Roseira e Corvo

Era um final da tarde fresco e ameno. Observei um passarinho todo preto e achei mágico porque imaginei que estava combinando com ele! Durante o caminho existia um pequeno riacho, nele pequeninos peixinhos nadavam freneticamente, então levantei o meu olhar e encontrei uma roseira com uma linda rosa já desabrochada! Fiquei extasiada, pois se tratava de uma roseira silvestre! Notei que a flor aberta possuía pétalas abundantes, se comparado com a roseira comum.

O entardecer faz brotar em minha mente um poema do qual não sei como pôr em palavras. Mas ele consiste em luz do crepúsculo que acalma o olhar com suas cores suaves, os tons terrosos do riacho a burbulhar água, mas não ao ponto de causar espuma e roseiras silvestres que se curvam, como se quisessem se verem refletidas na água.

O meu Diário Naturalista Ilustrado ainda não possui uma ilustração, e surpreendentemente não estou triste por não ter conseguido tempo para pintar. Sei que terei oportunidades para dedicar às aquarelas… De qualquer modo, mês passado pôde ler bastante, alguns livros foram concluídos enquanto outros estão me acompanhando em fevereiro e espero trazer uma resenha de um que está me encantando!

Esta saia a chamei carinhosamente de Saia Corvo devido a sua cor. Há muito tempo estava desejando pôr mais peças pretas no meu vestuário e estou contente de aos pouquinhos conseguir fazer isto. Também estou aceitando encomendas desse modelo de saia (e outras peças) no meu ateliê Bennet Atelier. Ficaria muito contente se você pudesse dar uma olhadinha e compartilhar com suas amigas.

É um produto totalmente artesanal, desde a modelagem até a costura em si. Os botões e a casinha de botão fiz tudo à mão e foi algo que me deixou bastante satisfeita. O meu coração fica tão alegre de fazer pequenas coisas que se tornam grandes.

Outra coisa muito amorzinho que gostaria de ressaltar é que esta botinha preta foi da minha mãe. Ela resolveu passar para mim quando eu era uma adolescente de dezessete anos, hoje eu tenho vinte e nove, e a botinha continua linda, inteira e totalmente usável.

Seja lá quem foi que a fabricou, gostaria de me inspirar nesta pessoa sempre que eu pôr minhas mãos ao executar o meu trabalho porque eu valorizo bastante peças de qualidade e que possam ser passadas para outras gerações!

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A mãe do Pequeno Urso

Quando eu era criança assistia sempre o desenho O Pequeno Urso e nunca havia observado como seus pais se comportavam. Gostava mesmo de acompanhar as aventuras do Urso e seus amigos!

Li algumas historinhas de O Pequeno Urso e observei que a Mamãe Urso é um bom exemplo de feminilidade e mãe. As histórias são What Will Little Bear Wear; Birthday Soup; Little Bear Goes to the Moon; Little Bear’s Wish e ao longo desse post irei fazer alguns comentários a respeito de algumas e deixar algumas frases de São Francisco de Sales que fui lembrando ao longo da leitura. Fiz algo semelhante em uma resenha sobre o Winnie the Pooh e a humildade. Se você ainda não leu e estiver interessado aqui está a publicação.

“Ora. pois, eis-vos no lar, e não há remédio. É preciso que sejais o que sois: mãe de famil!a, visto terdes um marido e filhos, e forçoso é que o sejais de boa vontade e com o amor de Deus, mas por amor de Deus.” – São Francisco de Sales.

What Will Little Bear Wear

Nesta história, o Pequeno Urso diz a sua mãe que ele está com frio. Então a Mamãe Urso lhe dá um chapéu. Isso irá se repetindo continuamente e a mãe do ursinho sempre dando alguma idumentária para que ele deixe de sentir tanto frio. Em nenhum momento a senhora ursa demonstra aborrecimento ou impaciência pelo seu filho voltar a ela interrompendo as suas atividades incansáveis vezes… A Mamãe Urso está preocupada em deixar o seu filho bem, protegido e confortável.

“Preparo-me para suportar com paciência a morte, que só me pode acontecer uma vez, e não me preparo para suportar as incomodidades que recebo dos humores daqueles com quem convivo e trato, ou as importunidades de espírito que o meu ofício me acarreta, que se apresentam cem vezes por dia; é isso que se torna impertelto.” – São Francisco de Sales.

Birthday Soup

É aniversário do Pequeno Urso e ele está um pouco triste, pois acredita que sua mãe esqueceu do dia em que ele nasceu. Porém isto não se torna motivo para ele ficar desanimado ao ponto de não fazer nada. Então ele decide cozinhar uma “sopa de aniversário” e seus amigos são todos convidados. Quando a festa está acontecendo, a Mamãe Urso aparece com um lindo bolo e diz ao seu filho que jamais se esqueceria do seu aniversário!

“Mantende-vos, pois, alegremente humilde perante Deus; mas conservai-vos igualmente alegre e humilde perante o mundo. Aceitai de bom grado que o mundo não lhe dê importância.” – São Francisco de Sales.

Little Bear Goes to the Moon

Considero essa história a mais engraçada. Olha só a cara dela quando o urso diz que vai para a lua haha. Bem, Pequeno Urso colocou na cabeça que irá para lá mesmo sua mãe lhe dizendo para não fazer esse tipo de brincadeira. Ele entra no mundo da imaginação fingindo que está mesmo fazendo uma viagem espacial e encontra uma casa com a mesa posta para o lanche e aparece sua mãe, esta por sua vez começa a entrar na brincadeira fingindo que aquele urso é uma criatura extraterrestre e o pobre urso começa a ficar desesperado falando “mãe, sou eu, o Pequeno Urso”.

Terminei a leitura com muita vontade de assistir mais uma vez o filme e os desenhos. Também observei as ilustrações do Maurice Sendak e ele fez um trabalho incrível!

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O menino pastor de Vespignano

Era uma vez, vivia na Itália um pequeno pastorzinho que gostava tanto de desenhar que pegava um graveto e desenhava com ele nas estradas empoeiradas e nas rochas arenosas.

Você pode se perguntar por que ele usou ferramentas que não são de desenho, mas era todo o material que ele podia chamar de seu. Papel e tinta estavam muito além do que um menino pastor poderia comprar. Mas Giotto, esse era o nome dele, desenhava muito feliz as suas ovelhas com amor e cuidado.

Um dia, um grande artista chamado Cimabue passou por Giotto e observou que ele estava absorto em seu desenho. Sua curiosidade foi despertada e, desmontando do cavalo, ele se aproximou. Para sua surpresa, ele viu uma série de lindos pequenos esboços.

Ele começou a conversar com Giotto e logo descobriu que toda a alma do menino estava em sua arte simples. E, sendo um homem sábio e muito generoso, decidiu fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para educar o menino como artista. Em pouco tempo o pastorzinho deixou Vespignano e foi para Florença, onde entrou no ateliê do grande homem. Sendo extraordinariamente talentoso e mais trabalhador do que o normal, ele fez um rápido progresso em sua arte. Ele logo ultrapassou seu mestre e, com o passar do tempo, foi aclamado o principal artista de sua época.

Esta é a história de Giotto di Bondone. Ela me fez pensar que quando queremos realmente aprender algo, utilizamos os meios que já temos acesso. Se você possui a vontade de desenhar ou de se aprimorar mais, não espere ter aquele lápis ou aquele papel perfeito… Comece já! Não minta para si mesmo dizendo que não consegue desenhar isto ou aquilo. Ou que não possui boas ferramentas de arte.

Vou me inspirar na história de Giotto para aprender outras coisas que sonho, mas fico mentindo para mim mesma sempre.

Comecei então a me aventurar ao desenhar pessoas e cenários. São coisas que eu só pensei em me aprofundar há pouco tempo e estou feliz pelo simples fato de ter começado. Então resolvi tentar ilustrar o menino Giotto no começo da sua vida artística.

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Diário Naturalista

Um novo ano começa e novos projetos também! Há anos penso em fazer um diário naturalista igual a Edith Holden fez, inclusive penso em ilustrá-lo. Então por que não aproveitar que tenho acesso a bastante natureza, principalmente da Mata Atlântica, para finalmente pôr em prática esse desejo? Deixo uma pequena observação de que esta área que costumo explorar é influenciada por atividades humanas, portanto existem espécies que foram introduzidas. Então prometo me esforçar para ilustrar somente aquelas que eu tiver certeza que são naturais deste bioma.

Penso vir aqui no final de cada mês fazer uma postagem descrevendo tudo o que anotei em meu caderno durante esse tempo. Mas como estou iniciando este projeto aqui no Bosque, já vou deixar algumas fotografias e descrições. As ilustrações deixarei para um próximo momento, pois estas requerem um certo tempo para ficarem concluídas.

J A N E I R O

Dia 01: O dia está ensolarado. Saí pela estradinha acompanhada do meu marido e de Camponesa e Princesa, duas cachorras vira-latas que amam acompanhar humanos em suas expedições. Notei que as flores amarelas (Sphagneticola trilobata) que são bem comuns, estavam repletas muito mais que o normal. Acredito que seja época delas deixarem os campos dourados. Esta flor da família Asteraceae é muito utilizada como chá para combater inflamações. Havia abelhas da espécie Apis mellifera visitando-as. Tive o prazer de observá-las de pertinho.

Também observei que a árvore de azeitona preta está florida, então em breve poderei colher algumas azeitonas para fazer tinta roxa. O jambo está cheio de frutos. Não colhi muitos porque vários estavam já mordiscados pelos saguis e beliscados pelos pássaros. O tempo ficou nublado em alguns momentos, mas não choveu. Observei flores roxas de maracujá. Abelhas do gênero Bombus estavam se deleitando nelas, uma delas era de um amarelo queimado e carregava bastante pólen.

O outro tipo de flor de maracujá também estava recebendo visita de várias abelhas da espécie Trigona spinipes, algumas flores já haviam se transformado em fruto, ainda muito verde. Os pássaros que observei foram um corruíra (Troglodytes aedon) procurando um local para fazer o ninho. Um beija-flor de bico curvo, a espécie era Glaucis hirsutus, estava tentando construir um ninho sob a folha de uma bananeira.

No final da expedição, resolvi tentar desenhar esta flor através da observação. Foi a minha primeira tentativa e considerei bem difícil. Espero poder melhorar com o tempo.

Ainda notei um pássaro grande e um beija-flor. Mas foi tudo tão rápido que não consegui observar muito suas características. Essa vou ficar devendo.

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Um conto para o Natal

O Advento se aproxima e eu tenho a tradição de ler, assistir, cozinhar, entre outras atividades que me façam lembrar do Natal.

Há oito anos atrás eu estava em um sebo procurando algo do Tolkien para conhecer mais este autor, acabei levando O Silmarillion, que foi o segundo livro dele que li, e também encontrei uma edição bem antiga com palavras ainda acentuadas com circunflexo, do Hans Christian Andersen, era um dos volumes de uma coleção. E há um conto chamado “O Pinheiro” do qual senti vontade de escrever algumas palavrinhas a respeito.

Esta história é sobre um pinheiro de Natal. Ele é jovem e está muito ansioso para crescer e ser tão alto e brilhante quanto os demais pinheiros da floresta. Este jovem pinheirinho passa muito tempo reclamando que queria ser de um jeito, que gostaria de ter aquilo etc. Ele nunca está satisfeito ou grato com nada. O sol e a brisa do vento o aconselham a se algrar por sua juventude e pelas graças que possui. Mas não adianta, ele continua se queixando.

O que ele mais se queixa é da lebre que sempre salta por cima dele. Parece que o Pinheiro se sente humilhado porque uma lebre consegue pular ao ponto de ficar maior que ele. O pinheirinho parece sentir inveja também dos demais porque para ele, todos são melhores que ele de algum modo. Os dias vão passando e ele vai crescendo, porém ainda não é o bastante. A queixa é algo muito recorrente em sua vida.

Até que um dia, uma família se surpreende com a sua beleza e resolve levá-lo para casa. O pinheirinho fica muito animado, imaginando que receberá algum tipo de glória. De fato, ele recebe, pois se tornou a árvore de Natal daquele lar. Velas, nozes, presentes, luzes e tudo mais o enfeitavam e ele se sentia maravilhado com tudo aquilo. As crianças brincavam ao se redor e ele ouvia as histórias que os mais velhos contavam.

O Natal passou e o Pinheiro foi deixado de lado e jogado num aposento da casa que é onde se colocam coisas que não são usadas. O Pinheirinho ficou desolado e passou a refletir no quanto ele era feliz lá na floresta, mesmo sendo pequenino. Ele percebeu como foi tolo por ter se queixado tanto, que a sua vida era tão alegre, mesmo com problemas tão insignificantes.

Este conto me fez pensar sobre a finitude da vida e como é uma atitude boba viver reclamando de tudo da nossa vida. Sobre a glória desse mundo que é passageira, e um dia podemos estar cheios de luzes e nozes, e no outro dentro de um sotão escuro sem nenhum amigo porque perdemos a nossa beleza.

Que o Menino Jesus conceda a graça de termos um coração sempre grato, independente das circunstâncias que nos encontrarmos e também almejarmos a glória do Céu e não das coisas temporais.

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A Primavera

Senti-me tão inspirada ao pensar nas atividades para fazer durante a primavera que eu acabei escrevendo um texto fazendo de conta que a primavera se personificou e descreveu a si mesma. Eu nao poderia permitir que esta fagulha de encanto não fosse de algum modo registrada. Agora venho aqui publicar toda a descriçao da amiga Primavera.

Sou como o começo da manhã de um dia ensolarado: raios intensos que tocam de maneira suave. A alegria reina em meu coração, tudo me soa tão maravilhoso e não compreendo como pode haver melancolia quando contemplo ao meu redor. Estou sempre tentando deixar as pessoas próximas de mim sorridentes. Sinto-me maravilhada ao saber que consegui pôr um sorriso em um rosto. Gosto de estar perto e amo companhia, assim como os prados amam que lindos cervos venham pastar em sua imensidão verde.

A minha sensibilidade é aflorada e algumas ações podem me entristecer, mas prefiro ver o bom em tudo. Dou-me sempre a chance de recomeçar, pois não me assusta muito as pedras pelo caminho, afinal, o que há por cima são flores! As crianças são as criaturas que mais me identifico e são uma fonte de inspiração para mim, elas perdoam e esquecem facilmente. Porém, às vezes o esquecer é um pequenino problema que há em mim. Adoro quando as crianças vem brincar comigo! Enquanto as vacas me assustam…

Quero apontar para tudo o que vejo e falar por horas, não é incrível viver em um mundo com tantos tipos de flores e cores? Quando olho para os pássaros sinto-me feliz, eles estão sempre a cantar e são tão fofinhos! Sinto-me lisonjeada por ser alguém que cativa criaturas tão adoráveis. Eu desejo que esta época nunca termine, amo todas as novidades que surgem a cada novo amanhecer. Amo fazer novos amigos. E desta maneira eu sou, alegre como uma abelha.

Assinado: Primavera.

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A literatura e eu

Em Cartas aos Jovens Sobre a Utilidade da Literatura Pagã, São Basílio nos fala no quanto o leitor pode tirar proveito ao observar personagens malvados ou bondosos. Quando nos damos de frente com estes personagens podemos refletir sobre o bem e o mal, sobre como o mal se apresenta e como o bem sempre triunfa, pelo menos deveria ser sempre desta maneira. Mas este detalhe é um assunto que pretendo conversar um pouco mais adiante em um outro momento.

A literatura sempre me foi agradável. Desde que aprendi a ler e a escrever, estava sempre desejando ter algo em mãos para me deliciar com a leitura. Há um bom tempo que venho tendo o desejo de me aprofundar mais nas obras, e devo esse profundo anseio após a minha primeira leitura de Os Irmãos Karamázov. O escritor Dostoiévski consegue pôr o mal e o bem de maneiras tão profundas e nítidas que acredito ser impossível não se emocionar e se alegrar quando algum personagem se arrepende de seus graves pecados, por exemplo.

Este amor pelos livros e leitura vem crescendo tanto que estou decidida a dedicar um pouco de meus estudos a este assunto. Sei que comparado ao Eterno isso não é nada, mas devo me lembrar que tanto a pedra quanto o sol servem a Deus. E apesar de uma primeira olhada numa pedra possa nos fazer pensar que ela não tem muita utilidade, na verdade se tivermos um olhar mais profundo chegaremos a conclusão de que ela possui o seu valor para onde está inserida.

Algo que li sobre a humildade é que esta virtude faz a pessoa não alçar voo mais do que sua própria natureza suporta. Ela faz um pardal voar até onde consegue e ser feliz por isso, e não se lamentar por não conseguir voar tão alto quanto um gavião. Rezo ao Senhor e a Virgem Maria para que eu possa ser útil e feliz onde Ele me colocou.

Para a primavera

Gosto muito de pensar em coisinhas para fazer durante as estações. Então juntamente com a minha amiga Alita, elaboramos uma lista de como poderíamos vivenciar os dias desta estação tão doce, pensamos em coisas que gostamos como a literatura, a natureza e qualquer outra coisa que nos fazem remeter a primavera. A minha lista ficou um pouco diferente da dela, mas alguns outros itens são bem semelhantes, como tingir o cabelo com algum chá (eu me inspirei nela, só mudei para o chá preto).

No começo deste mês estive preparando algumas cartas para enviar e eu resolvi adicionar sementes de uma erva chamada picão-preto (Bidens pilosa), relembrando uma época em que estive muito persistente em deixar o mundo mais florido, e consequentemente, mais belo! Consistia basicamente em plantar algo em algum espaço vazio que achasse pela rua por onde eu passava. Acabei percebendo que a primavera é a estação mais próxima, o que deixou meu coração super feliz porque sementes e primavera combinam tanto!

A inspiração só foi crescendo como um brotinho e eu escrevi uma pequena descrição da personalidade da primavera. Fiz de conta que esta estação estava personificada em alguma personagem, e ela se descreveu ao escrever numa folha de papel envelhecida com café.

Também plantei uma semente de girassol e fiquei bastante empolgada ao ver que a bouganvílea está crescendo tanto que já pude pegar algumas de suas folhas coloridas para extrair tinta. Também resolvi fazer isso com os musgos que revestem lindos troncos de árvores.

Outra coisa que já comecei a fazer foi pintar algo somente com pigmentos naturais. Desenhei uma tulipa utilizando os pigmentos do hibisco, feijão preto e cúrcuma. Eu obtive a cor verde fazendo uma mistura do azul (feijão preto) e amarelo (cúrcuma). Eu amei o resultado. Lembra bastante aquarelas delicadas.

Aos poucos irei montando este pequeno diário de atividades para fazer nesta estação. Estou bastante feliz e empolgada para essa nova jornada!

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A amizade de Charlotte

A Teia de Charlotte é uma literatura infantil escrita pelo autor Elwyn Brooks White. Esta leitura é bastante simples, mas não significa que não há uma grande profundidade na narrativa. Resolvi adquirir uma edição no original para ter mais contato com este idioma estrangeiro e por se tratar de um livro que já conhecia a história não tive dificuldades em lê-lo.

O livro narra a história de um porquinho chamado Wilbur, ele é o mais frágil e pequenino da ninhada. Por este motivo, o dono da fazenda, pai da garotinha Fern, decide sacrificá-lo. Fern ao saber disso, não mede esforços para salvar a vida de Wilbur. A menina argumenta que ela também nasceu pequenina e frágil e por isto, o porquinho também mercecia viver. O pai diz que há uma diferença enorme entre uma garotinha e um porco. É a partir deste momento que tentarei expressar algumas reflexões que surgiram em minha mente durante a leitura desta cena. Concordo com o pai da Fern, pois um ser humano possui muito mais dignidade que um animal, mas isto não significa que temos um “passe-livre” para maltratá-los sem nenhum motivo justo, por exemplo, a alimentação.

Fern promete ao pai que irá cuidar do porquinho, o nomeia de Wilbur e então o senhor pai permite que a menina cuide dele. O tempo passa e Wilbur fica grande demais para ser mantido dentro de uma casa. O pai da Fern decide vendê-lo aos tios da garota. Wilbur então é transportado para a fazenda e lá conhece a gansa, os carneiros, o rato Templeton e a aranha Charlotte! Nos primeiros momentos, Wilbur não consegue se adaptar muito bem, pois ele ansiava por um amigo para brincar, e nenhum animal que havia lá poderia ou não queria oferecer isto. Até que uma voz desconhecida lhe diz que será sua amiga. O porquinho fica extremamente feliz, mas não consegue ver a dona daquela voz. Charlotte lhe diz para ir dormir que no dia seguinte ele iria vê-la. Deste momento em diante é construído (ou tecido) uma linda amizade.

Neste momento fiquei refletindo que, geralmente, as crianças são ótimas fazedoras de amigos. Pelo menos algumas são porque quando eu era criança (e até hoje) não conseguia me ligar muito fácil aos outros que me eram estranhos. Entretanto, uma vez que eu esteja ligada espiritualmente a alguém, é um laço pelo qual eu me esforço para manter. O que me remete a pensar sobre a simplicidade e quando agimos de tal maneira, é gerado um efeito muito simples também. A Charlotte disse ao Wilbur que seria sua amiga da maneira mais prática. Não houve grandes complicações ou algum critério. Ela somente ofereceu a sua amizade.

Algo que notei e considero muito lindo nesta amizade é que a Charlotte foi dando mais sagacidade ao Wilbur. O porquinho é muito ingênuo sobre como realmente a vida é. Quando uma mosca cai na teia da aranha e a mesma suga o sangue deste inseto (o sangue dos insetos é chamado de hemolinfa), o Wilbur acha uma tremenda crueldade, e sua amiga lhe explica que isto é o seu café da manhã, e então Wilbur lhe pede para que não lhe conte mais todas estas crueldades. E a Charlotte replica: “mas é a verdade e eu tenho que dizê-la.” Ela tenta mostrar ao porquinho como são as coisas e que por mais duras que possam parecer, a verdade não deve ser negligenciada só para satisfazer os sentimentos de alguém.

Isto lembra-me a definição de amizade de Aristóteles, que foi descrita em três categorias distintas: 01) a amizade baseada na utilidade ou interesse, 02) a amizade baseada no prazer, e 03) a amizade baseada na virtude. Neste primeiro diálogo entre estas duas personagens já dá para perceber que a Charlotte não faz parte de modo algum do tipo 02, porque ela disse a verdade. Ela preferiu “correr o risco” de provevelmente o Wilbur não simpatizar muito com ela, do que se manter no prazer de ser bem vista ou aceita por parte do outro, ou quem quer que seja. Mas vale ressaltar, que ela expressou a verdade de uma maneira simples e caridosa.

O verão chega e conhecemos mais a fundo uma outra personagem que merece ganhar a atenção do leitor, o rato Templeton. Ele é uma criatura que está apenas interessada em seus próprios assuntos. Ele só pensa em comida e em espiar, ele se une aos outros animais da fazenda somente se ele percebe que obterá algum tipo de vantagem. Claramente o Templeton faz parte da categoria 01 que o Aristóteles disse, a amizade interesseira, esta é baseada completamente no egoísmo.

Ainda durante o verão, o Wilbur descobre que está sendo mantido ali porque os donos da fazenda pretendem comê-lo no Natal. O porquinho fica desesperado, ele chora porque quer conhecer a neve! Então a sua amiga Charlotte lhe promete que irá tentar salvar a sua vida, ainda sem saber como, mas garante que não medirá esforços para alcançar tal objetivo. Então ela passa vários dias pensando, a mesma diz que prefere ficar sozinha porque ela pensa melhor quando está sozinha… Até que em uma manhã ocorre um milagre, há algo escrito na teia de Charlotte: “Some Pig”. Algo que pode ser em português como “um porco e tanto” ou “que porco!”. O fenômeno chamou atenção da cidade inteira. Mesmo a Charlotte sendo tão pequenina e sem a menor chance de encontrar uma solução através da força, utilizou sua inteligência para o bem de seu querido amigo.

Somente este evento não foi o suficiente para que os fazendeiros desistissem de matar Wilbur, a frase acabou não sendo interpretada como a Charlotte esperava, pois ficou parecendo que “um porco e tanto” corroborou ainda mais para ele se tornar um bacon. A amiga aranha não desistiu e continuou trabalhando e pensando no que poderia escrever em sua teia. Ela resolve pedir a ajuda de Templeton, e este, como é de se esperar, só concordou em ajudar porque recebeu algumas recompensas, como o ovo da gansa que não saiu nenhum gansinho.

Eis que a época da grande Feira da cidade vem chegando e Wilbur consegue o destaque de concorrer com outros porcos por causa das famosas palavras sobre ele na teia. A Charlotte neste momento está passando por uma situação delicada, assim pode-se dizer. Ela reluta um pouco se vai com o seu amigo ou não, e penso que é a partir deste momento que é saltado aos olhos o valor de uma amizade verdadeira. A Charlotte está o tempo todo pensando no bem estar do outro e isto é uma aprova de sua fidelidade para com o Wilbur. Aqui gostaria de mencionar que esta personagem é um exemplo do que Aristóteles disse sobre o tipo 03 de amizade: aquela baseada na virtude. E quais são as virtudes que eu consigo observar na Charlotte? Caridade, paciência, abnegação, magnanimidade, perseverança e um grande espírito de sacrifício. A Charlotte acompanha o seu amigo, pois sabe que ainda há muito o que fazer, as outras palavras ainda não foram o suficiente para salvar a vida do porquinho. Até que ela encontra a palavra perfeita: Humilde.

Uma das cenas mais belas e que eu chorei ao ler (e também quando assisto ao filme), é quando o Wilbur pergunta a Charlotte: Por que você fez tudo isso por mim? E a aranha responde: Você tem sido o meu amigo, e isso em si é uma coisa tremenda. A Charlotte é muito maravilhosa! Acredito que esta pequena passagem da história consegue resumir o que motivou a Charlotte ser tão abnegada de si mesma.

Obrigada pela visita. ♡