A Princesa Flutuante, George McDonald

20 de janeiro de 2025: A noite demorou a cair, e no momento tudo é escuro… O curioso é que são nestes momentos que acontecem relâmpagos de pensamentos luminosos após um tempo de ter concluído uma leitura.

Bem, ontem eu terminei de ler A Princesa Flutuante e eu me surpreendi com o desenrolar da história! No começo da história a princesa é amaldiçoada pela sua tia bruxa e vingativa. A maldição consiste em perder a sua gravidade, então ela flutua como uma cípsela de dente-de-leão, ou como as nuvens… O curioso é que essa leveza abarca todos os âmbitos de sua vida.

“A menininha tinha sobre si apenas o manto etéreo do próprio sono.”

Essa leveza da Princesa, além de flutuar, consistia em nunca sentir tristeza, tampouco mágoa. Dar risadas de tudo e de todos. O mundo lhe parece uma brincadeira, ou melhor, o mundo lhe é, autenticamente, uma brincadeira. Seu jeito de ser é irritante em alguns momentos para os seus pais, mas no fim, ela é amada e querida por todos justamente por esse espírito tão pueril e encantador.

A princípio, eu estava considerando essa caracterísitca maravilhosa, imagina só nunca chorar?! Mas após um tempo pensando, creio que um dos temas que se pode observar na Princesa Flutuante é o quanto as lágrimas, principalmente as de arrependimento, são uma bênção. Há um momento da história que é muito comovente, é quando ela se dá conta de que toda essa alegria acabava a tornando entorpecida com a única pessoa que teve coragem de se sacrificar por ela, a Princesa se desata a chorar e a maldição quebra!

“Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.”

– Salmo 51.

O George McDonald conseguiu, através de um conto de fadas, falar sobre o coração contrito! Para mim, esse é o grande tema e o que mais despertou o meu interesse.

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Anseio por tornar a visitar Nárnia

“Presentes para vocês. São ferramentas, e não brinquedos. Talvez não esteja longe o dia em que precisará usá-las. Com honra!”  – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa.

Olá! Um Feliz Natal a todos! Bem, aconteceram tantas coisas nos últimos meses de 2024! Muitas delas foram apenas vivenciadas dentro da minha cabeça e apesar de soar um tanto abstrato, eu ficaria feliz em poder compartilhar um pouco do que vivi em meu mundo interior nestas palavras:

É que sinto uma verdadeira alegria quando descubro algo que consegue saciar a minha curiosidade. E a partir disso, muita magia surge na minha vida interior, onde as chuvas são como palavras que extraio dos livros e saciam a sede da minha mente fértil, imaginativa. Então durante essa jornada, mergulhei nos assuntos do meu interesse, vulgo, tudo o que diz respeito a Idade Média, e acabei descobrindo que o C. S. Lewis dava aulas sobre esse assunto!

Como eu nunca pude imaginar tal fato? É tão óbvio haha. Neste ano eu li A Divina Comédia e a Trilogia Cósmica e percebi que ambos poderiam ser literaturas irmãs em alguns aspectos, e o aspecto essencial é a visão cosmológica do medievo. Além disso, foi uma feliz descoberta saber que o Lewis se inspirou bastante em Dante Alighieri, entre outros escritores medievais tanto quanto professor, como escritor de um mundo mágico e também de incorporar essa visão de mundo em si mesmo, não apenas levando para o lado profissional, pois este era só a superfície da sua riqueza interior.

Digo com toda a sinceridade de uma criança: essa exploração me levou até o céu! Pois encontrei uma chuva dourada tão encantadora quanto um céu salpicado de estrelas, um livro chamado “The Medieval Mind of C. S. Lewis”, por Jason M. Baxter. Nele, o autor conta detalhadamente sobre um Lewis que não é muito conhecido entre seu público, o Lewis medievalista! E digo que tudo isso me levou até o céu porque eu acabei descobrindo que cada livro de As Crônicas de Nárnia é uma espécie de tradução do simbolismo astrológico para leitores modernos. Só para dar uma pincelada nos simbolismos dos planetas e o livro correspondente: Júpiter: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; Marte: Príncipe Caspian; Sol: A Viagem do Peregrino da Alvorada; Lua: A Cadeira de Prata; Mercúrio: O Cavalo e seu Menino; Vênus: O Sobrinho do Mago; Saturno: A Última Batalha.

Creio que cheguei no topo da montanha e agora é só erguer os olhos para o alto e contemplar! Esta contemplação significa que dentro de mim foi plantada a semente do desejo de voltar para Nárnia, ah, como faz tempo a última vez que li essa história tão deliciosa! Estou com tantas expectativas para a releitura porque agora eu tenho uma bagagem literarária bem maior, estou ansiando pelas novas impressões que irão surgir na minha mente. Isso não é fascinante?! Nada melhor do que começar o ano com a presença de Aslam! Bom, pretendo iniciar Janeiro com O Sobrinho do Mago e prometo ficar bem atenta para notar o que existe de venusiano nesta história.

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A minha primeira leitura de A Divina Comédia

Concluí a minha primeira leitura de A Divina Comédia e ela se deu no início da primavera (aqui no hemisfério sul foi o outono), tal como o Dante que iniciou a sua jornada em busca pela Verdade na primavera também! Se eu tivesse combinado, não teria dado tão certo essa coincidência. Esse detalhe sobre a primavera me chamou a atenção porque segundo alguns cálculos medievais, 18 de março foi a data do primeiro dia da Criação! Isso é só um grão de areia diante da praia da cosmovisão de outrora, mas que infelizmente não é tão falada porque atualmente tudo isso é visto como superstição e coisas do tipo. Bem, eu devo o interesse por essa leitura ao físico Wolfgang Smith porque foi por eu ter lido o seu livro, A Sabedoria da Antiga Cosmologia, que decedi ler imediatamente A Divina Comédia. Que Deus o tenha!

No Inferno nem preciso dizer que foi um inferno ter lido (desculpa o trocadilho kkk). Mas é que nessa parte só tem desgraça, castigo, murmúrio etc. Por falar em murmúrio, no Canto III, há versos sobre almas que blasfemavam a si mesmas murmurando sobre o dia e/ou lugar que nasceu, isso me chamou muito a atenção! Um dos Cantos que mais me deixaram em choque foi o XXXIII que narra a história do conde Ugolino que foi traído pelo arcebispo Ruggieri, foi por ele detido, junto com seus filhos e dois netos, trancado em uma cela até morrerem de fome. Ler sobre um pai que vê sua família morrer lentamente e sem poder fazer nada me doeu muito.

No Purgatório as coisas começam a melhorar porque as almas, apesar de sofrerem, elas ao mesmo tempo, sentem a esperança do dia que sairão dali para adentrarem no Paraíso. Elas também acham justo a sua purificação e sempre pedem ao Dante, que ao regressar, falem com seus parentes para que rezem por eles. No final do Purgatório, chorei muito porque é quando o Virgílio se despede do Dante e não vai mais guiá-lo, também fiquei rindo ao mesmo tempo que chorava porque eu não estava acreditando que um livro estava fazendo isso comigo. O meu marido olhava para mim e não entendia nada kkkk.

Por fim, o Paraíso!! Essa foi a parte que eu mais estava ansiosa para ler porque sabia de antemão que ela é a que mais têm referências ao simbolismo astrológico. Simplesmente fiquei feliz ao ler cada verso e também por ter conseguido compreender o porquê de cada alma beata estar em determinado planeta. Acredito que isso aconteceu porque já tem algum tempo que tento aprender sobre o simbolismo da astrologia tradicional, e mesmo eu não sendo nenhuma especialista, deu para ter uma boa compreensão do texto. Com a graça de Deus, pretendo me aprofundar cada vez mais nesse assunto.

Preciso comentar um outro ponto que me chamou a atenção. No final do Paraíso (Canto XXIX) nos é apresentado a respeito do céu material, e este é animado pelas Inteligências Angélicas, os anjos fiéis a Deus. Quando Beatriz discursa sobre quais são as faculdades destas criaturas, ela diz que São Jerônimo escreveu sobre os anjos terem sido criados séculos antes de o mundo ter sido feito, e incentiva o Dante a procurar isso nas Sagradas Escrituras. Ah, esse assunto coincidiu com uma outra leitura que fiz nesse ano, a Trilogia Cósmica do C. S. Lewis!

Algumas coisas que me fizeram rir [uma nota para quem diz que A Divina Comédia não é uma comédia (outro trocadilho absurdo, desculpa, eu não me contenho kkkk)]: O Dante se colocando no clube dos maiores poetas do mundo; O modo como o Virgílio dava bronca ou conselhos para o Dante; o Dante fazendo um elogio para o signo de Gêmeos porque foi sob este signo que ele nasceu; o Dante parecendo a personificação daquela música do Cazuza (Exagerado) quando se tratava da Beatriz; a Beatriz ensinando sobre cosmologia ao Dante; e o fato de que o Dante fez um “exposed” de várias pessoas, inclusive de Papas.

Enfim, eu gostei muito de ter lido A Divina Comédia, apesar de ter me arrastado por tanto tempo nesse livro, ele se tornou um dos meus livros favoritos e se Deus quiser, pretendo sempre relê-lo! Acredito que com o tempo, terei mais bagagem para compreender a obra profundamente. Ficou muito nítido o quanto Dante Alighieri é um escritor genial, portanto, ele merece estar no clube dos grandes poetas.

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Céu da Lua – A Divina Comédia

Olá! Estou sentindo vontade de compartilhar o que observei durante a leitura do Paraíso na Divina Comédia. Estas observações são singelas e baseadas no pouco de conhecimento que aprendi, até o momento, sobre o simbolismo astrológico. Tentarei fazer uma publicação para cada planeta e espero que isso ajude de algum modo aos leitores deste clássico. Segue o meu texto:

Chegamos ao Canto do Paraíso da concha concêntrica da Lua! Mas antes de tecer qualquer comentário sobre o Canto III, gostaria de falar um pouco sobre o simbolismo da Lua na astrologia e em seguida sobre o que é narrado.

Bem, a Lua é um planeta de fases, portanto ela nos fala sobre a mutabilidade ou inconstância. Ela também nos fala sobre os nossos sentimentos mais íntimos, o que nos faz feliz profundamente, sobre o que precisamos para nos sentirmos seguros.

Neste canto conhecemos a alma de Piccarda, então o Dante lhe questiona se ela não se sente infeliz por estar no lugar mais distante de Deus e se gostaria de estar em um lugar superior. Ela responde que este sentimento é impossível no Paraíso, porque a felicidade dos beatos da Lua reside justamente em cumprir a vontade de Deus, e isso lhe dá o sentimento de paz.

Durante a sua vida na terra, Piccarda fez votos ainda adolescente, mas o seu irmão a obrigou a se casar com um nobre. Apesar desse infortúnio, Piccarda manteve em seu coração os votos que fizera.

Percebemos que o tema central neste Canto são os sentimentos e aquilo que levamos no mais âmago de nosso ser, a nossa vontade mais profunda… Como o exemplo de Piccarda que conservou em seu coração a sua promessa, a sua vontade mais profunda, aquilo que estava escondido e só ela e Deus sabiam.

Também percebemos uma alusão mitológica da deusa Diana. Dante explora a concepção tradicional da Lua como planeta de Diana, a deusa virgem e protetora das mulheres.

Interessante observar também que neste Canto são nos mostrados apenas mulheres, a Lua é um planeta feminino, de qualidade úmida e fria.

Acredito que a alma beata de Piccarda nos faz refletir sobre o quanto nosso interior é importante, apesar do que ocorre externamente. O seu coração se manteve fincado em seus votos como a Cruz fincada no Monte Gólgota, mesmo tendo sido obrigada a viver um casamento infeliz. Deus é o nosso Pai bondoso que se importa com nossos sentimentos mais profundos e as circunstâncias a qual estamos inseridos, conhece plenamente o nosso coração e não desprezou Piccarda por ela ter tido que quebrar o seus votos, pois em seu coração ela foi fiel.

A Lua nos diz sobre a inconstância dos sentimentos, mas no coração humano há uma força superior.

 

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Jornal Literário: Livro de Gênesis

Finalmente consegui fazer um resuminho para o Livro de Gênesis! Eu senti muita dificuldade pelo fato de ser um baita livro, exigi de mim mesma muita responsabilidade, não que nos outros eu não fizesse o mesmo… Enfim, acredito que deu para mencionar os principais pontos e também o que despertou mais a minha atenção.

No final do ano passado resolvi fazer jornais literários porque eles unem minhas paixões: estudo, literatura e pintura. Por aqui, já postei sobre Bambi (Felix Salten) e Memórias do Subsolo (Fiódor Dostoiévski). O objetivo é fazer para todas as minhas leituras enquanto houver papel nesse caderno. Acredito que é um boa maneira de meditar sobre minhas leituras, de amadurecer na alma tudo aquilo que ingeri ao ler. E por que não adicionar algumas ilustrações? Tenho pintado com láspis de cor, caneta preta comum e recentemente acrescentei canetinhas de pintura.

Escolhi a minha frase favorita que é sobre o céu, tudo o que há nele e o propósito desta criação em específico. Acho que dá para notar que quando Deus vai criando cada coisa, Ele dá uma vocação para ela, certo? Os luzeiros do céu tem o objetivo de separar o dia e a noite, servem de sinais e marcam o tempo. Simplesmente amo o céu!

A mão colhendo a maçã é meramente ilustrativo, pois eu não sei qual fruto era e também é pelo fato de ser algo que está muito no imaginário das pessoas.

Obrigada pela visita. ♡

Memórias do Subsolo – Fiódor Dostoiévski

“Aproximemo-nos, pois, de coração sincero, cheios de fé, com o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água pura.”
― Hebreus, 10,22

Minha leitura mais recente (e que leitura!) foi Memórias do Subsolo. Aqui eu disse que foi um livro que mexeu muito com a minha alma, e eu acredito que isso acontece com todos os que se aventuram pelo subsolo, guiados por um personagem misterioso.

A personagem principal também é o narrador da história, portanto, todos os acontecimentos relatados são do ponto de vista do Homem do subsolo, e isso significa que talvez ele imaginou e exagerou coisas sobre os acontecimentos, ou não… O romance é uma espécie de diário composto por anotações onde descreve sobre a sua vida e sobre os seus pensamentos. Por se tratar de um diário, a personagem sente-se livre e à vontade para escrever o que há de mais profundo em seu íntimo, então o narrador revela suas falhas, contradições e reflexões. Pois bem, estas reflexões são dotadas de uma grande sensibilidade, ouso nomear desta maneira porque me refiro a sensibilidade em alcançar o cerne de sua própria alma.

É de impressionar, a nós leitores, o quanto ele compreendia sobre o que a perversidade pode causar em um ser humano. Ele é um homem amargurado, que se ofende por qualquer banalidade, se ofende ao ponto de desejar levar a ofensa até as últimas consequências e, ao mesmo tempo, ele se envergonha de não conseguir alcançar essas últimas consequências, de não ser capaz de ser um inseto (como o próprio se auto refere). Seu íntimo está mergulhado nas ideias vigentes da época, o niilismo, o romantismo, o racionalismo e o existencialismo. Vamos por parte, inicio pelo existencialismo.

O existencialismo é uma filosofia que afirma que os humanos devem procurar encontrar significado, identidade e moralidade em um universo sem sentido e incompreensível. A pessoa existencial luta para compreender quem ela é e como essa identidade se encaixa em um universo incognoscível.

O racionalismo estava na moda também na Rússia durante o século XIX, esta filosofia fundamentava que o homem é inatamente bom, portanto, se ele agir racionalmente e pensando nos seus próprios interesses, o mundo se tornaria perfeito. Na Rússia, o principal porta-voz desta filosofia foi Nikolay Chernyshevsky, que popularizou as suas ideias no seu livro de 1863, What Is to Be Done? E o Memórias do Subsolo é também uma resposta para este livro. Dostoiévski, por ser um ortodoxo convicto, não acreditava nesta filosofia. Os santos do Oriente viam o pecado original como uma consequência da desobediência de Adão, e apesar de ter deixado uma mácula em seus descendentes, não era ao ponto de apagar a centelha de bondade pois o homem foi criado a imagem de Deus. Então, quando o homem trabalha pela bonda, a graça divina o ajuda. Bem, não vou me delongar tanto nesse assunto, mas eu acho importante ter uma noção a respeito, pois para entender o texto, tenho que entender o autor…

O romantismo também foi criticado pelo autor. Esta corrente se oponha ao iluminismo, ao progresso científico. Os românticos rejeitavam absolutamente o racionalismo e abraçavam completamente o instinto, o sentimento, a natureza. Há um tempo escrevi um pouquinho sobre Anna Kariênina e as influências de Tolstói que inspiraram o romance, por algum motivo, acredito que se encaixa nesse assunto porque em Walden (Henry David Thoreau) há bastante exaltação pela natureza, algo bem romântico.

Por fim, o niilismo, o grande alvo! Para a ortodoxia, o combate contra o demônio é algo contínuo e o intelecto está “despedaçado” pelo mal (por causa da ação demoníaca sobre a alma), causando dificuldade em se concentrar, então o ser humano precisa se concentrar em algo para conseguir se distanciar da decomposição do intelecto. Então para o Dostoiévski, os ateus não percebem que a morte (do corpo) não é a principal forma de decomposição do homem. Esta é a essência do niilismo. Então, é como se o autor estivesse colocando um espelho diante de um niilista para fazê-lo ver o que esta ideia é capaz de causar na alma se a pessoa quiser levar esta filosofia adiante, de realmente pô-la em prática.

A influência religiosa é muito nítida em todos os livros do Dostoiévski que são considerados de sua fase madura. Os seus personagens são caracterizados com uma elevada consciência de si mesmos e tal fato os destroem, inevitavelmente, porque eles se recusam a suportar o tormento de viver uma vida sem esperança e tornam-se como insetos vivendo no escuro do subsolo. Mas alguns encontram a luz da vela.

Eu decidi desenhar uma vela no escuro e mariposas ao redor porque a consciência de si mesmo é uma graça divina, o fogo é também símbolo do divino (o fogo sempre se ergue para o alto, purifica objetos, cauteriza etc) e as mariposas são símbolo do pecado. Acredito que, simbolicamente, consegue resumir a novela

O pobre homem do subsolo me fez imaginar que este subsolo onde se encontra é um lugar escuro, e o escuro desvanece a visão. Mas um lugar escuro precisa de luz para que se possa ver o que há no ambiente, então usamos uma vela e o fogo para iluminar. Este fogo é sempre sublime, pois se levanta para o alto… O pobre homem do subsolo fechou em si mesmo e não pôde olhar para o fogo da vela se erguendo para o céu.

Obrigada pela visita. ♡

Sebo da Mimi

“Happiness is a warm puppy.”
― Charles M. Schulz

Adquiri dois livrinhos da coleção do Peanuts graças a uma amiga que iniciou um sebo online. O endereço online é este aqui para alguém que, assim como eu, ama visitar sebos presencialmente ou online e garimpar algo com um preço camarada.

Vou deixar uma parte da apresentação do sebo (eu achei uma fofura). Realmente, as bibliotecas são espaços mágicos, eu amo o ar que elas difundem e muitas vezes elas são o único acesso que uma pessoa pode ter a literatura. Quanto aos sebos, é uma maneira maravilhosa para começar a sua biblioteca particular. Espero que encontre algo de seu interesse na Mimi’s House.

“(…) Sou uma aspirante a livreira e moro e cresci numa cidade sem livrarias físicas até hoje, meu único acesso sempre foi a biblioteca, está vendo? Mas hoje também sou adepta as livrarias e sebos virtuais da internet, muito benéficos pra quem mora a distância das grandes cidades. Esse espacinho especial aqui é pra você que procura um livrinho usado/seminovo pra começar sua coleção, foi assim que comecei a minha, e era mágico quando cada livro chegava e, pronto: mal feito, feito! ♡ conquistou meu coração e espero que a magia dos livros em seus vários formatos alcance você”.

Obrigada pela visitia. ♡

Bambi – Felix Salten

“Sim, a vida era mesmo difícil e cheia de perigos,
mas viesse o que viesse, ele aprenderia a suportar tudo.”

Regressei a este livro porque a primeira vez que o li senti algo que não consiguia explicar. Embora o conteúdo tenha se desvanecido um pouco em minha memória, a lembrança daquele forte sentimento surgia sempre que eu lembrava de Bambi. Então resolvi reler em busca de recordar o porquê senti-me daquela maneira.

Então concluí a minha releitura e mais uma vez a literatura me faz sentir inclinada a registrar as minhas primeiras impressões, estas que tenho antes de pesquisar a respeito do autor e de sua obra. Recordo do sentimento que se impregnou na minha alma quando o li pela primeira vez, foi como um perfume de alguma flor vespertina que se abriu e eu não soube identificar a sua espécie. Mas neste momento sei exatamente o porquê, e creio que hoje posso balbuciar alguma palavra para descrever: uma experiência espiritual.

Não é espiritual no sentido de ver um fantasma, mas é algo que acontece no fundo do nosso ser, principalmente pelo próprio livro mencionar algo que está para além da natureza, de animais, de carvalhos, esquilos, lagos, raposas e cervos.

A história se inicia com o nascimento do Bambi, durante a primavera. Ele vai crescendo e descobrindo o mundo, descobre que há perigos neste mundo! Entre tanta vida, há também a morte, a mudança do tempo percebida pelas estações… Tudo muda, mas também tudo permanece igual. Os cervos nascem, mas nenhum é igual ao outro. E dentro desse universo há a perseguição que “Ele” faz às demais criaturas

“Ele” é o perigo e o perseguidor. Ele é pálido e sem pelos, possui três braços, e quando está com o terceiro, é sinal de grande risco. Embora pareça que o perigo venha somente de fora da floresta, dentro dela há as suas próprias nocividades. Uma pata deve se manter sempre alerta por causa das raposas; o esquilo igualmente, por causa das corujas. E esse mundo tão austero, aparentemente, é também regido por uma ordem, a lei da natureza. Mas um dia todos viverão em harmonia, um dia “Ele” irá brincar com os cervos e todas as demais criaturas do mundo porque o Criador de todos ressuscitou e renova todas as coisas.

O autor Felix Salten criou esta alegoria antropomórfica de si mesmo sobre a sua fuga para a Suíça na época da Segunda Guerra Mundial. Ele e sua família eram judeus. Inclusive, Hitler censurou o seu livro durante o regime nazista. Após eu ter lido sobre a obra, vi com outros olhos a leitura. Embora a minha primeira impressão não tenha sido de todo tão fora do propósito do autor.

Algumas coisas curiosas que percebi, o Bambi começa a sua vida sendo bastante curioso e entusiasmado por conhecer outros animais e ao longo de seu amadurecimento, ele vai preferindo ficar sozinho, abrindo uma exceção para a companhia do Velho Cervo, uma espécie de sábio da floresta. E é este velho sábio que ensina ao Bambi que o caçador não é maior que tudo e todos, que ele também morre e sente medo como os seus amigos da floresta. Então há Alguém que é maior que “Ele”, e é esse Alguém responsável pela criação de tudo o que existe.

Estava olhando fotos de “journaling” com o tema literatura e desejei fazer o mesmo. Que bom que o meu primeiro jornal literário tenha sido Bambi, pois é um dos meus livros favoritos, embora eu ainda não tenha nenhum exemplar. Ah, também decidi reler neste ano porque a obra está completando cem anos!! A aventura que vivi dentro do mundo do Bambi deixou-me feliz com as belas descrições da natureza, em especial o capítulo poético de duas folhas conversando e o anúncio do inverno. Senti também bastante aflição em alguns momentos e ao mesmo tempo esperança.

Edição II e umas notas aleatórias:

Bem, eu sou muito interessada em animais e eu estou sempre buscando (ou achando “do nada”) sobre algum santo que teve experiências com animais ou ensinou sobre como será a criação após a ressurreição dos corpos… Sei que este último é um assunto tratado pelos primeiros padres da Igreja, e infelizmente eu ainda não encontrei… Vou ter de ler a Patrística toda, pelo visto (risos). Já vi alguém dizer que São Máximo, o Confessor, escreveu a respeito de que Deus renovará todas as coisas, inclusive os animais, vegetais, corpos celestes, enfim, tudo o que Ele criou. E com a leitura deste livro, fiquei ainda mais obcecada em encontrar, mas por enquanto, eu acabei conhecendo umas histórias sobre São Francisco de Paula. Ele também foi alguém bastante interessado por animais e possuía um peixe e um cordeiro de estimação. Estes animais morreram e o santo rezou para Deus pedindo que devolvesse a vida aos seus bichinhos de estimação. E Deus, comovido com a sua humildade, lhe concede esta graça. O peixe se chamava Anatonella e o cordeiro Martinello. Também lembrei de São Francisco de Assis e o lobo selvagem que andava atormentando os moradores de Gubbio. Este santo selou a paz entre as pessoas e o lobo, o que me faz pensar: como os santos nos mostram com sua vida e devoção a Deus de como será na vida vindoura, acredito que a paz seja uma delas, até mesmo a paz entre “caça e caçador”.

Obrigada pela visita. ♡

 

The Bestiary of Christ

Pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. – Colossenses 1:16-17

Devemos nos iniciar nas letras profanas, antes de se empenhar no estudo das coisas sagradas. Primeiro devemos aprender a ver o reflexo do sol nas águas cristalinas e, depois, com a visão fortalecida, olhar diretamente para a luz pura. – Cartas aos jovens sobre a utilidade da literatura pagã, São Basílio.

O Bestiário de Cristo é um livro que nos apresenta um maravilhoso compêndio de simbolismo animal. Bem, acredito que esta frase de São Basílio pode ser usada também para ilustrar a importância de aprendermos os símbolos, principalmente para compreendermos melhor certos mistérios da fé. Os símbolos também são um modo de ensinar, afinal eles também possuem o papel de resplandecer uma mensagem. Enfim, creio que seja um bom modo de iniciar neste mundo tão rico e maravilhoso.

Esta edição foi uma encomenda que fiz com a Old Books, uma empresa com o objetivo de imprimir livros raros a partir de um pdf, caso algum leitor sinta interesse em conhecer este trabalho.

Obrigada pela visita. ♡

A fascinante lista de listas

O problema da ordem é um problema fundamental na vida do homem. No universo, cada coisa está no seu lugar; tudo se encaixa na ordem imutável das leis cósmicas.” – Jacques Leclercq.

As listas são um grande fascíno para mim. Elas me dão a sensação de pôr ordem no emaranhado de objetos que permeiam a minha imaginação. Além da ordem, agrada-me pesquisar se alguém que admiro também criou alguma lista… Bem, como este blog é repleto de leituras, acho que seria perfeito compartilhar minhas listas favoritas destas pessoas que utilizaram critérios e possuem autoridade. Também irei compartilhar a minha listinha, embora eu não seja nenhuma autoridade, mas quem sabe vale pela simples curiosidade em conhecer algo que recomendo…

Os itens marcados com um “✓” são os que eu já li e marcados com um “♡” são os que moram em meu coração!

Para começar, a lista dos 50 livros recomendados pelo Hayao Miyazaki:

  • ✓♡ O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry (1943)
  • Il Romanzo di Cipollino – Gianni Rodari (1956)
  • The Rose and the Ring – William Makepeace Thackeray (1854)
  • The Little Bookroom – Eleanor Farjeon (1955)
  • ✓ Os Três Mosqueteiros – Alexandre Dumas (1844)
  • ✓♡ O Jardim Secreto – Frances Eliza Hodgson Burnett (1909)
  • O Tesouro dos Nibelungos – G. Schalk (1953)
  • ✓ Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll (1865)
  • As Aventuras de Sherlock Holmes – Arthur Ignatius Conan Doyle (1891)
  • A Norwegian Farm – Marie Hamsun (1933)
  • Konek-Gorbunok – Pyotr Pavlovich Yershov (1834)
  • Souvenirs entomologiques – Jean-Henri Casimir Fabre (1879-1907)
  • Toui Mukashi no Fushigina Hanashi-Nihon Reiiki – Tsutomu Minakami (1995)
  • Ivan, o Tolo – Liev Tolstói (1885)
  • Eagle of the Ninth – Rosemary Sutcliff (1954)
  • ✓♡ O Ursinho Pooh – A. A. Milne (1926)
  • Les Princes du Vent – Michel-Aime Baudouy (1956)
  • When Marnie Was There – Joan G Robinson (1967)
    O Longo Inverno – Laura Ingalls Wilder (1940)
  • ✓♡ O Vento nos Salgueiros – Kenneth Grahame (1908)
  • The Ship That Flew – Hilda Lewis (1939)
  • Flambards – Kathleen Wendy Peyton (1967)
  • O Jardim da Meia-Noite – Ann Philippa Pearce (1958)
  • As Aventuras de Tom Sawyer – Mark Twain (1876)
  • Chumon no Ooi Ryouriten – Kenji Miyazawa (1924)
  • ✓♡ Heidi – Johanna Spyri (1888)
  • ✓ 20.000 Léguas Submarinas – Jules Verne (1870)
  • Os Pequeninos Borrowers – Mary Norton (1952)
  • Devatero pohádeky – Karel Capek (1931)
  • Swallows and Amazons – Arthur Ransome (1930)
  • The Flying Classroom – Erich Kästner (1933)
  • Robinson Crusoe – Daniel Defoe (1719)
  • A Ilha do Tesouro – Robert Louis Stevenson (1883)
  • The Twelve Months – Samuil Marshak (1943)
  • ✓ O Menino do Dedo Verde – Maurice Druon (1957)
  • The man who planted the welsh onions – Kim Soun (1953)
  • Strange Stories from a Chinese Studio – Pu Songling (1740)
  • The Voyages of Doctor Dolittle – Hugh John Lofting (1922)
  • Jornada ao Oeste – Wu Cheng’en (1500)
  • O Pequeno Lorde – Frances Eliza Hodgson Burnett (1886)
  • From the Mixed-Up Files of Mrs. Basil E. Frankweiler – Elaine Lobl Konigsburg (1968)
  • Alla vi barn i Bullerbyn – Astrid Lindgren (1947)
  • ✓♡ O Hobbit – J. R. R. Tolkien (1937)
  • O Feiticeiro de Terramar – Ursula K. Le Guin (1968)
  • O Cavalinho Branco – Elizabeth Goudge (1946)
  • Bylo nas pet – Karel Polacek (1969)
  • City Neighbor: The Story of Jane Addams – Clara Ingram Judson (1951)
  • The Radium Woman – Eleanor Doorly (1939)
  • O Incidente de Otterbury – Cecil Day-Lewis (1948)
  • Hans Brinker ou Os Patins de Prata – Mary Mapes Dodge (1865)

Agora a listinha que fiz:

  • Fábulas – La Fontaine (1668)
  • Beleza Negra – Anna Sewell (1877)
  • O Hobbit e O Senhor dos Anéis – J. R. R. Tolkien (1937; 1954)
  • As Crônicas de Nárnia – C. S. Lewis (1950 – 1956)
  • Contos de Fadas – Hans Christian Andersen (1835)
  • The Last Unicorn – Peter S. Beagle (1968)
  • Virtude Selvagem – M. K. Rawlings (1938)
  • A Princesa Prometida – William Goldman (1973)
  • Em Busca de Watership Down – Richard Adams (1972)
  • Bambi – Felix Salten (1923)
  • A Teia de Charlotte – E. B. White (1952)
  • Mulherzinhas – Louisa May Alcott (1868)
  • Ivanhoé – Walter Scott (1819)
  • Contos – Oscar Wilde (1888 – 1891)
  • A Princesa e o Goblin – George McDonald (1872)
  • Livros Coloridos das Fadas – Andrew Lang (1889 – 1910)
  • O Quebra-Nozes – E.T.A. Hoffman (1816)

Obrigada pela visita. ♡