uma flor do gênero Verbena.

V E R M E L H O

Não foi tão difícil encontrar esta cor. Havia este tom misturado com outras cores, especialmente o amarelo, laranja e marrom. Acredito que estes três juntos se repetem muito.

M A R R O M

Esta cor recebe o segundo lugar do pódio. Tem o marrom da terra, dos troncos, de pedras, de sabiá, de ninho, de penas… É tão fácil de achar quanto o verde.

Fotografei mais uma porção de cores e para não deixar a postagem muito longa, juntei todas elas em uma só. Tão lindinho ficou! Tenho outras idéias para caçar outras qualidades pela natureza e espero trazer aqui em breve.

Bem, espero que tenha um dia tão contente quanto esse post que se tornou mais colorido que o arco-íris haha.

Obrigada pela visita. ♡

Um cervo e um robin no Bosque

Estava querendo mudar a imagem que adiciono no topo do blog há um bom tempo, finalmente comecei a fazer o desenho e o concluí! Infelizmente não tenho tantos registros do processo, mas posso contar como foi.

Desde o começo gostaria de adicionar elementos que representassem os meus gostos e personalidade. Bem, resolvi desenhar o meu animal favorito, o cervo (especialmente o filhote por causa das pintas brancas tão fofas!) e o pássaro robin, que é a minha espécie favorita de pássaro e queria tanto poder ver um pessoalmente. O cenário deveria lembrar um bosque, então veio um velho tronco, cogumelos, samambaias… Mas também desenhei algumas flores para alegrar a cena.

Quando estava desenhando o cervo, surgiu em minha mente para fazer uma referência a Santo Humberto, pois ele se converteu após ter visto a Cruz reluzente sobre a cabeça deste belo animal. Quem sabe algum dia eu me aventuro a fazer uma representação deste santo?!

No mais, acredito que faltou uma referência às leituras, pois eu tenho usado também o Bosque para comentar minhas singelas impressões dos livros que ando lendo, mas consegui pôr uma chave presa em um galho seco por causa do livro O Jardim Secreto. Acredito que o meu mundo interior é como um jardim secreto…

Obrigada pela visita! ♡

O Vermelho e o Negro – Stendhal

“A violência de sua paixão causará sua ruína”

– Eclesiástico, 1.

Julien Sorel é o personagem principal do romance. Ele é descrito como um jovem introvertido, de aparência angelical, com aptidão para o intelecto e um grande admirador (secretamente) do Napoleão Bonaparte. Ele também é bastante ambicioso e está entre o dilema de seguir a carreira militar ou a eclesiástica. Mas não por sentir-se inclinado pela vocação, apenas pelo anseio de poder e status na sociedade burguesa da França e estes caminhos são os mais viáveis para as suas circunstâncias. Acredita-se que o título do livro seja devido a esta dúvida entre ser militar (uniforme vermelho) ou ser um padre (vestes pretas).

Sorel é um sujeito que acredita que os fins justificam os meios, portanto, não existe nenhum escrúpulo de sua parte e irá agir da maneira que bem lhe aprouver para conquistar seus objetivos, independente do que causará às pessoas ao seu redor. Ele pensa somente em si mesmo. Seu caráter é extremamente orgulhoso, ao ponto de não permitir que ninguém lhe faça sentir-se por baixo devido a sua posição social. Nestes momentos percebe-se que ele faz juízo temerário das pessoas, pois sempre pensa que elas querem “lhe passar a perna”. Para Sorel, todos são hipócritas, exceto ele mesmo.

Esta sua visão sobre a sociedade lhe torna uma pessoa bastante ressentida e vingativa. É estranho vê-lo tomar este rumo para sua vida porque grandes oportunidades nunca lhe faltaram, o padre que vê seu potencial e lhe ensina latim, o emprego de preceptor numa boa família, a estadia no seminário e o cargo de secretário de um grande político. Nada disso lhe foi o bastante pois suas paixões lhe falavam mais alto e sempre decidia cometer algo imoral.

O Professor José Monir Nasser comenta que o Julien é um homem que não conhece a si mesmo. São raros os momentos em que ele pausa para refletir sobre a sua vida interior. Um dos momentos em que ele faz isso é quando está no seminário, um local silencioso e propício a reflexão. Porém ele considera tudo aquilo um enorme tédio. O outro momento é quando está aguardando a sentença de morte e medita sobre assuntos profundos. Acredito que foi somente diante da morte que lhe ocorreu uma fagulha de sabedoria.

 

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

(I Coríntios, 13).

Apesar de ser muito inteligente, pois ele sabia a Bíblia toda em latim, não havia nada de bom e puro em seu coração. Esse tipo de situação me faz pensar que os livros não são tão responsáveis por nossas atitudes, porque a semente está em nosso coração. “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia.” (São Tiago, 1). É necessário lembrar que a maldade não é somente culpa do demônio, pois existe a concupiscência, e se ela não estiver dominada, não há maturidade para discernir o bem do mal, o falso do verdadeiro etc.  O coração do Sorel estava muito duro pelo ressentimento, precisaria de um milagre para reconstruí-lo. A sua inteligência não foi o bastante.

O livro lembrou-me um pouco Anna Kariênina (Tostltói), devido as várias dualidades inseridas na história e também acabei comparando um pouco o Sorel com o Raskólnikov (Crime e Castigo, Dostoiévski), pois ambos protagonistas são jovens, ambiciosos, pensam em Napoleão… Mas cada um teve um final distinto.

Como uma boa obra filha de sua época, o Romantismo, é recheado de trechos que evocam o sentimentalismo exarcebado e a fantasias malucas. Por exemplo, quando a Mathilde fica entusiasmada por quase ter sido assassinada pelo homem que amava (amiga?). São incontáveis exemplos.

É um bom livro clássico que merece outras leituras para captar tudo o que pode ser extraído dele. Não somente pelos temas como a política e a religião, mas principalmente por proporcionar ao leitor (assim ele permita) uma espécie de exame de consciência, tal qual o Dorian Gray quando viu sua alma na pintura. Espero que a nossa visão não seja tão assustadora, mas se o for, não sinta desespero porque existe a sublimidade da redenção de Jesus Cristo!

Deixarei para um outro momento refletir sobre as demais questões, pois ainda possuo um entendimento bem vago e raso sobre elas. De qualquer modo, considero que foi uma leitura bastante proveitosa.

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Vivarium

Tudo começou quando eu e meu marido decidimos fazer mais uma leitura em conjunto, decidimos ler “A Opção Beneditina” e eu sugeri que poderíamos adicionar algumas outras leituras para complementar esta, então começamos a ler primeiro a Regra Monástica de São Bento.

Um pensamento foi puxando outro, pois decidi pesquisar mais sobre os monges copistas, afinal, São Bento também foi um dos contribuintes para os mosteiros se tornarem um celeiro da cultura e educação. Outros santos, muito antes, também foram inspirações para este tipo de trabalho, como São Pacomius e São Jerônimo. Todo este momento da história, desde a transição do Império Romano para a Idade Média até o apogeu desta, levou-me ao primeiro mosteiro responsável pelo trabalho de copiar as obras clássicas, o Vivarium.

Este mosteiro foi fundado por Cassiodoro no ano 555 d.C. Este acontecimento marca o início dos mosteiros como centros de estudo e do trabalho dos copistas

No período de transição, o filosófo Boécio foi muito importante, devido ao seu trabalho de tradutor e comentarista, assim estabelecendo uma ponte entre a cultura antiga e a Idade Média. Ele é considerado o pai da escolástica por ter criado todas as bases da educação medieval.

Em seguida, é quando se dá o início ao Vivarium. Esta fundação marca o início dos mosteiros como centros de estudo e do trabalho dos copistas, pois os católicos estavam preocupados também com as obras clássicas que seriam perdidas devido as invasões bárbaras, pois estes povos destruiam absolutamente tudo o que viam pela frente, inclusive as bibliotecas. Cassiodoro percebeu algumas coisas fundamentais para a educação: a tranqüilidade (interior e exterior) e a elevação da alma para o estudo, esta última só podia ser em um mosteiro, devido a época em que se encontravam.

Com todos estes fatos, senti-me inspirada a nomear o fichário onde guardo minhas anotações de estudos e leituras, de Vivarium. Resolvi também adicionar algumas frases variadas que considero complementar a tudo o que venho guardando neste baú de papéis e letras.

Felizmente adicionei “A Consolação da Filosofia” para uma das leituras deste ano, e estou bem contente porque se encaixa perfeitamente ao assunto e espero aparecer aqui em breve falando um pouquinho sobre este livro do Boécio.

Jesus Cristo precisa de nosso espírito para sua obra como ele precisava, sobre a terra, de seu próprio espírito humano. Tendo ele partido, nós lhe damos continuidade, temos essa honra incomensurável. – Sertillanges.

Todas estas informações eu encontrei neste artigo, no final dele há as referências bibliográficas para quem quiser se aprofundar mais no assunto. Espero um dia poder ler alguns dos títulos que lá se encontram. Recomendo a leitura do artigo “The Influence of Cassiodorus on Mediaeval Culture” (Leslie W. Jones), se você tiver dificuldade em encontrar o artigo completo para ler, é só usar o SciHub para baixá-lo. Espero ter ajudado e até mais!

Obrigada pela visita! ♡

Livros para 2023

Sempre fico animada para fazer lista de leituras com a aproximação de um novo ano. Escolhi doze livros para ler ao longo de 2023, se Deus quiser! O critério da escolha são livros que tenho aqui há um tempinho; ainda não foram lidos ou concluídos; e estou ansiosa para conhecê-los.

Gostaria de tecer uns breves comentários sobre cada um e o motivo do meu interesse. Vamos lá!

01. O Vermelho e o Negro, Stendhal.

Estou bem animada para esta leitura porque é literatura francesa e já faz alguns anos que tenho me aventurado pelo idioma francês, mas a minha edição é em português mesmo, acredito que ainda não tenho capacidade para ler no original um romance desta magnitude. Este livro faz parte do movimento literário chamado Romantismo, é uma época da cultura ao qual sinto interesse em compreender profundamente, a modernidade é muito influenciada por causa deste movimento. Então, para mim, a literatura é uma boa maneira de ajudar nos estudos de algum tema.

02. Arquipélago Gulag, Soljenítsyn.

Saindo da França e indo diretamente para a Rússia soviética… Bem, jamais teria escolhido este livro um tempo atrás porque eu sinto receio de ter conhecimento sobre fatos muito, muito tristes. Porém, sinto-me fortalecida para lê-lo. Além do mais, o comunismo também é um outro assunto que desperta o meu interesse. Escolhi alguns textos de apoio: as encíclicas Rerum Novarum, do Papa Leão XIII e Divini Redemptoris, do Papa Pio XI.

03. Sonetos, William Shakespeare.

Há anos não leio nenhum poema e é algo que sinto vontade de mudar, pois aprecio a poesia (embora meu conhecimento seja raso). Então tá mais do que na hora me deliciar com Sonetos. A minha edição é bilíngue, vai ser divertido apreciar o inglês antigo!

04. O diabo e outras histórias, Liev Tolstói.

A vontade de ler este livro aumentou bastante desde que eu vi um professor falar sobre alguns dilemas da nossa época, como o vazio existencial, doenças da mente e mencionou este livro. São temas que também despertam o meu interesse, e eu ainda não conheço o trabalho deste escritor quanto aos contos, mas tenho certeza que será muito proveitoso porque o Tolstói escreve de maneira magistral e sou apaixonada em como ele descreve o ambiente e o psicológico dos personagens.

05 e 06. Os 77 Melhores Contos, Hans Christian Andersen.

Esse aqui é meu grande amorzinho! Sinto um apreço enorme pelos contos de fada de modo geral (existe alguns que eu não gosto), e o Andersen é o autor de vários contos que tenho como favoritos: O Pinheiro de Natal, O Patinho Feio, A Roupa Nova do Imperador… Os contos de fadas não são apenas historinhas bobas para crianças. Eles são ricos e profundos, nos oferecem um banquete de filosofia, psicologia humana, moral, simbolismo e em algo que muitas pessoas atuais andam perdendo: senso de realidade.

07. Utopia, São Thomas More.

A única coisa que sei a respeito é que se trata de como seria uma sociedade cristã perfeita e que ele aparece no filme Para Sempre Cinderela (uma vez gravei este filme num VHS para assistir quando eu quisesse haha). Eu me interessei muito mais pelo Thomas More após ter assistido ao filme O Homem que não Vendeu sua Alma. Além do fato dele não ter negado a fé por causa dos caprichos de um adúltero, algo que chamou minha atenção foi quando ele estava na prisão e foi tão resiliente e só fez questão de poder ter acesso a biblioteca. Muito inspirador! Se Deus quiser, irei ler suas obras espirituais algum dia.

08. A Boa Educação, Tihamer Toth.

O Pe. Tihamer Toth ajuda o leitor a como se comportar em determinados ambientes, com determinadas pessoas, com a carreira que escolheu seguir e assim por diante. Ele nos conta que Deus nos acumulou com incontáveis bençãos e graças e o que será que estamos fazendo com elas? Será se somos um jovem bem educado? Um homem honesto e virtuoso? O livro é mais voltado para os rapazes e homens, mas como a educação é outro assunto que gosto (eu gosto de muita coisa, como podem perceber haha), resolvi adquirir o livro.

09. Categorias, Aristóteles.

Finalmente darei início a algo que venho postergando há tempos: conhecer Aristóteles. Eu pesquisei algumas ordens de leituras para iniciantes e escolhi Categorias porque tem tudo a ver com a minha graduação e ao fato de que amo organizar minhas coisas em categorias e ainda há o fato do Aristóteles ter elogiado o meu temperamento, então ele me elogiou (indiretamente, mas elogiou) e já o considero um amigão. Mortimer Adler diz no livro ‘Aristóteles para Todos’ que algumas pessoas podem desconsiderar o trabalho do filósofo só por ele ter sido da antiguidade e que seria melhor aprender sobre o mundo com a ciência moderna. Bem, foi exatamente isto o que aconteceu quando estava na graduação. Lembro de uma aula de botânica que Aristóteles foi visto como algo ultrapassado e que não deveríamos nos atentar a ele. Foi citado apenas em uma frase e partimos para o tal do conhecimento moderno (por que as pessoas acham que moderno é necessariamente sempre o melhor?).

10. A Consolação da Filosofia, Boécio.

Iniciei ano retrasado, mas não concluí. Então preciso reiniciar e apreciar cada detalhe porque o pouco que li já me senti completamente maravilhada! Acredito que será uma das melhores leituras da vida. O fato do Boécio ter escrito algo tão sublime estando na prisão e ter sido condenado a morte é de uma grande inspiração! Consigo sentir que muitas vezes permito a tristeza entrar por motivos tão fúteis e considero necessário estar por perto de algo desta magnitude para elevar o espírito sempre a Deus.

11. Don Camilo e Seu Pequeno Mundo, Giovanni Guareschi.

Quando penso em Don Camilo eu começo a sorrir, simplesmente é o personagem mais engraçado e sincero que já conheci. Também iniciei esta leitura e não concluí. Admiro muito a relação que ele tem com Nosso Senhor Jesus, ele sempre fala o que pensa diante dEle, mesmo sendo coisas nada boas. E o Senhor Jesus sempre lhe corrige com amor e paciência. Uma coisa interessante sobre a obra é que Don Camilo vive em pé de guerra com um comunista da cidade, porém esse comunista parece que ainda não está completamente envenenado pela ideologia, pois ainda se importa com as coisas de Deus.

12. Roverando, J. R. R. Tolkien.

Por fim, escolhi algo completamente fofinho do meu querido Tolkien! Roverando é dedicado ao Michael, seu filho. Foi o modo que o autor decidiu para consolar o pequeno que esta extremamente triste por ter perdido seu cachorrinho de brinquedo durante as férias na praia. É muito bom ver esse lado paternal espelhado na literatura.

Espero que vocês tenham um abençoado ano novo!! Até mais!

 

Obrigada pela visita! ♡

Anna Kariênina, natureza e a Lei Natural

Eles saberão, enfim, que todos os bens da natureza, todos os tesouros da graça, pertencem em comum e indistintamente a todo o género humano e que só os indignos é que são deserdados dos bens celestes“- Papa Leão XIII, “Rerum Novarum”, 15 de maio de 1891.

No início da primavera comecei a reler Anna Kariênina, a primeira vez que li foi no começo desse ano, mas resolvi ler mais uma vez em um intervalo de tempo tão curto porque minha amiga me convidou para fazer uma leitura conjunta.

Desta vez eu me atentei bastante às questões filosóficas que o Tolstói personificou no romance, foquei mais no naturalismo e no pensamento transcedental por causa do meu personagem favorito, o Liévin. E também por já ter tido contato com o Thoreau há uns anos e acabei sabendo que ele foi uma forte influência para o escritor. Então me sinto um pouquinho segura para escrever sobre o que se passou na minha mente durante a leitura. E o Thoreau foi influenciado por Ralph Waldo Emerson, autor do tratado filosófico chamado de “Natureza”.

Em Walden, o Henry David Thoreau, descreve a sua vida no bosque, desde as descrições econômicas e da natureza até as suas reflexões mais íntimas e espirituais. Portanto, além de ser um relato autobiográfico, é também um tratado filosófico. Enquanto em Natureza, o Emerson expressa inúmeras reflexões espirituais sobre a natureza, os bens materiais, beleza, linguagem, disciplina, idealismo, etc.  Considero importante dar uma pequena introdução sobre estes escritores pelo fato de serem influências do Tolstói, direta ou indiretamente, pois no romance há a dualidade da vida aristocrática na cidade e a vida simples no campo.

Thoreau ensina a verdadeira revolução, a única que vale a pena e que não derrama sangue: essa que permite mudar a ordem do mundo, mudando-se e convidando os outros a mudar“, texto, publicado por La Nación, 04-08-2019.

É sabido que Liévin é o alter-ego do Tolstói. Este personagem se sente muito desajustado na vida urbana da aristocracia. Ele prefere cuidar da sua propriedade rural, caçar, lidar com o nascimento de um bezerro, escrever um livro sobre agricultura, não se incomoda com sua própria companhia e medita sobre a questão dos mujiques (os camponeses da Rússia) e essas séries de acontecimentos que só existem em um lugar cercado por natureza.

Trecho de Walden, ou a Vida nos Bosques. Ele lembra-me muito o Liévin.

No decorrer do romance, vamos percebendo que a vida no campo é demonstrada como um ideal, enquanto a vida burguesa russa é apresentada com muitas futilidades. Em Walden, Thoreau propõe o que ele chama de uma “medicina eupéptica”, uma medicina para produzir o bem, e para distanciar a maldade. E essa mudança está intimamente relacionada com o convívio do homem com a natureza. Provavelmente é desta reflexão que o Tolstói se influencia e a põem no seu personagem, o qual representa tal ideal.

Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento“. – Gênesis, Capítulo 1, versículo 29.

Tolstói escreve em seu diário que se sente sufocado no mundo social, e por isso, prefere ficar sozinho no campo. É esse afastamento que o faz observar o outro lado da vida, onde há a ganância por poder, riquezas, traições e falsas aparências. E Thoreau reflete sobre os vícios da sociedade de sua época: a cobiça, comprar, possuir, consumir, substituir. Para ele, e também para o Tolstói, é também uma vida falsa com os outros: uma vida reduzida à superfície, às aparências, à mundanidade, aos salões, festas.

No romance, podemos perceber estas questões filosóficas nos personagens principais e secundários: na vida aristocrática russa existe muita falsidade e divertimentos medíocres, onde as pessoas se reunem para conversar sobre a vida dos outros e discutir sobre assuntos profundos de maneira rasa ou com viés moderno.

A maioria dos personagens da burguesia urbana estão muito longe de representarem um exemplo a ser seguido. Enquanto do outro lado temos o Liévin e a Kitty, ambos aristocráticos, mas que vivem no campo (Kitty passa a viver no campo após o casamento). Eles não são a personificação da perfeição sublime como o Alexei Karamázov, do romance Os Irmãos Karamázov, do escritor Dostoiévski (não consigo evitar comparações), mas é possível notar o desejo de se tornarem melhores e como eles vão amadurecendo ao longo da narrativa. Algumas virtudes notadas nesta atmosfera: o trabalho, o casamento fiel, e a busca por Deus.

Todas as coisas são morais, e em suas ilimitadas mudanças fazem incessante referência à natureza espiritual. Assim foi glorificada a natureza em suas formas, cores e movimentos, para que todos os planetas dos céus mais remotos, todas as transformações químicas desde o cristal mais rude até as leis mesmas da vida, todos as transformações vegetais desde o início do crescimento de uma folha até as selvas tropicais e as antediluvianas minas de carvão, todas as funções animais – desde a esponja até Hércules – sussurrem ao homem ou lhe gritem com voz de trovão as leis do bem e do mal, e façam eco dos Dez Mandamentos.” – Natureza, Ralph Waldo Emerson.

Anna e o seu amante Vrónski não representam o ideal de amor proposto por Tolstói, que é o da simplicidade natural, estes não podem escapar do destino que ocorre para aqueles que se desviam das leis naturais e divinas. Portanto, não é a suposta rejeição de Vrónski que leva Anna à ruína; mas, sim, as suas escolhas egoístas e a culpa que a domina em seu íntimo, até tomá-la por inteira. Culpa que a arrasta em uma correnteza invencível até a loucura. Mas parece que o Karienin também não corresponde a este ideal porque este casamento ocorreu por conveniência, interesses…

“O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja adequada.” – Gênesis, Capítulo 2, versículo 18.

Kitty e Liévin representam o ideal proposto pelo escritor. No começo do livro, a Kitty era apaixonada e iludida pelo Vrónski e muito contagiada pelos ares sensuais da civilização urbana. Vrónski não tinha pretensão nenhuma de casar-se com ela e após esta tremenda desilusão, ela acaba ficando doente e conhece uma moça muito devota, a qual a faz despertar para uma nova vida. Esta mudança será mais notória após o casamento, pois ela se revela uma mulher determinada, forte, fiel, submissa e uma boa companheira.

Minha reflexão geral:

Para Tolstói, a vida no campo é um ideal de beleza e moral, pois se está longe da vida mundana dos ricos da cidade grande. A hipocrisia lhe causa mal estar, portanto ele se torna um crítico ferrenho da sociedade de sua época. O autor consegue expressar que as escolhas que cada personagem faz é o que determina o seu destino. Se alguém busca pela Verdade, com certeza encontrará a redenção. Mas ao escolher seguir as próprias vontades, o destino é outro, sempre vazio de sentido e trágico, de algum modo. O escritor nos mostra que um amor baseado na razão é muito mais suscetível a crescer, apesar daquelas dificuldades que são inevitáveis. Enquanto o amor que se assemelha mais a um furacão, destrói tudo ao redor, inclusive a si mesmo.

 

Obrigada pela visita! ♡

 

Uma Amizade Selvagem

Havia imaginado uma velhinha varrendo folhas, então enquanto pintava, resolvi incluir uma criaturinha, o esquilo.
Estava pensando nos velhinhos solitários que existem pelo mundo. Às vezes a vida pode não ser simples, mas acredito que pequenas coisas podem iluminar o nosso coração.

Espero que tenham gostado dessa história pequenininha e obrigada pela visita! ♡