Após minhas duas leituras de Dostoiévski (Os Irmãos Karamázov e recentemente Crime e Castigo) percebi que o tema da redenção e do sofrimento é muito marcante.
A redenção, em teologia, significa o resgate da alma, do ser humano por Nosso Senhor Jesus Cristo. Algumas vezes, este resgate ocorre após o homem passar por alguma espécie de calvário, e neste romance de Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo, o leitor irá acompanhar a dolorosa trajetória do personagem Ródia Raskólnikov.
Raskólnikov é um ex-estudante de advocacia que possui uma idéia relativista da qual passa muito tempo refletindo até chegar ao ponto de pô-la em prática. É a partir deste ocorrido que tudo muda para Ródia, pois os seus dias passam ora pelo delírio, ora pela reflexão e ora por muitos questionamentos. Em seu peito, ele começa a carregar toda a dor da culpa. O seu sofrimento não é em vão, pois a cada meditação e dor, ele vai alcançando uma purificação. O ápice desta purificação ocorre nos últimos capítulos do livro.
Crime e Castigo possui diversos temas que poderiam ser abordados longamente. Mas não posso deixar de mencionar que um deles é o tema da relativização moral. Logo de início percebe-se este tema através da teoria do Ródia, de que homens como Napoleão apesar de seus atos cruéis foram abssolvidos pela História e tidos como grandes. Em alguns diálogos dos personagens há também citado que as virtudes abstratas como a compaixão é deixada de lado, pois “a compaixão em nossa época está proibida até pela ciência e que já é assim que se procede na Inglaterra, onde existe a economia política.”
Mas o tema que mais me impactou foi o a da redenção. A personagem Sônia Marmeladova é fundamental para que isto aconteça. Sônia é uma moça muito pobre, assim como o Ródia. Ela vive com seu pai, um alcoólatra; sua madrasta, que provavelmente é louca; e os seus pequeninos irmãos por parte de pai. É uma família muito miserável e Sônia acaba entrando na prostituição para levar o pão de cada dia para casa. Seu pai acredita piamente que o Bom Deus irá perdoá-la, o que certamente ocorre, pois Deus não ignora os arrependidos verdadeiramente e Sônia se arrepende. Ela é muito modesta, um tanto tímida e bastante piedosa e é através dela que o Ródia começa a direcionar as suas reflexões para a verdade.
Acredito que a Sônia pode ser considerada a heroína desta história. Algo que tocou o meu coração sobre ela, é que quando ela sabe do crime que o Ródia cometeu, ela lhe oferece compaixão. Em um mundo onde se alastra cada vez mais o relativismo, o escritor sutilmente mostra ao leitor que sim, existe a verdade. Mostra que não são bobagens que foram “refutadas” pela ciência. Como a própria Sônia diz em um determinado momento: “O que seria eu sem Deus?”.
Crime e Castigo me fez caminhar na estrada da vontade do personagem, sua decisão de cometer uma ação horrenda, a execução, o arrependimento, a dor, o remorso, a esperança e a redenção.
Obrigada pela visita. ♡