Um cervo e um robin no Bosque

Estava querendo mudar a imagem que adiciono no topo do blog há um bom tempo, finalmente comecei a fazer o desenho e o concluí! Infelizmente não tenho tantos registros do processo, mas posso contar como foi.

Desde o começo gostaria de adicionar elementos que representassem os meus gostos e personalidade. Bem, resolvi desenhar o meu animal favorito, o cervo (especialmente o filhote por causa das pintas brancas tão fofas!) e o pássaro robin, que é a minha espécie favorita de pássaro e queria tanto poder ver um pessoalmente. O cenário deveria lembrar um bosque, então veio um velho tronco, cogumelos, samambaias… Mas também desenhei algumas flores para alegrar a cena.

Quando estava desenhando o cervo, surgiu em minha mente para fazer uma referência a Santo Humberto, pois ele se converteu após ter visto a Cruz reluzente sobre a cabeça deste belo animal. Quem sabe algum dia eu me aventuro a fazer uma representação deste santo?!

No mais, acredito que faltou uma referência às leituras, pois eu tenho usado também o Bosque para comentar minhas singelas impressões dos livros que ando lendo, mas consegui pôr uma chave presa em um galho seco por causa do livro O Jardim Secreto. Acredito que o meu mundo interior é como um jardim secreto…

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O Vermelho e o Negro – Stendhal

“A violência de sua paixão causará sua ruína”

– Eclesiástico, 1.

Julien Sorel é o personagem principal do romance. Ele é descrito como um jovem introvertido, de aparência angelical, com aptidão para o intelecto e um grande admirador (secretamente) do Napoleão Bonaparte. Ele também é bastante ambicioso e está entre o dilema de seguir a carreira militar ou a eclesiástica. Mas não por sentir-se inclinado pela vocação, apenas pelo anseio de poder e status na sociedade burguesa da França e estes caminhos são os mais viáveis para as suas circunstâncias. Acredita-se que o título do livro seja devido a esta dúvida entre ser militar (uniforme vermelho) ou ser um padre (vestes pretas).

Sorel é um sujeito que acredita que os fins justificam os meios, portanto, não existe nenhum escrúpulo de sua parte e irá agir da maneira que bem lhe aprouver para conquistar seus objetivos, independente do que causará às pessoas ao seu redor. Ele pensa somente em si mesmo. Seu caráter é extremamente orgulhoso, ao ponto de não permitir que ninguém lhe faça sentir-se por baixo devido a sua posição social. Nestes momentos percebe-se que ele faz juízo temerário das pessoas, pois sempre pensa que elas querem “lhe passar a perna”. Para Sorel, todos são hipócritas, exceto ele mesmo.

Esta sua visão sobre a sociedade lhe torna uma pessoa bastante ressentida e vingativa. É estranho vê-lo tomar este rumo para sua vida porque grandes oportunidades nunca lhe faltaram, o padre que vê seu potencial e lhe ensina latim, o emprego de preceptor numa boa família, a estadia no seminário e o cargo de secretário de um grande político. Nada disso lhe foi o bastante pois suas paixões lhe falavam mais alto e sempre decidia cometer algo imoral.

O Professor José Monir Nasser comenta que o Julien é um homem que não conhece a si mesmo. São raros os momentos em que ele pausa para refletir sobre a sua vida interior. Um dos momentos em que ele faz isso é quando está no seminário, um local silencioso e propício a reflexão. Porém ele considera tudo aquilo um enorme tédio. O outro momento é quando está aguardando a sentença de morte e medita sobre assuntos profundos. Acredito que foi somente diante da morte que lhe ocorreu uma fagulha de sabedoria.

 

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

(I Coríntios, 13).

Apesar de ser muito inteligente, pois ele sabia a Bíblia toda em latim, não havia nada de bom e puro em seu coração. Esse tipo de situação me faz pensar que os livros não são tão responsáveis por nossas atitudes, porque a semente está em nosso coração. “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia.” (São Tiago, 1). É necessário lembrar que a maldade não é somente culpa do demônio, pois existe a concupiscência, e se ela não estiver dominada, não há maturidade para discernir o bem do mal, o falso do verdadeiro etc.  O coração do Sorel estava muito duro pelo ressentimento, precisaria de um milagre para reconstruí-lo. A sua inteligência não foi o bastante.

O livro lembrou-me um pouco Anna Kariênina (Tostltói), devido as várias dualidades inseridas na história e também acabei comparando um pouco o Sorel com o Raskólnikov (Crime e Castigo, Dostoiévski), pois ambos protagonistas são jovens, ambiciosos, pensam em Napoleão… Mas cada um teve um final distinto.

Como uma boa obra filha de sua época, o Romantismo, é recheado de trechos que evocam o sentimentalismo exarcebado e a fantasias malucas. Por exemplo, quando a Mathilde fica entusiasmada por quase ter sido assassinada pelo homem que amava (amiga?). São incontáveis exemplos.

É um bom livro clássico que merece outras leituras para captar tudo o que pode ser extraído dele. Não somente pelos temas como a política e a religião, mas principalmente por proporcionar ao leitor (assim ele permita) uma espécie de exame de consciência, tal qual o Dorian Gray quando viu sua alma na pintura. Espero que a nossa visão não seja tão assustadora, mas se o for, não sinta desespero porque existe a sublimidade da redenção de Jesus Cristo!

Deixarei para um outro momento refletir sobre as demais questões, pois ainda possuo um entendimento bem vago e raso sobre elas. De qualquer modo, considero que foi uma leitura bastante proveitosa.

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Vivarium

Tudo começou quando eu e meu marido decidimos fazer mais uma leitura em conjunto, decidimos ler “A Opção Beneditina” e eu sugeri que poderíamos adicionar algumas outras leituras para complementar esta, então começamos a ler primeiro a Regra Monástica de São Bento.

Um pensamento foi puxando outro, pois decidi pesquisar mais sobre os monges copistas, afinal, São Bento também foi um dos contribuintes para os mosteiros se tornarem um celeiro da cultura e educação. Outros santos, muito antes, também foram inspirações para este tipo de trabalho, como São Pacomius e São Jerônimo. Todo este momento da história, desde a transição do Império Romano para a Idade Média até o apogeu desta, levou-me ao primeiro mosteiro responsável pelo trabalho de copiar as obras clássicas, o Vivarium.

Este mosteiro foi fundado por Cassiodoro no ano 555 d.C. Este acontecimento marca o início dos mosteiros como centros de estudo e do trabalho dos copistas

No período de transição, o filosófo Boécio foi muito importante, devido ao seu trabalho de tradutor e comentarista, assim estabelecendo uma ponte entre a cultura antiga e a Idade Média. Ele é considerado o pai da escolástica por ter criado todas as bases da educação medieval.

Em seguida, é quando se dá o início ao Vivarium. Esta fundação marca o início dos mosteiros como centros de estudo e do trabalho dos copistas, pois os católicos estavam preocupados também com as obras clássicas que seriam perdidas devido as invasões bárbaras, pois estes povos destruiam absolutamente tudo o que viam pela frente, inclusive as bibliotecas. Cassiodoro percebeu algumas coisas fundamentais para a educação: a tranqüilidade (interior e exterior) e a elevação da alma para o estudo, esta última só podia ser em um mosteiro, devido a época em que se encontravam.

Com todos estes fatos, senti-me inspirada a nomear o fichário onde guardo minhas anotações de estudos e leituras, de Vivarium. Resolvi também adicionar algumas frases variadas que considero complementar a tudo o que venho guardando neste baú de papéis e letras.

Felizmente adicionei “A Consolação da Filosofia” para uma das leituras deste ano, e estou bem contente porque se encaixa perfeitamente ao assunto e espero aparecer aqui em breve falando um pouquinho sobre este livro do Boécio.

Jesus Cristo precisa de nosso espírito para sua obra como ele precisava, sobre a terra, de seu próprio espírito humano. Tendo ele partido, nós lhe damos continuidade, temos essa honra incomensurável. – Sertillanges.

Todas estas informações eu encontrei neste artigo, no final dele há as referências bibliográficas para quem quiser se aprofundar mais no assunto. Espero um dia poder ler alguns dos títulos que lá se encontram. Recomendo a leitura do artigo “The Influence of Cassiodorus on Mediaeval Culture” (Leslie W. Jones), se você tiver dificuldade em encontrar o artigo completo para ler, é só usar o SciHub para baixá-lo. Espero ter ajudado e até mais!

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Livros para 2023

Sempre fico animada para fazer lista de leituras com a aproximação de um novo ano. Escolhi doze livros para ler ao longo de 2023, se Deus quiser! O critério da escolha são livros que tenho aqui há um tempinho; ainda não foram lidos ou concluídos; e estou ansiosa para conhecê-los.

Gostaria de tecer uns breves comentários sobre cada um e o motivo do meu interesse. Vamos lá!

01. O Vermelho e o Negro, Stendhal.

Estou bem animada para esta leitura porque é literatura francesa e já faz alguns anos que tenho me aventurado pelo idioma francês, mas a minha edição é em português mesmo, acredito que ainda não tenho capacidade para ler no original um romance desta magnitude. Este livro faz parte do movimento literário chamado Romantismo, é uma época da cultura ao qual sinto interesse em compreender profundamente, a modernidade é muito influenciada por causa deste movimento. Então, para mim, a literatura é uma boa maneira de ajudar nos estudos de algum tema.

02. Arquipélago Gulag, Soljenítsyn.

Saindo da França e indo diretamente para a Rússia soviética… Bem, jamais teria escolhido este livro um tempo atrás porque eu sinto receio de ter conhecimento sobre fatos muito, muito tristes. Porém, sinto-me fortalecida para lê-lo. Além do mais, o comunismo também é um outro assunto que desperta o meu interesse. Escolhi alguns textos de apoio: as encíclicas Rerum Novarum, do Papa Leão XIII e Divini Redemptoris, do Papa Pio XI.

03. Sonetos, William Shakespeare.

Há anos não leio nenhum poema e é algo que sinto vontade de mudar, pois aprecio a poesia (embora meu conhecimento seja raso). Então tá mais do que na hora me deliciar com Sonetos. A minha edição é bilíngue, vai ser divertido apreciar o inglês antigo!

04. O diabo e outras histórias, Liev Tolstói.

A vontade de ler este livro aumentou bastante desde que eu vi um professor falar sobre alguns dilemas da nossa época, como o vazio existencial, doenças da mente e mencionou este livro. São temas que também despertam o meu interesse, e eu ainda não conheço o trabalho deste escritor quanto aos contos, mas tenho certeza que será muito proveitoso porque o Tolstói escreve de maneira magistral e sou apaixonada em como ele descreve o ambiente e o psicológico dos personagens.

05 e 06. Os 77 Melhores Contos, Hans Christian Andersen.

Esse aqui é meu grande amorzinho! Sinto um apreço enorme pelos contos de fada de modo geral (existe alguns que eu não gosto), e o Andersen é o autor de vários contos que tenho como favoritos: O Pinheiro de Natal, O Patinho Feio, A Roupa Nova do Imperador… Os contos de fadas não são apenas historinhas bobas para crianças. Eles são ricos e profundos, nos oferecem um banquete de filosofia, psicologia humana, moral, simbolismo e em algo que muitas pessoas atuais andam perdendo: senso de realidade.

07. Utopia, São Thomas More.

A única coisa que sei a respeito é que se trata de como seria uma sociedade cristã perfeita e que ele aparece no filme Para Sempre Cinderela (uma vez gravei este filme num VHS para assistir quando eu quisesse haha). Eu me interessei muito mais pelo Thomas More após ter assistido ao filme O Homem que não Vendeu sua Alma. Além do fato dele não ter negado a fé por causa dos caprichos de um adúltero, algo que chamou minha atenção foi quando ele estava na prisão e foi tão resiliente e só fez questão de poder ter acesso a biblioteca. Muito inspirador! Se Deus quiser, irei ler suas obras espirituais algum dia.

08. A Boa Educação, Tihamer Toth.

O Pe. Tihamer Toth ajuda o leitor a como se comportar em determinados ambientes, com determinadas pessoas, com a carreira que escolheu seguir e assim por diante. Ele nos conta que Deus nos acumulou com incontáveis bençãos e graças e o que será que estamos fazendo com elas? Será se somos um jovem bem educado? Um homem honesto e virtuoso? O livro é mais voltado para os rapazes e homens, mas como a educação é outro assunto que gosto (eu gosto de muita coisa, como podem perceber haha), resolvi adquirir o livro.

09. Categorias, Aristóteles.

Finalmente darei início a algo que venho postergando há tempos: conhecer Aristóteles. Eu pesquisei algumas ordens de leituras para iniciantes e escolhi Categorias porque tem tudo a ver com a minha graduação e ao fato de que amo organizar minhas coisas em categorias e ainda há o fato do Aristóteles ter elogiado o meu temperamento, então ele me elogiou (indiretamente, mas elogiou) e já o considero um amigão. Mortimer Adler diz no livro ‘Aristóteles para Todos’ que algumas pessoas podem desconsiderar o trabalho do filósofo só por ele ter sido da antiguidade e que seria melhor aprender sobre o mundo com a ciência moderna. Bem, foi exatamente isto o que aconteceu quando estava na graduação. Lembro de uma aula de botânica que Aristóteles foi visto como algo ultrapassado e que não deveríamos nos atentar a ele. Foi citado apenas em uma frase e partimos para o tal do conhecimento moderno (por que as pessoas acham que moderno é necessariamente sempre o melhor?).

10. A Consolação da Filosofia, Boécio.

Iniciei ano retrasado, mas não concluí. Então preciso reiniciar e apreciar cada detalhe porque o pouco que li já me senti completamente maravilhada! Acredito que será uma das melhores leituras da vida. O fato do Boécio ter escrito algo tão sublime estando na prisão e ter sido condenado a morte é de uma grande inspiração! Consigo sentir que muitas vezes permito a tristeza entrar por motivos tão fúteis e considero necessário estar por perto de algo desta magnitude para elevar o espírito sempre a Deus.

11. Don Camilo e Seu Pequeno Mundo, Giovanni Guareschi.

Quando penso em Don Camilo eu começo a sorrir, simplesmente é o personagem mais engraçado e sincero que já conheci. Também iniciei esta leitura e não concluí. Admiro muito a relação que ele tem com Nosso Senhor Jesus, ele sempre fala o que pensa diante dEle, mesmo sendo coisas nada boas. E o Senhor Jesus sempre lhe corrige com amor e paciência. Uma coisa interessante sobre a obra é que Don Camilo vive em pé de guerra com um comunista da cidade, porém esse comunista parece que ainda não está completamente envenenado pela ideologia, pois ainda se importa com as coisas de Deus.

12. Roverando, J. R. R. Tolkien.

Por fim, escolhi algo completamente fofinho do meu querido Tolkien! Roverando é dedicado ao Michael, seu filho. Foi o modo que o autor decidiu para consolar o pequeno que esta extremamente triste por ter perdido seu cachorrinho de brinquedo durante as férias na praia. É muito bom ver esse lado paternal espelhado na literatura.

Espero que vocês tenham um abençoado ano novo!! Até mais!

 

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Anna Kariênina, natureza e a Lei Natural

Eles saberão, enfim, que todos os bens da natureza, todos os tesouros da graça, pertencem em comum e indistintamente a todo o género humano e que só os indignos é que são deserdados dos bens celestes“- Papa Leão XIII, “Rerum Novarum”, 15 de maio de 1891.

No início da primavera comecei a reler Anna Kariênina, a primeira vez que li foi no começo desse ano, mas resolvi ler mais uma vez em um intervalo de tempo tão curto porque minha amiga me convidou para fazer uma leitura conjunta.

Desta vez eu me atentei bastante às questões filosóficas que o Tolstói personificou no romance, foquei mais no naturalismo e no pensamento transcedental por causa do meu personagem favorito, o Liévin. E também por já ter tido contato com o Thoreau há uns anos e acabei sabendo que ele foi uma forte influência para o escritor. Então me sinto um pouquinho segura para escrever sobre o que se passou na minha mente durante a leitura. E o Thoreau foi influenciado por Ralph Waldo Emerson, autor do tratado filosófico chamado de “Natureza”.

Em Walden, o Henry David Thoreau, descreve a sua vida no bosque, desde as descrições econômicas e da natureza até as suas reflexões mais íntimas e espirituais. Portanto, além de ser um relato autobiográfico, é também um tratado filosófico. Enquanto em Natureza, o Emerson expressa inúmeras reflexões espirituais sobre a natureza, os bens materiais, beleza, linguagem, disciplina, idealismo, etc.  Considero importante dar uma pequena introdução sobre estes escritores pelo fato de serem influências do Tolstói, direta ou indiretamente, pois no romance há a dualidade da vida aristocrática na cidade e a vida simples no campo.

Thoreau ensina a verdadeira revolução, a única que vale a pena e que não derrama sangue: essa que permite mudar a ordem do mundo, mudando-se e convidando os outros a mudar“, texto, publicado por La Nación, 04-08-2019.

É sabido que Liévin é o alter-ego do Tolstói. Este personagem se sente muito desajustado na vida urbana da aristocracia. Ele prefere cuidar da sua propriedade rural, caçar, lidar com o nascimento de um bezerro, escrever um livro sobre agricultura, não se incomoda com sua própria companhia e medita sobre a questão dos mujiques (os camponeses da Rússia) e essas séries de acontecimentos que só existem em um lugar cercado por natureza.

Trecho de Walden, ou a Vida nos Bosques. Ele lembra-me muito o Liévin.

No decorrer do romance, vamos percebendo que a vida no campo é demonstrada como um ideal, enquanto a vida burguesa russa é apresentada com muitas futilidades. Em Walden, Thoreau propõe o que ele chama de uma “medicina eupéptica”, uma medicina para produzir o bem, e para distanciar a maldade. E essa mudança está intimamente relacionada com o convívio do homem com a natureza. Provavelmente é desta reflexão que o Tolstói se influencia e a põem no seu personagem, o qual representa tal ideal.

Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento“. – Gênesis, Capítulo 1, versículo 29.

Tolstói escreve em seu diário que se sente sufocado no mundo social, e por isso, prefere ficar sozinho no campo. É esse afastamento que o faz observar o outro lado da vida, onde há a ganância por poder, riquezas, traições e falsas aparências. E Thoreau reflete sobre os vícios da sociedade de sua época: a cobiça, comprar, possuir, consumir, substituir. Para ele, e também para o Tolstói, é também uma vida falsa com os outros: uma vida reduzida à superfície, às aparências, à mundanidade, aos salões, festas.

No romance, podemos perceber estas questões filosóficas nos personagens principais e secundários: na vida aristocrática russa existe muita falsidade e divertimentos medíocres, onde as pessoas se reunem para conversar sobre a vida dos outros e discutir sobre assuntos profundos de maneira rasa ou com viés moderno.

A maioria dos personagens da burguesia urbana estão muito longe de representarem um exemplo a ser seguido. Enquanto do outro lado temos o Liévin e a Kitty, ambos aristocráticos, mas que vivem no campo (Kitty passa a viver no campo após o casamento). Eles não são a personificação da perfeição sublime como o Alexei Karamázov, do romance Os Irmãos Karamázov, do escritor Dostoiévski (não consigo evitar comparações), mas é possível notar o desejo de se tornarem melhores e como eles vão amadurecendo ao longo da narrativa. Algumas virtudes notadas nesta atmosfera: o trabalho, o casamento fiel, e a busca por Deus.

Todas as coisas são morais, e em suas ilimitadas mudanças fazem incessante referência à natureza espiritual. Assim foi glorificada a natureza em suas formas, cores e movimentos, para que todos os planetas dos céus mais remotos, todas as transformações químicas desde o cristal mais rude até as leis mesmas da vida, todos as transformações vegetais desde o início do crescimento de uma folha até as selvas tropicais e as antediluvianas minas de carvão, todas as funções animais – desde a esponja até Hércules – sussurrem ao homem ou lhe gritem com voz de trovão as leis do bem e do mal, e façam eco dos Dez Mandamentos.” – Natureza, Ralph Waldo Emerson.

Anna e o seu amante Vrónski não representam o ideal de amor proposto por Tolstói, que é o da simplicidade natural, estes não podem escapar do destino que ocorre para aqueles que se desviam das leis naturais e divinas. Portanto, não é a suposta rejeição de Vrónski que leva Anna à ruína; mas, sim, as suas escolhas egoístas e a culpa que a domina em seu íntimo, até tomá-la por inteira. Culpa que a arrasta em uma correnteza invencível até a loucura. Mas parece que o Karienin também não corresponde a este ideal porque este casamento ocorreu por conveniência, interesses…

“O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja adequada.” – Gênesis, Capítulo 2, versículo 18.

Kitty e Liévin representam o ideal proposto pelo escritor. No começo do livro, a Kitty era apaixonada e iludida pelo Vrónski e muito contagiada pelos ares sensuais da civilização urbana. Vrónski não tinha pretensão nenhuma de casar-se com ela e após esta tremenda desilusão, ela acaba ficando doente e conhece uma moça muito devota, a qual a faz despertar para uma nova vida. Esta mudança será mais notória após o casamento, pois ela se revela uma mulher determinada, forte, fiel, submissa e uma boa companheira.

Minha reflexão geral:

Para Tolstói, a vida no campo é um ideal de beleza e moral, pois se está longe da vida mundana dos ricos da cidade grande. A hipocrisia lhe causa mal estar, portanto ele se torna um crítico ferrenho da sociedade de sua época. O autor consegue expressar que as escolhas que cada personagem faz é o que determina o seu destino. Se alguém busca pela Verdade, com certeza encontrará a redenção. Mas ao escolher seguir as próprias vontades, o destino é outro, sempre vazio de sentido e trágico, de algum modo. O escritor nos mostra que um amor baseado na razão é muito mais suscetível a crescer, apesar daquelas dificuldades que são inevitáveis. Enquanto o amor que se assemelha mais a um furacão, destrói tudo ao redor, inclusive a si mesmo.

 

Obrigada pela visita! ♡

 

Uma Amizade Selvagem

Havia imaginado uma velhinha varrendo folhas, então enquanto pintava, resolvi incluir uma criaturinha, o esquilo.
Estava pensando nos velhinhos solitários que existem pelo mundo. Às vezes a vida pode não ser simples, mas acredito que pequenas coisas podem iluminar o nosso coração.

Espero que tenham gostado dessa história pequenininha e obrigada pela visita! ♡

Garden of Fairytale Animals, Capítulo I

“Suas mãozinhas aguarravam o máximo de gravetinhos e ela nem percebeu que havia um objeto singular entre aquele intricado.”

Há um bom tempo pensava em adquirir algum livro de colorir para me distrair um pouco e estimular a minha criatividade. Encontrei um que me encantou logo quando vi a capa, pois é repleto de coisas que amo: cervos, gatos, pássaros, plantas, abelhas, corgis… Enfim, são ilustrações que parecem saídas de um conto de fada mesmo!

Os desenhos são muito complexos, o que me fez ter ainda mais vontade de pintar. Acredito que gosto de coisas um tanto complicadas, é um tipo de desafio que não me importo de me propor a fazer. Além do mais, as ilustrações contam uma história. Há uma chave mágica muito antiga capaz de abrir um lugar peculiar, no qual existem lindas criaturas nas profundezas do bosque. A autora desse mundo mágico se chama Kanoko Egusa e há outros livros de colorir com suas ilustrações, porém são temas diferentes.

Para deixar mais organizado, cada ilustração receberá o nome de Capítulo, e conforme eu for concluindo, darei a numeração adequada. Portanto, essa primeira se chamará Capítulo I.

Neste primeiro capítulo imaginei o seguinte:

Em uma terra não tão distante, era final de inverno. O chão estava dourado com as folhas mortas do último outono e entre os galhos as airelas pincelavam de vermelho aqui e acolá. A primavera estava quase batendo na porta das estações, logo se via o canteiro das miósotis retornarem com seu azul celestial. Quando uma senhorinha pediu a sua neta para colher gravetos. Disse-lhe que seriam para fazer fogo e com ele aquecer o chá. A neta, enquanto caminhava pelo bosque, com seu olhar ora voltado para o chão, ora para o alto, avistou pequenos cogumelos e alguns amores-perfeitos que depositou em seus bolsos para presentear sua vovó. Quando de repente, um pássaro deu início ao espetáculo de sons, o seu canto era agudo e de início lhe deu um susto, mas logo viu se tratar de um pequenino robin. Voltou-se ao chão a colher os gravetos que não houvessem cogumelos, pois ela os adorava e não queria vê-los queimados. Suas mãozinhas aguarravam o máximo de gravetinhos e ela nem percebeu que havia um objeto singular entre aquele intricado. O robin piava cada vez mais alto e estridente, a menina passou a imaginar que ele estava lhe avisando sobre algo… Então um pequeno camundogo correu ligeiro para a sua toca, carregando um mirtilo. A menina sorriu com a cena e deu-se por satisfeita com a quantidade de gravetos. E resolveu voltar para casa.

Próximas imagens são alguns detalhes das pinturas. Uma pena eu ter esquecido de fotografar a ilustração antes de pintada. Prometo que farei isso com as demais e também criar uma pequenina história para elas, se assim a imaginação me presentear com asas.

Obrigada pela visita! ♡

Trevinhos

“Ela ama todas as coisas que crescem na terra; e guarda na mente todas as suas incontáveis formas, das árvores semelhantes a torres nas florestas primitivas ao musgo sobre as pedras ou aos seres pequenos e secretos que vivem no solo.” – O Silmarillion, J. R. R. Tolkien

Olá! Eu estou participando de um desafio fotográfico lá no meu instagram e eu acabo tirando muitas fotos e é difícil escolher somente uma (detesto ser indecisa). Então vou tentar postar aqui também e movimentar o Bosque que está um pouco abandonado…

Por causa da série Anéis de Poder, resolvi reler O Silmarillion. Assisti somente o primeiro episódio e não pretendo dar continuidade, apenas posso dizer que não há nada melhor do que se debruçar na leitura dos livros. Muito mais mágico e honesto!

Quanto ao desafio, o tema de hoje são flores ou folhagem do seu dia. Resolvi colher alguns trevinhos que há no quintal e tentar pintar uma aquarela deles.

As plantinhas miúdas são muito queridas por mim e tenho um apreço especial pelo trevo porque suas folhas são em forma de coração!

Sempre lembro de São Patrício que utilizou um trevo para explicar o mistésrio da Santíssima Trindade!




Obrigada pela visita! ♡

Tarde de inverno

Em meu último passeio fiz vários amigos e apreciei bastante uma época cheia de encantos. Era uma linda tarde de inverno, o céu oscilava entre nuvens carregadas de chuva e lindos raios intensos de sol, mas muito delicados em contato com o meu rosto. Quando observo a paisagem sob esta perspectiva, eu vejo a cor azul e quase posso tocá-la. Caminhar com este lindo presente de Deus é imensamente agradável. Como eu amo esta época do ano!

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Primeiro encontrei esta asa de borboleta no chão. Eis um dos motivos porque eu prefiro caminhar olhando para baixo ou um pouco para os lados… Mas de vez em quando é bom erguer a cabeça pois sempre há pássaros cantando no alto das árvores, embora alguns sejam dificéis de ver, são criaturas misteriosas.

No momento que as nuvens deram um pouco mais de espaço para o sol, um grande espetáculo de luz se formou sobre o orvalho nas plantas rasteiras. Eu estava tentando fotografar as rosas de uma propriedade e o cachorro dela estava eufórico por causa das cachorrinhas que estavam no caminho. Considerei tão lindo ele naquele campo orvalhado e iluminado que tive que registrar a cena.


Então, as cortinas deste ato se fecharam para iniciar o próximo: uma chuva forte. Mesmo parecendo um problema, não o vi desta maneira. Seria mais uma história de aventura para nossas memórias. Os pés cheios de barro, cães alvoroçados, um tempinho para parar e admirar a cachoeira que caía do céu, e quem sabe, pensar um pouco sobre a vida.

Foi durante a volta para casa que encontrei esta borboleta. Tive que ser muito rápida para não perder a chance. Geralmente tem que ser muito quietinha, ou fingir que se é, caso você seja uma pessoa serelepe, para se aproximar destas criaturas, o menor ruído de pés pisando em folhas ou um leve balanço de alguma planta, fazem elas voarem para longe. O que não é algo tão ruim porque dá para observar alguns outros detalhes de suas asas que só aparecem quando elas fazem o vôo

Aprendi nesta tarde que a alegria é mais uma vontade em ser alegre do que esperar que os dias sejam sempre ensolarados.

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Cicely Mary Barker

Olá! Esta publicação é um pouquinho sobre a vida da ilustradora Cicely, sua arte e o quanto ela me inspira quando decido desenhar. Há um tempo escrevi um pouco sobre a Beatrix Potter, se quiser ler é só clicar aqui.

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Cicely Mary Barker foi uma ilustradora inglesa que viveu entre os anos de 1895 e 1973, ela é bastante conhecida por uma série de ilustrações de fantasia representando fadas e flores. Seu interesse por pintura e desenho começou desde a infância. Nesta fase da vida, a Cicley possuía a saúde muito frágil e tinha crises epilépticas. Devido a tal circunstância, a sua família lhe deu educação domiciliar e a pequena passava o seu tempo livre desfrutando de livros ilustrados. Seu pai foi também um artista e lhe influenciou a se dedicar a pintura, deste modo, a pequena Barker ingressou, aos 13 anos, na Croydon School of Art para tomar aulas.



Com o falecimento de seu pai, Cicely utilizou o seu talento para ajudar a família, juntamente com a sua irmã mais velha, a Dorothy, que criou um jardim de infância em casa com o mesmo objetivo. As famosas fadinhas das flores são baseadas nestas crianças que frequentavam o jardim, adicionando fantasias nelas. Cicely escreveu no prefácio de Flower Fairies of the Wayside: “Então deixe-me dizer muito claramente, que eu desenhei todas as plantas e flores com muito cuidado, do real; e tudo o que eu disse sobre eles é tão verdadeiro quanto eu poderia fazer. Mas nunca vi uma fada; as fadas e tudo sobre elas são apenas “fingir”.”



Cicely foi uma cristã (anglicana) muito devota e fez outros trabalhos para expressar a sua fé. Entre eles está um livro em que trabalhou juntamente com sua irmã, chamado de A Little Book of Bible Stories, este foi escrito pela Dorothy. Um outro chamado The Children’s Book of Hymns, o qual possui as suas orações e cantos prediletos. Mas não foi somente isto, ela também pintou uma série de grandes obras para igrejas em todo o Reino Unido. Ela também fez painéis para a Igreja que frequentava em Croydon, a St. Andrew. Estas obras são pinturas a óleo representando os sete sacramentos e rolos batismais para a parede atrás da pia batismal. Uma de suas pinturas do Menino Jesus, The Darling of the World Has Come, foi comprada pela Rainha Mary.

fonte das imagens

Admiro bastante o trabalho da Cicely e eu sempre penso nela quando pretendo desenhar pessoas, porque seus desenhos possuem beleza e proporção. São coisas que pretendo alcançar no meu próprio trabalho, provavelmente levará algum tempo, mas graças a Deus acredito que poderei fazer isso por muitos e muitos anos. Há um tempo, resolvi começar a pôr em prática esse desejo observando como é o seu traço e quando se desenha, a única maneira de aprender é praticando! Só tentei não fazer tão indêntico, eis o motivo de ter mudado as roupas e retirado as asas.

Além das ilustrações, que é impossível alguém não se encantar, amo ler os poemas que acompanham cada espécie botânica. Sim, não são somente flores… Há árvores e frutas também! São categorizadas pelas estações do ano e também por jardim, árvores, alfabeto e “wayside”. Não sei como este último ficaria em português, mas acredito que ela se refere àquelas plantinhas silvestres que encontramos a beira da estrada, por exemplo.

flores silvestres que colhi para esta publicação ♡
para ver a ilustração completa clique aqui

Durante minhas caminhadas, tenho o costume de pegar flores silvestres que encontro, e também àquelas que são ornamentais e embelezam as ruas. Lembrei das ilustrações sobre estas plantas que encontramos facilmente, que insistem em crescerem naquelas brechinhas entre os paralelepípedos ou até mesmo que racham o asfalto. Levei um potinho com água para colocá-las e poderem durar por mais tempo. Agora elas estão deixando a minha mesa mais alegre!

Obrigada pela visita. ♡