Bambi – Felix Salten

“Sim, a vida era mesmo difícil e cheia de perigos,
mas viesse o que viesse, ele aprenderia a suportar tudo.”

Regressei a este livro porque a primeira vez que o li senti algo que não consiguia explicar. Embora o conteúdo tenha se desvanecido um pouco em minha memória, a lembrança daquele forte sentimento surgia sempre que eu lembrava de Bambi. Então resolvi reler em busca de recordar o porquê senti-me daquela maneira.

Então concluí a minha releitura e mais uma vez a literatura me faz sentir inclinada a registrar as minhas primeiras impressões, estas que tenho antes de pesquisar a respeito do autor e de sua obra. Recordo do sentimento que se impregnou na minha alma quando o li pela primeira vez, foi como um perfume de alguma flor vespertina que se abriu e eu não soube identificar a sua espécie. Mas neste momento sei exatamente o porquê, e creio que hoje posso balbuciar alguma palavra para descrever: uma experiência espiritual.

Não é espiritual no sentido de ver um fantasma, mas é algo que acontece no fundo do nosso ser, principalmente pelo próprio livro mencionar algo que está para além da natureza, de animais, de carvalhos, esquilos, lagos, raposas e cervos.

A história se inicia com o nascimento do Bambi, durante a primavera. Ele vai crescendo e descobrindo o mundo, descobre que há perigos neste mundo! Entre tanta vida, há também a morte, a mudança do tempo percebida pelas estações… Tudo muda, mas também tudo permanece igual. Os cervos nascem, mas nenhum é igual ao outro. E dentro desse universo há a perseguição que “Ele” faz às demais criaturas

“Ele” é o perigo e o perseguidor. Ele é pálido e sem pelos, possui três braços, e quando está com o terceiro, é sinal de grande risco. Embora pareça que o perigo venha somente de fora da floresta, dentro dela há as suas próprias nocividades. Uma pata deve se manter sempre alerta por causa das raposas; o esquilo igualmente, por causa das corujas. E esse mundo tão austero, aparentemente, é também regido por uma ordem, a lei da natureza. Mas um dia todos viverão em harmonia, um dia “Ele” irá brincar com os cervos e todas as demais criaturas do mundo porque o Criador de todos ressuscitou e renova todas as coisas.

O autor Felix Salten criou esta alegoria antropomórfica de si mesmo sobre a sua fuga para a Suíça na época da Segunda Guerra Mundial. Ele e sua família eram judeus. Inclusive, Hitler censurou o seu livro durante o regime nazista. Após eu ter lido sobre a obra, vi com outros olhos a leitura. Embora a minha primeira impressão não tenha sido de todo tão fora do propósito do autor.

Algumas coisas curiosas que percebi, o Bambi começa a sua vida sendo bastante curioso e entusiasmado por conhecer outros animais e ao longo de seu amadurecimento, ele vai preferindo ficar sozinho, abrindo uma exceção para a companhia do Velho Cervo, uma espécie de sábio da floresta. E é este velho sábio que ensina ao Bambi que o caçador não é maior que tudo e todos, que ele também morre e sente medo como os seus amigos da floresta. Então há Alguém que é maior que “Ele”, e é esse Alguém responsável pela criação de tudo o que existe.

Estava olhando fotos de “journaling” com o tema literatura e desejei fazer o mesmo. Que bom que o meu primeiro jornal literário tenha sido Bambi, pois é um dos meus livros favoritos, embora eu ainda não tenha nenhum exemplar. Ah, também decidi reler neste ano porque a obra está completando cem anos!! A aventura que vivi dentro do mundo do Bambi deixou-me feliz com as belas descrições da natureza, em especial o capítulo poético de duas folhas conversando e o anúncio do inverno. Senti também bastante aflição em alguns momentos e ao mesmo tempo esperança.

Edição II e umas notas aleatórias:

Bem, eu sou muito interessada em animais e eu estou sempre buscando (ou achando “do nada”) sobre algum santo que teve experiências com animais ou ensinou sobre como será a criação após a ressurreição dos corpos… Sei que este último é um assunto tratado pelos primeiros padres da Igreja, e infelizmente eu ainda não encontrei… Vou ter de ler a Patrística toda, pelo visto (risos). Já vi alguém dizer que São Máximo, o Confessor, escreveu a respeito de que Deus renovará todas as coisas, inclusive os animais, vegetais, corpos celestes, enfim, tudo o que Ele criou. E com a leitura deste livro, fiquei ainda mais obcecada em encontrar, mas por enquanto, eu acabei conhecendo umas histórias sobre São Francisco de Paula. Ele também foi alguém bastante interessado por animais e possuía um peixe e um cordeiro de estimação. Estes animais morreram e o santo rezou para Deus pedindo que devolvesse a vida aos seus bichinhos de estimação. E Deus, comovido com a sua humildade, lhe concede esta graça. O peixe se chamava Anatonella e o cordeiro Martinello. Também lembrei de São Francisco de Assis e o lobo selvagem que andava atormentando os moradores de Gubbio. Este santo selou a paz entre as pessoas e o lobo, o que me faz pensar: como os santos nos mostram com sua vida e devoção a Deus de como será na vida vindoura, acredito que a paz seja uma delas, até mesmo a paz entre “caça e caçador”.

Obrigada pela visita. ♡

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *