A Consolação da Filosofia – Boécio

“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” - O Evangelho Segundo São Mateus, 11,28.

Boécio foi um filósofo, poeta, teólogo e estadista romano do século VI. Ele é considerado o mediador entre os períodos da antiguidade tardia e o começo da Idade Média latina, conhecida como “escolástica”. O seu trabalho “A Consolação da Filosofia” influenciou toda esta época que estava para surgir, e os seus intelectuais, filósofos, teólogos e santos! Este livro foi um deleite do começo ao fim. Embora o contexto no qual ele foi criado seja uma situação trágica, pois o Boécio estava preso, injustamente, acusado pelo crime de traição sob o rei ostrogótico Teodorico, o Grande. Ele passou um ano na prisão aguardando a sua sentença de morte.

Além de Boécio estar insirido nesta época de transição, o contexto histórico também é sobre o conhecimento do mundo grego estar desaparecendo rapidamente, levando os estudiosos ao esquecimento de filósofos gregos antigos como Platão e Aristóteles. Ele é especialmente lembrado pela Consolação da Filosofia, mas também desempenhou um importante papel de ressurgir o interesse pelos filósofos da antiguidade, graças a ele Categorias, de Aristóteles, foi traduzido para o latim e também alguns outros trabalhos de Platão.

O livro é caracterizado por um diálogo entre a Filosofia e o Boécio. Este a personificou em uma mulher com vestes de fios delicados, que a mesma fez. Seu porte inspira respeito, os olhos são flamejantes e revelam clarividência. Seu rosto resplandece, com feições de cores vívidas e que emanam uma “força inexaurível”. No início do livro, a Filosofia é apresentada como esquecida e maltratada porque os intelectuais romanos esqueceram dos gregos e os interpretaram erroneamente. Até o próprio Boécio havia se esquecido deles.

Após o autor ter se lamentado, invocando as Musas, pois estas sempre aparecem para evocar algum sentimento, como a cólera, que ocorre no Canto I da Ilíada, aqui uma elegia foi convocada. A cara Filosofia lhe aparece e não gostou nem um pouco das Musas com seus cantos de sereias. Ela então lhe fala: “Quem permitiu a estas impuras amantes do teatro aproximarem-se deste doente”? Confesso que este trecho tirou de mim boas risadas. Essencialmente o Boécio padece porque lhe falta razão e isto vai ficando cada vez mais claro ao longo do texto. Acredito que pode-se resumir esta obra da seguinte forma: a vitória da razão sobre a insesatez, que foi gerada devido a tristeza.

“(…) vou então tentar por um tempo dissipar por atividades sutis e mesuradas as trevas de tuas impressões enganosas, para que possas reconhecer o brilho da verdadeira luz.”

Segundo o Prof. José Monir Nasser, a Filosofia cura o doente como uma espécie de terapia. A sua primeira ação é tirá-lo do estado emocional e levá-lo à razão. Mas para isto, a Filosofia irá utilizar alguns métodos. O primeiro é fazê-lo (1) desabafar como se sente em seu interior; (2) lembrar que é além de um animal racional e mortal; (3) e que o fim último da alma humana é Deus.

“De fato, é devido ao esquecimento que estás perdido, que te lamentas de ter sido exilado e privado de teus bens. É porque desconheces qual é a finalidade do universo que tu imaginas serem felizes e poderosos os que te acusaram. É porque esqueceste as leis que regem o universo que julgas que a Fortuna segue seu curso arbitrário e que ela é deixada de livre soberana.”

Em seguida, a Filosofia percebe que o principal motivo da tristeza do Boécio é o fato dele ter perdido tudo o que ele possuía e toma este acontecimento como uma reviravolta da Fortuna, mais uma vez ela lhe diz que se ele se lembrasse da sua natureza, não estaria em desespero. Ela irá interpretar a Fortuna para argumentar sobre o fato deste mundo ser regido por Deus e que as coisas não são ao acaso. Fala-lhe que há época em que a terra se veste de flores e frutos, e depois de chuvas e geadas. É a insatisfação do homem a causa de tanta melancolia e não das circunstências em si mesmas e embora a tempestade por mais violenta que seja, não é capaz de abater aquele que possui âncoras bem firmes.

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu” - Eclesiastes, 3.

Ela lhe diz sobre como a nossa natureza é buscar a nossa origem, o princípio de tudo, como o pássaro que sempre busca a liberdade no bosque e como esta analogia se assemelha a busca pela felicidade, o que no fim significa a busca por Deus, a felicidade em si mesmo. Mas quando buscamos algo que está fora de Deus, nunca estamos satisfeitos, completamente felizes. O oposto dessa natureza sempre é hostil e destrutivo. Assim, creio que o pecado é hostil e destruidor ao gênero humano, pois a nossa natureza é a divina, porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Então Deus é o bem, e é o bem que governa e garante a estabilidade do universo.

“A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.” - Gênesis, 1.

Boécio então lhe fala que sua maior angústia é ainda que o mal possa existir e até continuar impune e que a virtude não receba nenhuma recompensa, mesmo o universo sendo regido pelo bem supremo. Então é neste livro (IV) que a Filosofia inicia a sua explicação sobre como o poder está sempre ao lado dos bons, enquanto os maus são impotentes, daí começa a surgir os conceitos de vontade e capacidade humana. Quando alguém deseja algo e não consegue realizar este algo, é a capacidade que lhe falta. E quando acontece o oposto, é a falta de vontade. Portanto a ação não pode alcançar a plenitude por causa da falta de um dos dois. A vontade e a capacidade unidas buscam o bem, tanto os bons e os maus fazem isto e a obtenção do bem torna alguém bom, logo, se um mau obtém o bem, deixa de ser mau. “Por conseguinte, dado que tanto uns quanto outros buscam o bem, enquanto uns obtêm e outros não, podemos duvidar do poder dos bons e da fraqueza dos maus?

Os maus demonstram a sua fraqueza pela intemperança, pela sua incapacidade de resistir ao vício. Quando eles desviam do bem com plena consciência, além de tornarem-se fracos, deixam simplesmente de ser, “pois aqueles que renunciam àquilo a que tendem todas as coisas cessam ao mesmo tempo de ser” porque para ser, é necessário conservar a boa ordenação da alma e preservar a própria natureza, então aquele que renuncia a sua natureza, renuncia também “a ser aquilo de que sua natureza depende“. Argumenta também que o justo mesmo sofrendo infortúnios, o seu sofrimento é atenuado porque ele participa do Bem. E os maus se beneficiam quando são punidos, pois uma parte do bem, a justiça, lhes é acrescentada.

No Livro V, os temas abordados são o livre arbítrio, a presciência de Deus e a Providência. Nestes temas, há influência de Aristóteles, especificamente da obra Física. A Filosofia diz que este filósofo nos fornece a definição que chega mais perto da verdade. A definição trata-se de que quando ocorre algo além do previsto em uma ação realizada com um determinado fim, chama-se isto de “acaso”. Este é definido como um acontecimento inesperado, resultado de variadas circunstâncias. O que provoca estas circunstâncias variadas é a ordem que procede todo o encadeamento inevitável, o que tem fonte a Providência, pois ela dispõe todas as coisas em seus lugares e tempo.

O livre arbítrio existe e não contradiz a presciência de Deus, e se fosse o contrário, nenhum ser dotado de razão poderia existir. Todo ser racional possui a faculdade do juízo, o que lhe permite escolher o que lhe é desejável e evitar aquilo que não lhe é desejável. É a faculdade que lhe permite distinguir cada coisa. Quanto mais uma pessoa escolhe o bem, mais livre ela se torna. E quando ela escolhe mais se ligar à carne e ainda ser levada completamente pelos vícios, maior é o seu estado de servidão. Neste livro também é abordado sobre a variedade de tipos de conhecimentos, e isto ocorre devido as diferentes variedades de substâncias. A Filosofia explica que isto acontece porque o homem é percebido conforme um modo diverso: os sentidos, a imaginação, e a razão ou a inteligência. Assim cada coisa é percebida através de sua natureza, por exemplo, as coisas materiais só podem ser conhecidas através dos sentidos.

Enfim, são temas muito complexos explicados por todo o livro e tentei trazer aqui um resumo do que a Filosofia ensina ao Boécio e o modo que utilizou para tirá-lo do seu estado depressivo. Até mesmo o próprio autor enfatiza que o homem não pode saber tudo sobre Deus. Espero que ninguém se sinta incapaz de ler esta obra, eu consegui com a ajuda de alguns materiais que pesquisei pela internet, também pela aula do Prof. José Monir Nasser e da Prof.ª Sílvia Maria de Contaldo, são encontrados no Youtube.

O livro é um ótimo exemplo de que fé e razão não são contraditórias, pois o Boécio faz toda uma peregrinação para explicar a existência de Deus usando somente raciocínios filosóficos. Nada do que ele escreveu contradiz a doutrina, inclusive ele foi beatificado pelo Papa Leão XIII em 25 de dezembro de 1883 e a sua festa é no dia 23 de outubro. São Severino Boécio, rogai por nós!

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Resolvi começar a escrever mais sobre minhas leituras no Bosque, e desta vez estou tendo a audácia de pedir livros! (rindo de nervoso). Aqui está a lista: Lista do Bosque do Robin. O link também está no topo do blog. Eu gostaria de compartilhar mais o que venho aprendendo sobre assuntos do meu interesse e quem sabe trocar idéia com quem me lê. Também criei um link de associado da Amazon, então se você gostou desse texto, deseja obter o livro e quiser me ajudar, compra através deste link, por favor? Que Deus lhe abençoe!

Obrigada pela visita. ♡

O Vermelho e o Negro – Stendhal

“A violência de sua paixão causará sua ruína”

– Eclesiástico, 1.

Julien Sorel é o personagem principal do romance. Ele é descrito como um jovem introvertido, de aparência angelical, com aptidão para o intelecto e um grande admirador (secretamente) do Napoleão Bonaparte. Ele também é bastante ambicioso e está entre o dilema de seguir a carreira militar ou a eclesiástica. Mas não por sentir-se inclinado pela vocação, apenas pelo anseio de poder e status na sociedade burguesa da França e estes caminhos são os mais viáveis para as suas circunstâncias. Acredita-se que o título do livro seja devido a esta dúvida entre ser militar (uniforme vermelho) ou ser um padre (vestes pretas).

Sorel é um sujeito que acredita que os fins justificam os meios, portanto, não existe nenhum escrúpulo de sua parte e irá agir da maneira que bem lhe aprouver para conquistar seus objetivos, independente do que causará às pessoas ao seu redor. Ele pensa somente em si mesmo. Seu caráter é extremamente orgulhoso, ao ponto de não permitir que ninguém lhe faça sentir-se por baixo devido a sua posição social. Nestes momentos percebe-se que ele faz juízo temerário das pessoas, pois sempre pensa que elas querem “lhe passar a perna”. Para Sorel, todos são hipócritas, exceto ele mesmo.

Esta sua visão sobre a sociedade lhe torna uma pessoa bastante ressentida e vingativa. É estranho vê-lo tomar este rumo para sua vida porque grandes oportunidades nunca lhe faltaram, o padre que vê seu potencial e lhe ensina latim, o emprego de preceptor numa boa família, a estadia no seminário e o cargo de secretário de um grande político. Nada disso lhe foi o bastante pois suas paixões lhe falavam mais alto e sempre decidia cometer algo imoral.

O Professor José Monir Nasser comenta que o Julien é um homem que não conhece a si mesmo. São raros os momentos em que ele pausa para refletir sobre a sua vida interior. Um dos momentos em que ele faz isso é quando está no seminário, um local silencioso e propício a reflexão. Porém ele considera tudo aquilo um enorme tédio. O outro momento é quando está aguardando a sentença de morte e medita sobre assuntos profundos. Acredito que foi somente diante da morte que lhe ocorreu uma fagulha de sabedoria.

 

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

(I Coríntios, 13).

Apesar de ser muito inteligente, pois ele sabia a Bíblia toda em latim, não havia nada de bom e puro em seu coração. Esse tipo de situação me faz pensar que os livros não são tão responsáveis por nossas atitudes, porque a semente está em nosso coração. “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia.” (São Tiago, 1). É necessário lembrar que a maldade não é somente culpa do demônio, pois existe a concupiscência, e se ela não estiver dominada, não há maturidade para discernir o bem do mal, o falso do verdadeiro etc.  O coração do Sorel estava muito duro pelo ressentimento, precisaria de um milagre para reconstruí-lo. A sua inteligência não foi o bastante.

O livro lembrou-me um pouco Anna Kariênina (Tostltói), devido as várias dualidades inseridas na história e também acabei comparando um pouco o Sorel com o Raskólnikov (Crime e Castigo, Dostoiévski), pois ambos protagonistas são jovens, ambiciosos, pensam em Napoleão… Mas cada um teve um final distinto.

Como uma boa obra filha de sua época, o Romantismo, é recheado de trechos que evocam o sentimentalismo exarcebado e a fantasias malucas. Por exemplo, quando a Mathilde fica entusiasmada por quase ter sido assassinada pelo homem que amava (amiga?). São incontáveis exemplos.

É um bom livro clássico que merece outras leituras para captar tudo o que pode ser extraído dele. Não somente pelos temas como a política e a religião, mas principalmente por proporcionar ao leitor (assim ele permita) uma espécie de exame de consciência, tal qual o Dorian Gray quando viu sua alma na pintura. Espero que a nossa visão não seja tão assustadora, mas se o for, não sinta desespero porque existe a sublimidade da redenção de Jesus Cristo!

Deixarei para um outro momento refletir sobre as demais questões, pois ainda possuo um entendimento bem vago e raso sobre elas. De qualquer modo, considero que foi uma leitura bastante proveitosa.

Obrigada pela visita! ♡

Livros para 2023

Sempre fico animada para fazer lista de leituras com a aproximação de um novo ano. Escolhi doze livros para ler ao longo de 2023, se Deus quiser! O critério da escolha são livros que tenho aqui há um tempinho; ainda não foram lidos ou concluídos; e estou ansiosa para conhecê-los.

Gostaria de tecer uns breves comentários sobre cada um e o motivo do meu interesse. Vamos lá!

01. O Vermelho e o Negro, Stendhal.

Estou bem animada para esta leitura porque é literatura francesa e já faz alguns anos que tenho me aventurado pelo idioma francês, mas a minha edição é em português mesmo, acredito que ainda não tenho capacidade para ler no original um romance desta magnitude. Este livro faz parte do movimento literário chamado Romantismo, é uma época da cultura ao qual sinto interesse em compreender profundamente, a modernidade é muito influenciada por causa deste movimento. Então, para mim, a literatura é uma boa maneira de ajudar nos estudos de algum tema.

02. Arquipélago Gulag, Soljenítsyn.

Saindo da França e indo diretamente para a Rússia soviética… Bem, jamais teria escolhido este livro um tempo atrás porque eu sinto receio de ter conhecimento sobre fatos muito, muito tristes. Porém, sinto-me fortalecida para lê-lo. Além do mais, o comunismo também é um outro assunto que desperta o meu interesse. Escolhi alguns textos de apoio: as encíclicas Rerum Novarum, do Papa Leão XIII e Divini Redemptoris, do Papa Pio XI.

03. Sonetos, William Shakespeare.

Há anos não leio nenhum poema e é algo que sinto vontade de mudar, pois aprecio a poesia (embora meu conhecimento seja raso). Então tá mais do que na hora me deliciar com Sonetos. A minha edição é bilíngue, vai ser divertido apreciar o inglês antigo!

04. O diabo e outras histórias, Liev Tolstói.

A vontade de ler este livro aumentou bastante desde que eu vi um professor falar sobre alguns dilemas da nossa época, como o vazio existencial, doenças da mente e mencionou este livro. São temas que também despertam o meu interesse, e eu ainda não conheço o trabalho deste escritor quanto aos contos, mas tenho certeza que será muito proveitoso porque o Tolstói escreve de maneira magistral e sou apaixonada em como ele descreve o ambiente e o psicológico dos personagens.

05 e 06. Os 77 Melhores Contos, Hans Christian Andersen.

Esse aqui é meu grande amorzinho! Sinto um apreço enorme pelos contos de fada de modo geral (existe alguns que eu não gosto), e o Andersen é o autor de vários contos que tenho como favoritos: O Pinheiro de Natal, O Patinho Feio, A Roupa Nova do Imperador… Os contos de fadas não são apenas historinhas bobas para crianças. Eles são ricos e profundos, nos oferecem um banquete de filosofia, psicologia humana, moral, simbolismo e em algo que muitas pessoas atuais andam perdendo: senso de realidade.

07. Utopia, São Thomas More.

A única coisa que sei a respeito é que se trata de como seria uma sociedade cristã perfeita e que ele aparece no filme Para Sempre Cinderela (uma vez gravei este filme num VHS para assistir quando eu quisesse haha). Eu me interessei muito mais pelo Thomas More após ter assistido ao filme O Homem que não Vendeu sua Alma. Além do fato dele não ter negado a fé por causa dos caprichos de um adúltero, algo que chamou minha atenção foi quando ele estava na prisão e foi tão resiliente e só fez questão de poder ter acesso a biblioteca. Muito inspirador! Se Deus quiser, irei ler suas obras espirituais algum dia.

08. A Boa Educação, Tihamer Toth.

O Pe. Tihamer Toth ajuda o leitor a como se comportar em determinados ambientes, com determinadas pessoas, com a carreira que escolheu seguir e assim por diante. Ele nos conta que Deus nos acumulou com incontáveis bençãos e graças e o que será que estamos fazendo com elas? Será se somos um jovem bem educado? Um homem honesto e virtuoso? O livro é mais voltado para os rapazes e homens, mas como a educação é outro assunto que gosto (eu gosto de muita coisa, como podem perceber haha), resolvi adquirir o livro.

09. Categorias, Aristóteles.

Finalmente darei início a algo que venho postergando há tempos: conhecer Aristóteles. Eu pesquisei algumas ordens de leituras para iniciantes e escolhi Categorias porque tem tudo a ver com a minha graduação e ao fato de que amo organizar minhas coisas em categorias e ainda há o fato do Aristóteles ter elogiado o meu temperamento, então ele me elogiou (indiretamente, mas elogiou) e já o considero um amigão. Mortimer Adler diz no livro ‘Aristóteles para Todos’ que algumas pessoas podem desconsiderar o trabalho do filósofo só por ele ter sido da antiguidade e que seria melhor aprender sobre o mundo com a ciência moderna. Bem, foi exatamente isto o que aconteceu quando estava na graduação. Lembro de uma aula de botânica que Aristóteles foi visto como algo ultrapassado e que não deveríamos nos atentar a ele. Foi citado apenas em uma frase e partimos para o tal do conhecimento moderno (por que as pessoas acham que moderno é necessariamente sempre o melhor?).

10. A Consolação da Filosofia, Boécio.

Iniciei ano retrasado, mas não concluí. Então preciso reiniciar e apreciar cada detalhe porque o pouco que li já me senti completamente maravilhada! Acredito que será uma das melhores leituras da vida. O fato do Boécio ter escrito algo tão sublime estando na prisão e ter sido condenado a morte é de uma grande inspiração! Consigo sentir que muitas vezes permito a tristeza entrar por motivos tão fúteis e considero necessário estar por perto de algo desta magnitude para elevar o espírito sempre a Deus.

11. Don Camilo e Seu Pequeno Mundo, Giovanni Guareschi.

Quando penso em Don Camilo eu começo a sorrir, simplesmente é o personagem mais engraçado e sincero que já conheci. Também iniciei esta leitura e não concluí. Admiro muito a relação que ele tem com Nosso Senhor Jesus, ele sempre fala o que pensa diante dEle, mesmo sendo coisas nada boas. E o Senhor Jesus sempre lhe corrige com amor e paciência. Uma coisa interessante sobre a obra é que Don Camilo vive em pé de guerra com um comunista da cidade, porém esse comunista parece que ainda não está completamente envenenado pela ideologia, pois ainda se importa com as coisas de Deus.

12. Roverando, J. R. R. Tolkien.

Por fim, escolhi algo completamente fofinho do meu querido Tolkien! Roverando é dedicado ao Michael, seu filho. Foi o modo que o autor decidiu para consolar o pequeno que esta extremamente triste por ter perdido seu cachorrinho de brinquedo durante as férias na praia. É muito bom ver esse lado paternal espelhado na literatura.

Espero que vocês tenham um abençoado ano novo!! Até mais!

 

Obrigada pela visita! ♡

Anna Kariênina, natureza e a Lei Natural

Eles saberão, enfim, que todos os bens da natureza, todos os tesouros da graça, pertencem em comum e indistintamente a todo o género humano e que só os indignos é que são deserdados dos bens celestes“- Papa Leão XIII, “Rerum Novarum”, 15 de maio de 1891.

No início da primavera comecei a reler Anna Kariênina, a primeira vez que li foi no começo desse ano, mas resolvi ler mais uma vez em um intervalo de tempo tão curto porque minha amiga me convidou para fazer uma leitura conjunta.

Desta vez eu me atentei bastante às questões filosóficas que o Tolstói personificou no romance, foquei mais no naturalismo e no pensamento transcedental por causa do meu personagem favorito, o Liévin. E também por já ter tido contato com o Thoreau há uns anos e acabei sabendo que ele foi uma forte influência para o escritor. Então me sinto um pouquinho segura para escrever sobre o que se passou na minha mente durante a leitura. E o Thoreau foi influenciado por Ralph Waldo Emerson, autor do tratado filosófico chamado de “Natureza”.

Em Walden, o Henry David Thoreau, descreve a sua vida no bosque, desde as descrições econômicas e da natureza até as suas reflexões mais íntimas e espirituais. Portanto, além de ser um relato autobiográfico, é também um tratado filosófico. Enquanto em Natureza, o Emerson expressa inúmeras reflexões espirituais sobre a natureza, os bens materiais, beleza, linguagem, disciplina, idealismo, etc.  Considero importante dar uma pequena introdução sobre estes escritores pelo fato de serem influências do Tolstói, direta ou indiretamente, pois no romance há a dualidade da vida aristocrática na cidade e a vida simples no campo.

Thoreau ensina a verdadeira revolução, a única que vale a pena e que não derrama sangue: essa que permite mudar a ordem do mundo, mudando-se e convidando os outros a mudar“, texto, publicado por La Nación, 04-08-2019.

É sabido que Liévin é o alter-ego do Tolstói. Este personagem se sente muito desajustado na vida urbana da aristocracia. Ele prefere cuidar da sua propriedade rural, caçar, lidar com o nascimento de um bezerro, escrever um livro sobre agricultura, não se incomoda com sua própria companhia e medita sobre a questão dos mujiques (os camponeses da Rússia) e essas séries de acontecimentos que só existem em um lugar cercado por natureza.

Trecho de Walden, ou a Vida nos Bosques. Ele lembra-me muito o Liévin.

No decorrer do romance, vamos percebendo que a vida no campo é demonstrada como um ideal, enquanto a vida burguesa russa é apresentada com muitas futilidades. Em Walden, Thoreau propõe o que ele chama de uma “medicina eupéptica”, uma medicina para produzir o bem, e para distanciar a maldade. E essa mudança está intimamente relacionada com o convívio do homem com a natureza. Provavelmente é desta reflexão que o Tolstói se influencia e a põem no seu personagem, o qual representa tal ideal.

Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento“. – Gênesis, Capítulo 1, versículo 29.

Tolstói escreve em seu diário que se sente sufocado no mundo social, e por isso, prefere ficar sozinho no campo. É esse afastamento que o faz observar o outro lado da vida, onde há a ganância por poder, riquezas, traições e falsas aparências. E Thoreau reflete sobre os vícios da sociedade de sua época: a cobiça, comprar, possuir, consumir, substituir. Para ele, e também para o Tolstói, é também uma vida falsa com os outros: uma vida reduzida à superfície, às aparências, à mundanidade, aos salões, festas.

No romance, podemos perceber estas questões filosóficas nos personagens principais e secundários: na vida aristocrática russa existe muita falsidade e divertimentos medíocres, onde as pessoas se reunem para conversar sobre a vida dos outros e discutir sobre assuntos profundos de maneira rasa ou com viés moderno.

A maioria dos personagens da burguesia urbana estão muito longe de representarem um exemplo a ser seguido. Enquanto do outro lado temos o Liévin e a Kitty, ambos aristocráticos, mas que vivem no campo (Kitty passa a viver no campo após o casamento). Eles não são a personificação da perfeição sublime como o Alexei Karamázov, do romance Os Irmãos Karamázov, do escritor Dostoiévski (não consigo evitar comparações), mas é possível notar o desejo de se tornarem melhores e como eles vão amadurecendo ao longo da narrativa. Algumas virtudes notadas nesta atmosfera: o trabalho, o casamento fiel, e a busca por Deus.

Todas as coisas são morais, e em suas ilimitadas mudanças fazem incessante referência à natureza espiritual. Assim foi glorificada a natureza em suas formas, cores e movimentos, para que todos os planetas dos céus mais remotos, todas as transformações químicas desde o cristal mais rude até as leis mesmas da vida, todos as transformações vegetais desde o início do crescimento de uma folha até as selvas tropicais e as antediluvianas minas de carvão, todas as funções animais – desde a esponja até Hércules – sussurrem ao homem ou lhe gritem com voz de trovão as leis do bem e do mal, e façam eco dos Dez Mandamentos.” – Natureza, Ralph Waldo Emerson.

Anna e o seu amante Vrónski não representam o ideal de amor proposto por Tolstói, que é o da simplicidade natural, estes não podem escapar do destino que ocorre para aqueles que se desviam das leis naturais e divinas. Portanto, não é a suposta rejeição de Vrónski que leva Anna à ruína; mas, sim, as suas escolhas egoístas e a culpa que a domina em seu íntimo, até tomá-la por inteira. Culpa que a arrasta em uma correnteza invencível até a loucura. Mas parece que o Karienin também não corresponde a este ideal porque este casamento ocorreu por conveniência, interesses…

“O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja adequada.” – Gênesis, Capítulo 2, versículo 18.

Kitty e Liévin representam o ideal proposto pelo escritor. No começo do livro, a Kitty era apaixonada e iludida pelo Vrónski e muito contagiada pelos ares sensuais da civilização urbana. Vrónski não tinha pretensão nenhuma de casar-se com ela e após esta tremenda desilusão, ela acaba ficando doente e conhece uma moça muito devota, a qual a faz despertar para uma nova vida. Esta mudança será mais notória após o casamento, pois ela se revela uma mulher determinada, forte, fiel, submissa e uma boa companheira.

Minha reflexão geral:

Para Tolstói, a vida no campo é um ideal de beleza e moral, pois se está longe da vida mundana dos ricos da cidade grande. A hipocrisia lhe causa mal estar, portanto ele se torna um crítico ferrenho da sociedade de sua época. O autor consegue expressar que as escolhas que cada personagem faz é o que determina o seu destino. Se alguém busca pela Verdade, com certeza encontrará a redenção. Mas ao escolher seguir as próprias vontades, o destino é outro, sempre vazio de sentido e trágico, de algum modo. O escritor nos mostra que um amor baseado na razão é muito mais suscetível a crescer, apesar daquelas dificuldades que são inevitáveis. Enquanto o amor que se assemelha mais a um furacão, destrói tudo ao redor, inclusive a si mesmo.

 

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Cicely Mary Barker

Olá! Esta publicação é um pouquinho sobre a vida da ilustradora Cicely, sua arte e o quanto ela me inspira quando decido desenhar. Há um tempo escrevi um pouco sobre a Beatrix Potter, se quiser ler é só clicar aqui.

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Cicely Mary Barker foi uma ilustradora inglesa que viveu entre os anos de 1895 e 1973, ela é bastante conhecida por uma série de ilustrações de fantasia representando fadas e flores. Seu interesse por pintura e desenho começou desde a infância. Nesta fase da vida, a Cicley possuía a saúde muito frágil e tinha crises epilépticas. Devido a tal circunstância, a sua família lhe deu educação domiciliar e a pequena passava o seu tempo livre desfrutando de livros ilustrados. Seu pai foi também um artista e lhe influenciou a se dedicar a pintura, deste modo, a pequena Barker ingressou, aos 13 anos, na Croydon School of Art para tomar aulas.



Com o falecimento de seu pai, Cicely utilizou o seu talento para ajudar a família, juntamente com a sua irmã mais velha, a Dorothy, que criou um jardim de infância em casa com o mesmo objetivo. As famosas fadinhas das flores são baseadas nestas crianças que frequentavam o jardim, adicionando fantasias nelas. Cicely escreveu no prefácio de Flower Fairies of the Wayside: “Então deixe-me dizer muito claramente, que eu desenhei todas as plantas e flores com muito cuidado, do real; e tudo o que eu disse sobre eles é tão verdadeiro quanto eu poderia fazer. Mas nunca vi uma fada; as fadas e tudo sobre elas são apenas “fingir”.”



Cicely foi uma cristã (anglicana) muito devota e fez outros trabalhos para expressar a sua fé. Entre eles está um livro em que trabalhou juntamente com sua irmã, chamado de A Little Book of Bible Stories, este foi escrito pela Dorothy. Um outro chamado The Children’s Book of Hymns, o qual possui as suas orações e cantos prediletos. Mas não foi somente isto, ela também pintou uma série de grandes obras para igrejas em todo o Reino Unido. Ela também fez painéis para a Igreja que frequentava em Croydon, a St. Andrew. Estas obras são pinturas a óleo representando os sete sacramentos e rolos batismais para a parede atrás da pia batismal. Uma de suas pinturas do Menino Jesus, The Darling of the World Has Come, foi comprada pela Rainha Mary.

fonte das imagens

Admiro bastante o trabalho da Cicely e eu sempre penso nela quando pretendo desenhar pessoas, porque seus desenhos possuem beleza e proporção. São coisas que pretendo alcançar no meu próprio trabalho, provavelmente levará algum tempo, mas graças a Deus acredito que poderei fazer isso por muitos e muitos anos. Há um tempo, resolvi começar a pôr em prática esse desejo observando como é o seu traço e quando se desenha, a única maneira de aprender é praticando! Só tentei não fazer tão indêntico, eis o motivo de ter mudado as roupas e retirado as asas.

Além das ilustrações, que é impossível alguém não se encantar, amo ler os poemas que acompanham cada espécie botânica. Sim, não são somente flores… Há árvores e frutas também! São categorizadas pelas estações do ano e também por jardim, árvores, alfabeto e “wayside”. Não sei como este último ficaria em português, mas acredito que ela se refere àquelas plantinhas silvestres que encontramos a beira da estrada, por exemplo.

flores silvestres que colhi para esta publicação ♡
para ver a ilustração completa clique aqui

Durante minhas caminhadas, tenho o costume de pegar flores silvestres que encontro, e também àquelas que são ornamentais e embelezam as ruas. Lembrei das ilustrações sobre estas plantas que encontramos facilmente, que insistem em crescerem naquelas brechinhas entre os paralelepípedos ou até mesmo que racham o asfalto. Levei um potinho com água para colocá-las e poderem durar por mais tempo. Agora elas estão deixando a minha mesa mais alegre!

Obrigada pela visita. ♡

O adubo serve para frutificar

As pequenas misérias” também têm seu valor.” – Cartas a Théo, Vincent van Gogh.

Existe no livro A Arte de Aproveitar as Próprias Faltas uma metáfora sobre o adubo, uma matéria proveniente das “pequenas misérias” de seres vivos pequeninos, ser de grande utilidade aos jardineiros e agricultores. É este adubo que fortalece e frutifica os jardins e, de maneira semelhante, ocorre o mesmo com as faltas que são cometidas durante toda a vida, sejam pecados graves, ou veniais, ou pequenas imperfeições.

De maneira alguma é insinuado que o pecado seja bom por si mesmo. Evidentemente que não o é. Porém o leitor é ensinado a se utilizar de algo tão abjeto, que são as faltas cometidas, sejam elas deliberadas ou não, para o seu progresso na vida espiritual. Este crescimento se dá de tais modos: se humilhando diante de Deus e clamando por Vossa misericórdia; não se perturbando ou admirando por ter caído; meditando sobre o Amor de Deus e a Sua benevolência; inclinando o coração a uma grande esperança.

Um dos problemas que podem surgir quando nos desesperamos é de nos avaliarmos em cada pequenez de nossos atos e pensamentos, digo por experiência própria. Ter entrado em contato com os escritos e direções que São Francisco de Sales fez às pessoas, trouxe grande alívio ao meu coração e acabei lembrando-me de várias coisas como algo que está no livro Eclesiástico. É dito o seguinte: “Não procures o que é elevado demais para ti; não procures penetrar o que está acima de ti. Mas pensa sempre no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número elevado demais de suas obras, pois não é preciso que vejas com teus olhos os seus segredos. – Eclesiástico, 3.

Bem, reflito que até mesmo a averiguação se permitimos ou não um pensamento intruso, por exemplo, são acontecimentos que não devemos procurar penetrar, pois é algo que está acima de nossas capacidades. Devemos sempre lembrar da infinita misericórdia de Nosso Senhor Jesus e caminharmos com confiança.

O livro foi de grande ajuda, mas considerei muito repetitivo em alguns momentos, o que me deixou um pouco desmotivada durante a leitura. Por outro lado, gostei muito de ter conhecido algumas histórias reais que não fazia idéia. Uma delas foi o que o Jesus disse a Irmã Benigna Consolata Ferrero. São palavras completamente consoladoras e as deixarei aqui para relembrá-las nos momentos que elas se tornarão um bálsamo.

“Não me deixo afastar pelas misérias, contanto que eu encontre boa vontade. Meu amor se alimenta consumindo misérias; a alma que me traz mais misérias, com tal que seu coração esteja contrito e humilhado, é a que mais me agrada, porque me fornece ocasião de cumprir mais plenamente o meu ofício de Salvador.”

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A mãe do Pequeno Urso

Quando eu era criança assistia sempre o desenho O Pequeno Urso e nunca havia observado como seus pais se comportavam. Gostava mesmo de acompanhar as aventuras do Urso e seus amigos!

Li algumas historinhas de O Pequeno Urso e observei que a Mamãe Urso é um bom exemplo de feminilidade e mãe. As histórias são What Will Little Bear Wear; Birthday Soup; Little Bear Goes to the Moon; Little Bear’s Wish e ao longo desse post irei fazer alguns comentários a respeito de algumas e deixar algumas frases de São Francisco de Sales que fui lembrando ao longo da leitura. Fiz algo semelhante em uma resenha sobre o Winnie the Pooh e a humildade. Se você ainda não leu e estiver interessado aqui está a publicação.

“Ora. pois, eis-vos no lar, e não há remédio. É preciso que sejais o que sois: mãe de famil!a, visto terdes um marido e filhos, e forçoso é que o sejais de boa vontade e com o amor de Deus, mas por amor de Deus.” – São Francisco de Sales.

What Will Little Bear Wear

Nesta história, o Pequeno Urso diz a sua mãe que ele está com frio. Então a Mamãe Urso lhe dá um chapéu. Isso irá se repetindo continuamente e a mãe do ursinho sempre dando alguma idumentária para que ele deixe de sentir tanto frio. Em nenhum momento a senhora ursa demonstra aborrecimento ou impaciência pelo seu filho voltar a ela interrompendo as suas atividades incansáveis vezes… A Mamãe Urso está preocupada em deixar o seu filho bem, protegido e confortável.

“Preparo-me para suportar com paciência a morte, que só me pode acontecer uma vez, e não me preparo para suportar as incomodidades que recebo dos humores daqueles com quem convivo e trato, ou as importunidades de espírito que o meu ofício me acarreta, que se apresentam cem vezes por dia; é isso que se torna impertelto.” – São Francisco de Sales.

Birthday Soup

É aniversário do Pequeno Urso e ele está um pouco triste, pois acredita que sua mãe esqueceu do dia em que ele nasceu. Porém isto não se torna motivo para ele ficar desanimado ao ponto de não fazer nada. Então ele decide cozinhar uma “sopa de aniversário” e seus amigos são todos convidados. Quando a festa está acontecendo, a Mamãe Urso aparece com um lindo bolo e diz ao seu filho que jamais se esqueceria do seu aniversário!

“Mantende-vos, pois, alegremente humilde perante Deus; mas conservai-vos igualmente alegre e humilde perante o mundo. Aceitai de bom grado que o mundo não lhe dê importância.” – São Francisco de Sales.

Little Bear Goes to the Moon

Considero essa história a mais engraçada. Olha só a cara dela quando o urso diz que vai para a lua haha. Bem, Pequeno Urso colocou na cabeça que irá para lá mesmo sua mãe lhe dizendo para não fazer esse tipo de brincadeira. Ele entra no mundo da imaginação fingindo que está mesmo fazendo uma viagem espacial e encontra uma casa com a mesa posta para o lanche e aparece sua mãe, esta por sua vez começa a entrar na brincadeira fingindo que aquele urso é uma criatura extraterrestre e o pobre urso começa a ficar desesperado falando “mãe, sou eu, o Pequeno Urso”.

Terminei a leitura com muita vontade de assistir mais uma vez o filme e os desenhos. Também observei as ilustrações do Maurice Sendak e ele fez um trabalho incrível!

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Um conto para o Natal

O Advento se aproxima e eu tenho a tradição de ler, assistir, cozinhar, entre outras atividades que me façam lembrar do Natal.

Há oito anos atrás eu estava em um sebo procurando algo do Tolkien para conhecer mais este autor, acabei levando O Silmarillion, que foi o segundo livro dele que li, e também encontrei uma edição bem antiga com palavras ainda acentuadas com circunflexo, do Hans Christian Andersen, era um dos volumes de uma coleção. E há um conto chamado “O Pinheiro” do qual senti vontade de escrever algumas palavrinhas a respeito.

Esta história é sobre um pinheiro de Natal. Ele é jovem e está muito ansioso para crescer e ser tão alto e brilhante quanto os demais pinheiros da floresta. Este jovem pinheirinho passa muito tempo reclamando que queria ser de um jeito, que gostaria de ter aquilo etc. Ele nunca está satisfeito ou grato com nada. O sol e a brisa do vento o aconselham a se algrar por sua juventude e pelas graças que possui. Mas não adianta, ele continua se queixando.

O que ele mais se queixa é da lebre que sempre salta por cima dele. Parece que o Pinheiro se sente humilhado porque uma lebre consegue pular ao ponto de ficar maior que ele. O pinheirinho parece sentir inveja também dos demais porque para ele, todos são melhores que ele de algum modo. Os dias vão passando e ele vai crescendo, porém ainda não é o bastante. A queixa é algo muito recorrente em sua vida.

Até que um dia, uma família se surpreende com a sua beleza e resolve levá-lo para casa. O pinheirinho fica muito animado, imaginando que receberá algum tipo de glória. De fato, ele recebe, pois se tornou a árvore de Natal daquele lar. Velas, nozes, presentes, luzes e tudo mais o enfeitavam e ele se sentia maravilhado com tudo aquilo. As crianças brincavam ao se redor e ele ouvia as histórias que os mais velhos contavam.

O Natal passou e o Pinheiro foi deixado de lado e jogado num aposento da casa que é onde se colocam coisas que não são usadas. O Pinheirinho ficou desolado e passou a refletir no quanto ele era feliz lá na floresta, mesmo sendo pequenino. Ele percebeu como foi tolo por ter se queixado tanto, que a sua vida era tão alegre, mesmo com problemas tão insignificantes.

Este conto me fez pensar sobre a finitude da vida e como é uma atitude boba viver reclamando de tudo da nossa vida. Sobre a glória desse mundo que é passageira, e um dia podemos estar cheios de luzes e nozes, e no outro dentro de um sotão escuro sem nenhum amigo porque perdemos a nossa beleza.

Que o Menino Jesus conceda a graça de termos um coração sempre grato, independente das circunstâncias que nos encontrarmos e também almejarmos a glória do Céu e não das coisas temporais.

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A amizade de Charlotte

A Teia de Charlotte é uma literatura infantil escrita pelo autor Elwyn Brooks White. Esta leitura é bastante simples, mas não significa que não há uma grande profundidade na narrativa. Resolvi adquirir uma edição no original para ter mais contato com este idioma estrangeiro e por se tratar de um livro que já conhecia a história não tive dificuldades em lê-lo.

O livro narra a história de um porquinho chamado Wilbur, ele é o mais frágil e pequenino da ninhada. Por este motivo, o dono da fazenda, pai da garotinha Fern, decide sacrificá-lo. Fern ao saber disso, não mede esforços para salvar a vida de Wilbur. A menina argumenta que ela também nasceu pequenina e frágil e por isto, o porquinho também mercecia viver. O pai diz que há uma diferença enorme entre uma garotinha e um porco. É a partir deste momento que tentarei expressar algumas reflexões que surgiram em minha mente durante a leitura desta cena. Concordo com o pai da Fern, pois um ser humano possui muito mais dignidade que um animal, mas isto não significa que temos um “passe-livre” para maltratá-los sem nenhum motivo justo, por exemplo, a alimentação.

Fern promete ao pai que irá cuidar do porquinho, o nomeia de Wilbur e então o senhor pai permite que a menina cuide dele. O tempo passa e Wilbur fica grande demais para ser mantido dentro de uma casa. O pai da Fern decide vendê-lo aos tios da garota. Wilbur então é transportado para a fazenda e lá conhece a gansa, os carneiros, o rato Templeton e a aranha Charlotte! Nos primeiros momentos, Wilbur não consegue se adaptar muito bem, pois ele ansiava por um amigo para brincar, e nenhum animal que havia lá poderia ou não queria oferecer isto. Até que uma voz desconhecida lhe diz que será sua amiga. O porquinho fica extremamente feliz, mas não consegue ver a dona daquela voz. Charlotte lhe diz para ir dormir que no dia seguinte ele iria vê-la. Deste momento em diante é construído (ou tecido) uma linda amizade.

Neste momento fiquei refletindo que, geralmente, as crianças são ótimas fazedoras de amigos. Pelo menos algumas são porque quando eu era criança (e até hoje) não conseguia me ligar muito fácil aos outros que me eram estranhos. Entretanto, uma vez que eu esteja ligada espiritualmente a alguém, é um laço pelo qual eu me esforço para manter. O que me remete a pensar sobre a simplicidade e quando agimos de tal maneira, é gerado um efeito muito simples também. A Charlotte disse ao Wilbur que seria sua amiga da maneira mais prática. Não houve grandes complicações ou algum critério. Ela somente ofereceu a sua amizade.

Algo que notei e considero muito lindo nesta amizade é que a Charlotte foi dando mais sagacidade ao Wilbur. O porquinho é muito ingênuo sobre como realmente a vida é. Quando uma mosca cai na teia da aranha e a mesma suga o sangue deste inseto (o sangue dos insetos é chamado de hemolinfa), o Wilbur acha uma tremenda crueldade, e sua amiga lhe explica que isto é o seu café da manhã, e então Wilbur lhe pede para que não lhe conte mais todas estas crueldades. E a Charlotte replica: “mas é a verdade e eu tenho que dizê-la.” Ela tenta mostrar ao porquinho como são as coisas e que por mais duras que possam parecer, a verdade não deve ser negligenciada só para satisfazer os sentimentos de alguém.

Isto lembra-me a definição de amizade de Aristóteles, que foi descrita em três categorias distintas: 01) a amizade baseada na utilidade ou interesse, 02) a amizade baseada no prazer, e 03) a amizade baseada na virtude. Neste primeiro diálogo entre estas duas personagens já dá para perceber que a Charlotte não faz parte de modo algum do tipo 02, porque ela disse a verdade. Ela preferiu “correr o risco” de provevelmente o Wilbur não simpatizar muito com ela, do que se manter no prazer de ser bem vista ou aceita por parte do outro, ou quem quer que seja. Mas vale ressaltar, que ela expressou a verdade de uma maneira simples e caridosa.

O verão chega e conhecemos mais a fundo uma outra personagem que merece ganhar a atenção do leitor, o rato Templeton. Ele é uma criatura que está apenas interessada em seus próprios assuntos. Ele só pensa em comida e em espiar, ele se une aos outros animais da fazenda somente se ele percebe que obterá algum tipo de vantagem. Claramente o Templeton faz parte da categoria 01 que o Aristóteles disse, a amizade interesseira, esta é baseada completamente no egoísmo.

Ainda durante o verão, o Wilbur descobre que está sendo mantido ali porque os donos da fazenda pretendem comê-lo no Natal. O porquinho fica desesperado, ele chora porque quer conhecer a neve! Então a sua amiga Charlotte lhe promete que irá tentar salvar a sua vida, ainda sem saber como, mas garante que não medirá esforços para alcançar tal objetivo. Então ela passa vários dias pensando, a mesma diz que prefere ficar sozinha porque ela pensa melhor quando está sozinha… Até que em uma manhã ocorre um milagre, há algo escrito na teia de Charlotte: “Some Pig”. Algo que pode ser em português como “um porco e tanto” ou “que porco!”. O fenômeno chamou atenção da cidade inteira. Mesmo a Charlotte sendo tão pequenina e sem a menor chance de encontrar uma solução através da força, utilizou sua inteligência para o bem de seu querido amigo.

Somente este evento não foi o suficiente para que os fazendeiros desistissem de matar Wilbur, a frase acabou não sendo interpretada como a Charlotte esperava, pois ficou parecendo que “um porco e tanto” corroborou ainda mais para ele se tornar um bacon. A amiga aranha não desistiu e continuou trabalhando e pensando no que poderia escrever em sua teia. Ela resolve pedir a ajuda de Templeton, e este, como é de se esperar, só concordou em ajudar porque recebeu algumas recompensas, como o ovo da gansa que não saiu nenhum gansinho.

Eis que a época da grande Feira da cidade vem chegando e Wilbur consegue o destaque de concorrer com outros porcos por causa das famosas palavras sobre ele na teia. A Charlotte neste momento está passando por uma situação delicada, assim pode-se dizer. Ela reluta um pouco se vai com o seu amigo ou não, e penso que é a partir deste momento que é saltado aos olhos o valor de uma amizade verdadeira. A Charlotte está o tempo todo pensando no bem estar do outro e isto é uma aprova de sua fidelidade para com o Wilbur. Aqui gostaria de mencionar que esta personagem é um exemplo do que Aristóteles disse sobre o tipo 03 de amizade: aquela baseada na virtude. E quais são as virtudes que eu consigo observar na Charlotte? Caridade, paciência, abnegação, magnanimidade, perseverança e um grande espírito de sacrifício. A Charlotte acompanha o seu amigo, pois sabe que ainda há muito o que fazer, as outras palavras ainda não foram o suficiente para salvar a vida do porquinho. Até que ela encontra a palavra perfeita: Humilde.

Uma das cenas mais belas e que eu chorei ao ler (e também quando assisto ao filme), é quando o Wilbur pergunta a Charlotte: Por que você fez tudo isso por mim? E a aranha responde: Você tem sido o meu amigo, e isso em si é uma coisa tremenda. A Charlotte é muito maravilhosa! Acredito que esta pequena passagem da história consegue resumir o que motivou a Charlotte ser tão abnegada de si mesma.

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Winnie-the-Pooh e a humildade

A humildade “é uma virtude que pertence a virtude cardial da temperança e tem por fim moderar as nossas loucas aspiraçõs de grandeza. – A Humildade, Pe. Ascânio Brandão.

A humildade regula as tendências da alma quando deseja se elevar acima dos limites da própria natureza e da graça de Deus. É também um ato de inteligência, pois é reconhecer a própria pequenez e a grandeza de Deus e, que tudo que somos ou possuímos, devemos ao nosso Criador.

Descrevo o livro Winnie-the-Pooh, do escritor A. A. Milne, como um livro recheado de pureza e que me arranca sorrisos facilmente.

O famoso Pooh, um ursinho simples e inocente que vive no Bosque dos Cem Acres me faz lembrar bastante das virtudes da humildade e simplicidade. E eu decidi escrever um pouquinho unindo coisas que amo: literatura, ilustrações, virtudes e tudo o mais.

Em um mundo com tantas pessoas grandes que estão muito atarefadas em parecerem alguma coisa, uma delas é o quanto são inteligentes, gosto de volver o meu olhar a esta figura tão simplória quanto um urso que ama balões vermelhos. Até os seus gostos são singelos!

O próprio Pooh se descreve como “Eu sou um urso com muito pouco cérebro, e longas palavras me incomodam”. Não é uma autopiedade ou uma depreciação de si mesmo. Ele diz com tanta sinceridade e paz de espírito que é impossível não esboçar um sorriso com tamanha simplicidade. Este personagem lembra-me bastante o meu querido e amado São Francisco de Sales que está sempre me fazendo lembrar de coisas importantes. O Santo disse que “no falar, a simplicidade se manisfeta pela franqueza.” Bem, o Pooh é muito franco sobre si mesmo.

Outra frase, do santo de Sales, que fez-me lembrar: “As palavras de desprezo de si, se não saem de uma grande cordialidade e de um espírito extremamente persuadido da verdade de sua própria miséria, são a flor da mais fina de todas as vaidades: porque raramente acontece que aquele que as profere acredite nelas, ou deseje efetivamente que aqueles a quem se dizem as acreditarem.”

Dá para notar que o Pooh não é triste por ser desta maneira, pelo contrário, este personagem transmite muita leveza, execeto quando se enche de mel (risos).

Algo bastante peculiar sobre ele é que, mesmo sendo considerado um urso de pouco cérebro, ele é capaz de uma tremenda perspicácia. Por exemplo, quando ele vai até a toca do Coelho e pergunta se há alguém ali e o Coelho responde “Ninguém”, o Pooh logo pensa consigo mesmo “Deve haver alguém lá, porque alguém deve ter dito ‘Ninguém'”.

“Um pouco de consideração, um pouco de pensamento pelos outros, faz toda a diferença.” – Winnie-the-Pooh.

Minha conclusão é de que o Pooh reflete um pouquinho esta virtude. São Francisco de Sales diz que um dos aspectos da humildade é não falar de si mesmo se exaltando ou se humilhando. O Pooh não faz nenhum dos dois, ele é muito honesto e satisfeito consigo mesmo, não existe a tristeza por ser pouco inteligente etc. Ele já possui uma grandeza: pureza de coração e bondade.

Obrigada pela visita. ♡