Para o outono

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou.”
Eclesiastes, 3.

Sinto-me grata por poder viver mais uma estação onde as cores alegres saem um pouquinho de cena para dar espaço ao grande concerto de folhas que caiem suavente com o sopro dos ventos, tudo isto fazendo lembrar de um balé.

O outono recorda os momentos de introspecção, mas também é uma época de grandes mudanças. É quando ocorre muitas chuvas, estas que nos fazem voltar para o interior de nossas casas e desfrutar do aconchego que o lar nos oferece. É notório a renovação das folhagens do qual parece dizer que às vezes é preciso permitir que algumas coisas partam de nós para que novas possam surgir e então sarar algumas feridas.

Santa Hildegarda, com a ajuda direta de Deus, compreendeu que as mudanças de estações causam nas criaturas também certas mudanças. Ela descreveu no trabalho de nome Causae et Curae, que há uma interconectividade de todos os elementos. Especificamente, o microcosmo dos elementos existe simultaneamente no macrocosmo do universo, em geral, e dentro de cada um de nós, individualmente. Penso que o outono realmente faz ter em nosso interior um momento mais quieto no coração, nos convidando a reflexão e às mudanças que sejam necessárias.

Então estas mudanças, como está em Eclesiastes, nos diz que há o tempo de morrer, e é no outono que as árvores, sem apego nenhum, permitem que suas belas folhas percam as suas cores, sequem e caiam ao chão. Desta maneira, os galhos possuem espaço para que novas folhas cresçam e a árvore como um todo também cresça e se prepare para dar bons frutos. O chão tingido de laranja, vermelho, ou marrom não é desperdiçado, pois esta espessa camada de folhas secas servem como uma proteção vegetal natural às outras formas de vida da natureza. O velho possui o seu valor… Desta maneira, acredito que na nossa vida às vezes é necessário um momento para se esvaziar e eu prometo que irei refletir sobre o que preciso deixar ir embora. Como estamos na Quaresma, sinto-me ainda mais inclinada a tais pensamentos.

Gostaria de tentar deixar este momento recreativo também, pois a alegria não precisa ocorrer somente na primavera ou verão. É uma virtude querida para todas as épocas! Bem, estive pensando sobre os livros que associo ao outono e preparei uma lista com todos que recordei. Conhecendo o meu ritmo de leitura e a minha realidade, acredito que não será possível que eu leia todos os listados. Mas de qualquer modo, deixo-os aqui caso alguém tenha interesse em conhecer algo novo para ler. Com certeza farei o possível para reler Jane Eyre. Este romance marcou o meu coração e a Charlotte Brontë descreve a natureza e as paisagens de maneira sublime. e as mudanças que a protagonista vivencia tem tudo a ver com o outono.

Árvores silenciosas, nas pinhas que caíam, nas relíquias congeladas do outono, as folhas avermelhadas varridas pelo vento de dias passados e empilhadas em montinhos, e agora enrijecidas ali

(Jane Eyre, Charlotte Brontë)

Para ler…

  • Livro de Jó
  • Eclesiastes
  • Jane Eyre
  • The Tale of Squirrel Nutkin
  • The Tale of Timmy Tiptoes
  • The Tale of Ginger and Pickles
  • Brambly Hedge Autumn Story
  • Os Pequeninos Borrowers
  • O Morro dos Ventos Uivantes
  • Anne de Green Gables
  • O Vento nos Salgueiros
  • Em Busca de Watership Down
  • Hamlet
  • Mulherzinhas

Pensei também em atividades para se fazer como doar coisas em bom estado para alguém e tentar consertar outras que possam receber algum reparo e torna-se utilizável novamente. Vasculhar a casa ou seu espaço (o quarto) de onde vive e organizá-lo. Também tentar deixar o ambiente mais harmônico e belo, dando ênfase às cores aconhegantes desta época. E claro dedicar-se a contemplar o belo ao seu redor, como um pôr-do-sol, o céu estrelado, as nuvens, borboletas pelo jardim, o som do vento. Tudo isto é possível, mesmo que não se tenha acesso a uma bela arquitetura, por exemplo.

Para fazer…

  • Colecionar folhas secas
  • Colecionar frases que remetem ao outono
  • Tingir papel com café
  • Colher folhas para fazer decalque com giz de cera
  • Decorar o ambiente com algo encontrado na natureza
  • Desenhar elementos do outono (pinhas, bolotas, esquilos)
  • Caminhar na floresta ou em lugares arborizados
  • Visitar sebos, bibliotecas ou livrarias
  • Ouvir Antonio Vivaldi e Bach
  • Assar marshmallow na fogueira

Para assistir…

  • Akage no Anne
  • Brambly Hedge Autumn Story
  • Gilmore Girls
  • Matilda
  • O Senhor dos Anéis
  • Edward Mãos de Tesoura
  • Gasparzinho
  • Peter Rabbit e seus Amigos
  • Bambi
  • A Menina no País das Maravilhas
  • Little Forest: Summer/Autumn

Acabei fazendo esse desenho rápido, todo de lápis de cor. Mas pretendo adicionar mais elementos para a paisagem, então vou passar o outono me cobrando para desenhar mais nele. Pretendo vir aqui mostrar o resultado.

Espero poder vir mais vezes aqui relatar as minhas pequenas aventuras outonais, pois estou bastante ansiosa pelos dias vindouros! Penso em poder comentar ao menos as leituras que eu conseguir fazer e fotografar bastante a natureza. Talvez eu faça uma pequena personificação do outono como ocorreu com a primavera. Enfim, deixarei a mente livre para que a criatividade brote naturalmente. Pôr em prática as minhas idéias é algo que alegra o meu coração. Fico por aqui e nos vemos em breve, se Deus quiser!

Obrigada pela visita. ♡

Diário Naturalista

Um novo ano começa e novos projetos também! Há anos penso em fazer um diário naturalista igual a Edith Holden fez, inclusive penso em ilustrá-lo. Então por que não aproveitar que tenho acesso a bastante natureza, principalmente da Mata Atlântica, para finalmente pôr em prática esse desejo? Deixo uma pequena observação de que esta área que costumo explorar é influenciada por atividades humanas, portanto existem espécies que foram introduzidas. Então prometo me esforçar para ilustrar somente aquelas que eu tiver certeza que são naturais deste bioma.

Penso vir aqui no final de cada mês fazer uma postagem descrevendo tudo o que anotei em meu caderno durante esse tempo. Mas como estou iniciando este projeto aqui no Bosque, já vou deixar algumas fotografias e descrições. As ilustrações deixarei para um próximo momento, pois estas requerem um certo tempo para ficarem concluídas.

J A N E I R O

Dia 01: O dia está ensolarado. Saí pela estradinha acompanhada do meu marido e de Camponesa e Princesa, duas cachorras vira-latas que amam acompanhar humanos em suas expedições. Notei que as flores amarelas (Sphagneticola trilobata) que são bem comuns, estavam repletas muito mais que o normal. Acredito que seja época delas deixarem os campos dourados. Esta flor da família Asteraceae é muito utilizada como chá para combater inflamações. Havia abelhas da espécie Apis mellifera visitando-as. Tive o prazer de observá-las de pertinho.

Também observei que a árvore de azeitona preta está florida, então em breve poderei colher algumas azeitonas para fazer tinta roxa. O jambo está cheio de frutos. Não colhi muitos porque vários estavam já mordiscados pelos saguis e beliscados pelos pássaros. O tempo ficou nublado em alguns momentos, mas não choveu. Observei flores roxas de maracujá. Abelhas do gênero Bombus estavam se deleitando nelas, uma delas era de um amarelo queimado e carregava bastante pólen.

O outro tipo de flor de maracujá também estava recebendo visita de várias abelhas da espécie Trigona spinipes, algumas flores já haviam se transformado em fruto, ainda muito verde. Os pássaros que observei foram um corruíra (Troglodytes aedon) procurando um local para fazer o ninho. Um beija-flor de bico curvo, a espécie era Glaucis hirsutus, estava tentando construir um ninho sob a folha de uma bananeira.

No final da expedição, resolvi tentar desenhar esta flor através da observação. Foi a minha primeira tentativa e considerei bem difícil. Espero poder melhorar com o tempo.

Ainda notei um pássaro grande e um beija-flor. Mas foi tudo tão rápido que não consegui observar muito suas características. Essa vou ficar devendo.

Obrigada pela visita. ♡

Para a primavera

Gosto muito de pensar em coisinhas para fazer durante as estações. Então juntamente com a minha amiga Alita, elaboramos uma lista de como poderíamos vivenciar os dias desta estação tão doce, pensamos em coisas que gostamos como a literatura, a natureza e qualquer outra coisa que nos fazem remeter a primavera. A minha lista ficou um pouco diferente da dela, mas alguns outros itens são bem semelhantes, como tingir o cabelo com algum chá (eu me inspirei nela, só mudei para o chá preto).

No começo deste mês estive preparando algumas cartas para enviar e eu resolvi adicionar sementes de uma erva chamada picão-preto (Bidens pilosa), relembrando uma época em que estive muito persistente em deixar o mundo mais florido, e consequentemente, mais belo! Consistia basicamente em plantar algo em algum espaço vazio que achasse pela rua por onde eu passava. Acabei percebendo que a primavera é a estação mais próxima, o que deixou meu coração super feliz porque sementes e primavera combinam tanto!

A inspiração só foi crescendo como um brotinho e eu escrevi uma pequena descrição da personalidade da primavera. Fiz de conta que esta estação estava personificada em alguma personagem, e ela se descreveu ao escrever numa folha de papel envelhecida com café.

Também plantei uma semente de girassol e fiquei bastante empolgada ao ver que a bouganvílea está crescendo tanto que já pude pegar algumas de suas folhas coloridas para extrair tinta. Também resolvi fazer isso com os musgos que revestem lindos troncos de árvores.

Outra coisa que já comecei a fazer foi pintar algo somente com pigmentos naturais. Desenhei uma tulipa utilizando os pigmentos do hibisco, feijão preto e cúrcuma. Eu obtive a cor verde fazendo uma mistura do azul (feijão preto) e amarelo (cúrcuma). Eu amei o resultado. Lembra bastante aquarelas delicadas.

Aos poucos irei montando este pequeno diário de atividades para fazer nesta estação. Estou bastante feliz e empolgada para essa nova jornada!

Obrigada pela visita. ♡

 

Primeira roseira

Dentro do jardim a vi e logo meu coração encheu-se de contentamento! Pude trazê-la comigo para deixar o meu mundo, que é tão terra, provido do seu belo rosa. Eis a minha primeira roseira! Já apreciei muitas, mas nunca antes havia tido uma para cuidar e espero de agora em diante saber cultivá-la.

Não compreendo muito de rosas, e agora, que aqui há uma comigo, desejo aprender para fazê-la crescer linda e saudável, em troca, ela dará sua formosura cor-de-rosa, atrair beija-flores, abelhas e outros insetos polinizadores.

Li que é preciso deixá-las receberem o máximo de luz natural possível. Ela foi plantada em um local que há luz do sol durante o dia e durante a tarde. Aqui onde moro é inverno e ele é caracterizado por uma época de muitas chuvas, portanto, não irei regá-la. Mas quando a primavera surgir, devo regá-la somente uma vez por semana e sem molhar suas folhas. Regar mais que isto apenas se for muito necessário.

Devo esperar a roseira crescer mais, ficar um pouquinho mais vigorosa para poder colher as flores. Fiz bem em deixá-la com sua florzinha, até porque eu fiquei com muita pena de tirar.

É uma muda pequena e já estava com essa linda flor. Então imagino que à medida que ela for crescendo, mais lindos botões e flores irão surgir. Sou tão fascinada por botões de rosas!

Obrigada pela visita. ♡

Acordo de manhã com um sentimento bondoso

Nos últimos dias tem caído tanta chuva e recentemente houve um dia de sol muito lindo. O céu bem claro e temperatura amena… Então caminhamos pela estradinha de sempre e eu, sempre fazendo pausas para admirar alguma planta ou inseto que por ali se encontravam.

Um dos filhotes da cachorra Camponesa resolveu nos seguir e brincar durante a jornada. Quando chegamos ao destino, me deparei com um pequeno campo de flores silvestres na cor lilás. Possuía uma leve semelhança com lavandas (meu sonho ir em um campo e/ou poder plantar algumas).

Muitos insetos estavam se deleitando nelas, abelhas, borboletas e alguns outros que não consegui identificar. Senti-me muito alegre por deslumbrar tantas cores lindas e tanta beleza reunida em um espaço tão simples.

Gostaria de ter ido lá no final da tarde para apreciar como o local ficaria com a luz do entardecer, já que o tempo nublado havia ficada para os dias passados. Não foi possível, mas tenho esperança de que algum outro dia eu possa fazer isto.

De qualquer maneira, resolvi ir do outro lado do caminho e acabei encontrando estas outras flores da mesma cor e elas ficaram tão fofas com o brilho do entardecer! Estava tão silencioso que só conseguia ouvir um grilo cantando.

Despedi-me do dia ensolarado com um lindo pôr-do-sol. Milagres que acontecem a todo momento ao nosso redor. É bom demais estar aqui e apreciar tudo que o Senhor nos deu. ♡

Obrigada pela visita. ♡

O som da quietude e coisas escondidas

O som da quietude é caminhar ouvindo seus pensamentos, de onde saem uma profunda oração. Quando caminho, olho para o chão e observo como cada passo dado para frente é um passo que também é deixado para trás. Meus olhos percorrem pela paisagem, e como se fosse uma águia, percebo coisas escondidas.

O som da quietude é também ouvir o vento na copa das árvores farfalhando folhas, deixando-as cair e, para mim, elas parecem que dançam ballet. Parece triste secar e cair por terra, no entanto, o verde é mais uma vez renovado. O amarelo, laranja e vermelho no chão deixam um vislumbre ao serem tocados por raios dourados do entardecer.

É verdade que não há nada de especial em encontrar coisas miúdas escondidas. Quando se é simples, a felicidade inevitavelmente brota como um ato banal. A felicidade é banal. É banal que todo dia o sol começa a surgir às quatro da manhã e quantas diferenças há na banalidade: já apreciei tantas alvoradas de cores quentes e tantas outras de cores frias.

É tão óbvio que cogumelos e briófitas apareçam em lugares aquosos e sombreados… Mas eu nunca antes havia visto um cogumelo tão pequeno como este.

Obrigada pela visita. ♡

Vamos atrás da galinha?

A caminhada se deu início após eu ter visto uma galinha-d’água. Cresceu em mim a vontade de procurá-la e ter a chance de registrá-la. Caminhamos na estradinha das flores silvestres e samambaias, a estradinha de barro que possui vários transeuntes.

Íamos nós lentamente para não assustá-la. O sol brilhava e aquecia um pouco a pele, o frescor que surgia da copa das árvores deu um ar muito agradável ao tempo. Então eu consegui fazer alguns registros da galinha-d’água e como um presente da minha bravura, encontrei algumas flores silvestres que me fizeram sorrir!

Obrigada pela visita. ♡

O primeiro arco-íris

O dia hoje amanheceu tão sereno. Os dias nublados assim me parecem, sereno como o adormecer. Mas ora ou outra um raio de sol teimava em atravessar tantas nuvens! Isso foi bom para aquecer algumas roupas que estavam no varal. Acordei feliz e me coloquei a fazer o que devo durante o dia.

Gosto quando os dias são assim também, pois posso apreciar com todo o meu coração as pequenas brechas de sol que me atingem, isso me deixa muito feliz: sentir aquele quentinho suave no meio de um dia mais ameno. Não é verdade que a luz fica mais bela no cinza?

De tardezinha caiu uma chuva tranquila e não muito demorada. Mas foi o suficiente para acontecer o milagre do arco-íris!

Li várias páginas de Os Irmãos Karamázov e houve uma cena muito bela neste romance, é a carta do Padre Zózimo, em que ele diz sobre amar tudo o que Deus fez… Foi algo que li e me deixou contente. É tão maravilhoso quando a literatura faz isso com a gente, não é?

Então observei este arco-íris como se fosse o primeiro que vi em toda a minha vida! Acho que se maravilhar consiste em admirar algo como se fosse a coisa mais incomum do mundo, mesmo que seja algo que se possa ver o tempo todo, como as nuvens ou o verde das folhas.

Obrigada pela visita. ♡