O Vermelho e o Negro – Stendhal

“A violência de sua paixão causará sua ruína”

– Eclesiástico, 1.

Julien Sorel é o personagem principal do romance. Ele é descrito como um jovem introvertido, de aparência angelical, com aptidão para o intelecto e um grande admirador (secretamente) do Napoleão Bonaparte. Ele também é bastante ambicioso e está entre o dilema de seguir a carreira militar ou a eclesiástica. Mas não por sentir-se inclinado pela vocação, apenas pelo anseio de poder e status na sociedade burguesa da França e estes caminhos são os mais viáveis para as suas circunstâncias. Acredita-se que o título do livro seja devido a esta dúvida entre ser militar (uniforme vermelho) ou ser um padre (vestes pretas).

Sorel é um sujeito que acredita que os fins justificam os meios, portanto, não existe nenhum escrúpulo de sua parte e irá agir da maneira que bem lhe aprouver para conquistar seus objetivos, independente do que causará às pessoas ao seu redor. Ele pensa somente em si mesmo. Seu caráter é extremamente orgulhoso, ao ponto de não permitir que ninguém lhe faça sentir-se por baixo devido a sua posição social. Nestes momentos percebe-se que ele faz juízo temerário das pessoas, pois sempre pensa que elas querem “lhe passar a perna”. Para Sorel, todos são hipócritas, exceto ele mesmo.

Esta sua visão sobre a sociedade lhe torna uma pessoa bastante ressentida e vingativa. É estranho vê-lo tomar este rumo para sua vida porque grandes oportunidades nunca lhe faltaram, o padre que vê seu potencial e lhe ensina latim, o emprego de preceptor numa boa família, a estadia no seminário e o cargo de secretário de um grande político. Nada disso lhe foi o bastante pois suas paixões lhe falavam mais alto e sempre decidia cometer algo imoral.

O Professor José Monir Nasser comenta que o Julien é um homem que não conhece a si mesmo. São raros os momentos em que ele pausa para refletir sobre a sua vida interior. Um dos momentos em que ele faz isso é quando está no seminário, um local silencioso e propício a reflexão. Porém ele considera tudo aquilo um enorme tédio. O outro momento é quando está aguardando a sentença de morte e medita sobre assuntos profundos. Acredito que foi somente diante da morte que lhe ocorreu uma fagulha de sabedoria.

 

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

(I Coríntios, 13).

Apesar de ser muito inteligente, pois ele sabia a Bíblia toda em latim, não havia nada de bom e puro em seu coração. Esse tipo de situação me faz pensar que os livros não são tão responsáveis por nossas atitudes, porque a semente está em nosso coração. “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia.” (São Tiago, 1). É necessário lembrar que a maldade não é somente culpa do demônio, pois existe a concupiscência, e se ela não estiver dominada, não há maturidade para discernir o bem do mal, o falso do verdadeiro etc.  O coração do Sorel estava muito duro pelo ressentimento, precisaria de um milagre para reconstruí-lo. A sua inteligência não foi o bastante.

O livro lembrou-me um pouco Anna Kariênina (Tostltói), devido as várias dualidades inseridas na história e também acabei comparando um pouco o Sorel com o Raskólnikov (Crime e Castigo, Dostoiévski), pois ambos protagonistas são jovens, ambiciosos, pensam em Napoleão… Mas cada um teve um final distinto.

Como uma boa obra filha de sua época, o Romantismo, é recheado de trechos que evocam o sentimentalismo exarcebado e a fantasias malucas. Por exemplo, quando a Mathilde fica entusiasmada por quase ter sido assassinada pelo homem que amava (amiga?). São incontáveis exemplos.

É um bom livro clássico que merece outras leituras para captar tudo o que pode ser extraído dele. Não somente pelos temas como a política e a religião, mas principalmente por proporcionar ao leitor (assim ele permita) uma espécie de exame de consciência, tal qual o Dorian Gray quando viu sua alma na pintura. Espero que a nossa visão não seja tão assustadora, mas se o for, não sinta desespero porque existe a sublimidade da redenção de Jesus Cristo!

Deixarei para um outro momento refletir sobre as demais questões, pois ainda possuo um entendimento bem vago e raso sobre elas. De qualquer modo, considero que foi uma leitura bastante proveitosa.

Obrigada pela visita! ♡

2 pensamentos em “O Vermelho e o Negro – Stendhal

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